ESPECIAL DIA DOS PAIS – “Só eu voltei para casa com a nossa filha”

O pastor Dionatan Fão passou, em dois dias, pela alegria da chegada da filha ao desespero de perder a esposa, falecida por complicações pós-parto

Claudia Iembo
claudia@ofarroupilha.com.br

Nem todas as histórias têm o desfecho almejado por nós. De um segundo para o outro, tudo pode mudar e exigir que a rota seja recalculada para que a viagem continue. Para homenagearmos a todos os pais neste Dia dos Pais, trazemos um relato que vai além do comum, como o do pastor Dionatan Fão, um homem de 36 anos que se viu diante da maior missão da vida: criar duas filhas sozinho, após a morte repentina da esposa, dois dias depois do nascimento da caçula.

Tudo parecia perfeito no início de outubro de 2024. Dionatan e Fernanda Ronsoni, casados há quase uma década, celebravam a chegada da segunda filha, Lara. Eles haviam escolhido Farroupilha para esse novo capítulo de suas vidas. “Uma cidade segura, acolhedora, perfeita para criar filhos. Por isso decidimos ter nossa filha ali”, conta Dionatan.

]Segundo ele, a gestação foi tranquila, apesar dos inchaços e desconfortos. A mãe queria parto normal, mas a espera se prolongou por dias até que a cesariana foi indicada. Lara nasceu no dia 6 de outubro, às 16h52. “Acompanhei o parto ao lado de Fernanda. Ela amamentou nossa filha ainda na sala de recuperação. Estava tudo bem. Até não estar mais”, relembra.

Minutos depois, Fernanda começou a ter um sangramento grave e Dionatan precisou sair da sala com a recém-nascida. “Ali começava a maior luta da nossa vida: conter uma hemorragia que não cessava. Sentei no corredor, com a minha filha nos braços, esperando que alguém viesse me dar uma notícia, mas só via as enfermeiras indo e vindo”, conta, voltando àquele dia.

  • Fernanda foi levada às pressas para cirurgia. Ficou dois dias na UTI, mas não resistiu. A causa: choque circulatório, pós-operatório de histerectomia, choque hemorrágico, atonia uterina. Ela tinha apenas 31 anos.

“Foi como perder o chão. Da espera mais linda da nossa vida, que é o nascimento de um filho, ao maior pesadelo! Fiquei em choque, nos chamaram na madrugada do dia 08/10 para dar a notícia para mim e para a minha sogra. Eu não acreditei que havia perdido o amor da minha vida daquela forma e justo naquele momento mais aguardado e sonhado por ela. Ela havia preparado tudo para a chegada da Lara, deixou o quarto pronto para vir com ela para casa, mas só eu voltei para casa com a nossa filha”, conta o pai.

A perda da esposa abalou profundamente Dionatan. “Sou pastor, mas também sou ser humano. Ninguém está preparado para isso. Não existe uma regra para viver o luto, não existe um caminho reto para seguir ”.
Mesmo devastado, ele sabia que precisava agir. A filha mais velha, Sara Fão, de oito anos, tem síndrome de Down. Amorosa, cheia de vida, ela também precisava do pai, mais do que nunca. Foi então que Dionatan tomou uma decisão difícil: deixar Farroupilha e retornar a São Leopoldo, para estar perto da família.

  • “Eu precisava de rede de apoio. Sozinho com duas crianças, não teria condições. Meus pais têm sido fundamentais.”

Hoje, Lara tem 10 meses. E mesmo ainda em processo de cura, Dionatan compartilha aprendizados valiosos sobre a paternidade: “Ser pai é se entregar. É abrir mão de si. Não existe bem maior do que a nossa família. Aprendi a dar valor à vida, a cuidar e ter um tempo de qualidade com as minhas filhas porque simplesmente não sabemos o dia de amanhã”.

Apesar de toda dor, ele segue sua missão. Dionatan se mantém firme apoiado pela fé, pela família e por sua comunidade pastoral, inclusive de igrejas de Farroupilha, às quais ele agradece. “Muitos dizem que sou forte, mas minha força vem de Deus. Pedi muito para Ele me sustentar e assim ele tem feito até hoje! Ele usou e tem usado pessoas para demonstrar o cuidado Dele comigo e com minhas filhas. Se não fosse Deus, eu não teria conseguido”, diz.

Neste Dia dos Pais, o pai da Sara e da Lara deixa uma mensagem para aqueles que enfrentam dores profundas: “Você não está sozinho. Por mais que pareça o fim, não é. Perder uma esposa, a mãe dos seus filhos, desestabiliza todas as nossas estruturas, mas Deus continua sendo maior do que a dor e com Ele temos condições de seguir, mesmo ferido. Ele nunca nos abandona, se olharmos sempre para Jesus, Ele sempre nos manterá de pé”, finaliza.

As meninas crescem com o olhar cuidadoso do pai