Um presidente do campo

No dia primeiro de fevereiro de 2016, Marcio Ferrari assume a presidência do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Farroupilha para dar continuidade ao trabalho de lutar pelos direitos dos agricultores. Um produtor de uvas orgânicas defendendo as questões do campo

Claudia Iembo
ESPECIAL

A simplicidade é uma arte. Quem a segue, por opção ou por natureza, tem um modo muito tranquilo – e eficaz – de lidar com os desafios do dia a dia. Coloco-me no lugar da pessoa que está falando comigo para que eu possa entendê-la e ajudá-la. A frase é do próximo presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Farroupilha, Márcio Ferrari. Esta conduta permeará a gestão que começa em fevereiro, com duração de três anos.

Márcio é agricultor, legado do bisavô, e mantém a produção de uvas orgânicas como carro chefe de suas terras. Vive na Linha Alencastro, na propriedade que abriga sua esposa Rosemari e seus pais: senhor Dionísio e dona Izélia. Aprendeu com eles o cuidado com a natureza e com a família. Os pais idosos hoje recebem a atenção do filho zeloso.

Herdei de meu pai o interesse pela política, já que ele foi líder em nossa comunidade. Sempre tive interesse pelas discussões do nosso meio, assim como sempre participei delas. Entrei para o mundo sindical em 1988, quando fundamos o grupo de jovens do sindicato, na gestão do João Silvestrin. A vida sindical é essencialmente política, apesar de não ser partidária, analisa.

Formado em Administração de Empresas, Márcio atua como tesoureiro no Sindicato dos Trabalhadores Rurais desde 2010. Diz que não almejava a presidência, mas nunca descartou as oportunidades que bateram à sua porta. As coisas foram acontecendo e acredito que vou contribuir à frente da entidade, apesar de já estar fazendo isso nos últimos seis anos.

Questionado sobre a expectativa do trabalho, a simplicidade da resposta também resumiu a conversa. Não existem muitas novidades no âmbito do sindicalismo porque o fundamental é continuar a defesa dos direitos dos agricultores, principalmente dos associados, em questões relevantes como as previdenciárias, por exemplo. O agricultor tem direito à aposentadoria sim, ao auxílio doença e maternidade e tantos outros conquistados no passado, defende Márcio.

Ele ainda ressaltou a importância de buscar mais infraestrutura para o interior, mencionando a necessidade de estradas asfaltadas, do sinal de internet e celular, da nota fiscal eletrônica, da saúde. Seria ótimo se o poder municipal enxergasse o quanto pode ser bom investir em medidas preventivas para o pessoal do interior da nossa cidade, o que resultaria em menos gastos com a própria saúde! O trabalho de um agricultor é pesado, provoca dores pelo corpo e ainda há o uso intensivo de agrotóxicos, estimulado pelo próprio comércio, que gera muitas doenças. É preciso dar atenção a isso!, sinaliza o homem que conhece de perto tais dificuldades.

Exatamente por ser um homem do campo, o futuro presidente da entidade sabe bem como criar proximidade com seu público. Conta a seu favor, a característica de colocar-se no lugar do outro, como destacamos anteriormente. Muitas vezes as pessoas chegam ao sindicato sem saber o que precisam! Alguns têm dificuldade para se expressarem e aí entra o nosso trabalho de investigação para saber como podemos auxiliar. Identificar o problema é fácil, encontrar a solução leva mais tempo, resume.

Quando Márcio diz nosso trabalho, refere-se às ações da direção e da equipe do sindicato. Nada se faz sozinho. Somos em 18 pessoas que, juntas, pensam, debatem e colocam em prática o que for preciso em benefício do associado.

Ao que tudo indica, ele está preparado para assumir este novo papel, consciente sobre o trabalho que terá, assim como os desafios.

Para quem cresceu cultivando a simplicidade como meio de conquistar objetivos, os próximos três anos prometem ser gratificantes.