Quem sabe, ensina
Ele foi professor rural durante a vida. Mas este não foi seu único papel. Um dos fundadores do Sicredi,
Aristides Colombo está ativo profissionalmente e não esconde que sua maior riqueza é a família

Claudia Iembo
Especial
Fazer a diferença na vida das pessoas. Pela trajetória traçada por Aristides Colombo esta provavelmente tenha sido uma de suas grandes características, afinal, foi professor rural, é um dos associados fundadores do Sicredi, coordena a Pastoral Familiar da igreja matriz da cidade e ainda cuida da área comercial da Rádio Míriam. Energia de sobra aos 73 anos!
Outro traço que entrega o zelo com o próximo aparece na fala que o senhor Colombo utiliza: ele usa tudo no plural, esquecendo a primeira pessoa. Resultado da preocupação com o coletivo? Sempre, respondeu de forma direta.
Filho de uma família do campo, o terceiro de sete irmãos, teve – como ainda tem -a vida ligada à terra e às pessoas que vivem dela. Em 1977, como tinha produção de gado leiteiro, foi convidado a integrar o conselho administrativo da Cooperativa Santa Clara.
Sua proximidade com os agricultores e o conhecimento de suas dificuldades em relação ao crédito o levou a fazer parte de um grupo de 25 pessoas que acreditava na ideia do cooperativismo. Impulsionados por Agenor Dalcin, na época diretor administrativo financeiro da Cooperativa Santa Clara, fundaram, em 30 de outubro de 1985, a Cooperativa de Crédito Rural de Carlos Barbosa – CrediClara, hoje Sicredi Serrana. Senhor Colombo fez parte do primeiro conselho como diretor administrativo ao lado do diretor presidente Aldo Zílio e do diretor de crédito Delfino Cichelero.
Permanecemos por 10 anos dentro da Santa Clara, a mãe do Sicredi! Utilizamos suas instalações, seus equipamentos e até seus funcionários. Recebíamos o patrocínio em tudo! Em 1993 fomos visitar Argentina e Uruguai para conhecermos o sistema de crédito deles e foi aí que surgiu o Banco Sicredi. Em 1995 conseguimos nossa independência: fomos para nossa casa própria, segue contando os fatos na ordem cronológica.
Esta mudança, segundo ele, foi o fator determinante para o crescimento da cooperativa de crédito. O começo não foi fácil porque estavam todos receosos com a ideia do cooperativismo, uma vez que tínhamos exemplos não tão positivos vindos das cooperativas vitivinícolas que atravessavam dificuldades, mas fomos buscar estímulos em experiências bem sucedidas como as de Nova Petrópolis, Rolante, Encantado e Teotônia. Além disso, cada um de nós precisava desembolsar um alto valor econômico para o ingresso na atividade bancária. Ainda bem que nós acreditamos, enfatiza.
Por transitar bem entre os agricultores, senhor Colombo teve uma passagem, de 1995 a 1997, pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Farroupilha. Sua atuação rendeu-lhe vários convites para ingressar na política, mas ele manteve-se distante. Para agradar a alguns é preciso desagradar a outros, então optamos por trabalhos neutros, explica.
Neste mesmo período, senhor Colombo trabalhou para que o Sicredi fosse implantado também em Farroupilha. Paralelamente, conseguimos plano de saúde para os trabalhadores rurais e ele dura até hoje, orgulha-se.
Em 1997, já tínhamos cumprido a missão junto ao Sicredi, então nos afastamos, relata. O afastamento trouxe a ele a visão de uma grande lição aprendida por lá. Não podemos desperdiçar as oportunidades que aparecem em nossa vida. Elas surgem e precisamos fazer o que tem que ser feito! Aprendi isso com o Sicredi, afirma.
Esta frase nos fez questionar se ele ganhou dinheiro com a cooperativa. Excelente pergunta! Na época da fundação, o presidente Aldo Zílio fez uma conclamação para que todos os cargos fossem exercidos gratuitamente até que a cooperativa tivesse condições de remunerar os serviços prestados. Tivemos uma pequena retirada nos dois últimos anos apenas, mas não nos arrependemos de nada, diz sorrindo.
Hoje, cada associado fundador representa, segundo as contas do senhor Colombo, 3.440 novos associados! Prova que alimenta o slogan gente que coopera cresce.
O grupo que acreditou na cooperativa de crédito ainda se encontra para comentar o cotidiano. A amizade entre eles manteve-se, embora alguns fundadores já tenham falecido.
Além do Sicredi
O Sicredi foi um grande e significativo capítulo da história de vida do senhor Colombo. Mas outros importantes foram e ainda são escritos por ele.
Em 1964 casou-se com dona Odila, com quem tem quatro filhos – formados, como ressalta o entrevistado. Gilberto é pós-graduado em Administração de Empresas, Roberto é odontólogo, Maristela é psicóloga e Luciano é médico. Passamos por muitas dificuldades ao longo da vida! São 50 anos de casamento e o nosso maior investimento foi na formação dos filhos! Temos o maior orgulho da família que criamos.
Tanto é verdade que para um homem na idade do senhor Colombo não faltam riquezas a serem contabilizadas, mas ele foi rápido em ressaltar a família como seu bem maior. Não imaginávamos que chegaríamos até aqui: com esposa, quatro filhos, cinco netos e uma já está na faculdade! Que mais podemos esperar da vida? Essa é a nossa paz.
Aos 73 anos, senhor Colombo é ativo em seu trabalho na Rádio Míriam, onde está há 17 anos e com a Pastoral Familiar, da qual faz parte há 15 anos. Ainda faz academia duas vezes por semana para manter a saúde e claro a boa forma, como destaca brincando.
Passa seu tempo de lazer buscando informações de seu interesse na Internet. Está sempre em dia com as notícias da cidade que adotou como sua há 20 anos. Quando não está ao computador, está lidando com a terra em sua chácara na Linha Muller ou dirigindo para algum neto, na função que apelidou de vovô-taxi!
Agradecemos a Deus porque temos mais do que merecíamos! Temos paz de espírito conquistada pela realização de termos feito o que era para ser feito, no momento certo, por olharmos para trás e constatarmos os acertos e corrigirmos o que havia de errado. Faríamos tudo de novo, conclui, ensinando.
Quem foi professor nunca perde a majestade.
