Um mundo de bárbaros

O radicalismo das redes sociais é uma obviedade. Mas ao contrário do que muitos defendem, considero o conteúdo destas plataformas

O radicalismo das redes sociais é uma obviedade. Mas ao contrário do que muitos defendem, considero o conteúdo destas plataformas a reprodução do que se observa no cotidiano. A falta de educação é gritante. A ausência dos mínimos gestos de respeito salta aos olhos. “Ser humano” é, quase sempre, apenas uma força de expressão.
Todo pai ou mãe conhece a histórias das “palavrinhas mágicas”. Trata-se do resumo da importância do uso de expressões como “bom dia”, “até logo”, por favor”, “desculpe”, “até logo”. E isto precisa ser ensinado na mais tenra idade para forjar cidadãos civilizados.
O mais incrível é que a falta de compostura social é reflexo do comportamento dos adultos. Como se sabe, o exemplo é sempre o melhor conselheiro. De nada adianta falar, citar casos de desequilíbrio emocional e não ser cortes no trato social.
Desde piá aprendi a importância da ser educado. Não apenas por cortesia, mas porque toda pessoa educada é diferenciada e orgulha seus pais. Noto isso no meu dia a dia. Costumo dar lugar na hora de sair do elevador, deixo idosas e mulher passarem à frente na filha do supermercado ou na hora de entrar na lotação e cedo lugar quando não há poltronas disponíveis.
A reação das pessoas é incrível. Uma senhora, por volta dos 70 anos, estendeu a mão para me cumprimentar ao ceder lugar na fila da farmácia:
– Meu filho… meus parabéns! Tu deve ter orgulho dos teus pais por te ensinar a respeitar os mais velhos. Isto é tão raro de acontecer que precisei perguntar duas vezes para ti se tinha ouvido direito!
Fiquei muito orgulhoso pelos meus falecidos pais. Mas ao mesmo tempo senti revolta pela ausência de um mínimo de urbanidade no dia a dia. Moro numa metrópole – Porto Alegre – nem tão grande. São cerca de 1,4 milhão de habitantes onde a má educação é regra, a exemplo de outras cidades. A irritação das pessoas é gritante. Prova disso é a revolta explícita das pessoas, numa fila, quando deixo alguém passar à frente.
A falta de paciência progride para conflitos e agressões e até crimes nos casos mais graves, como nas brigas entre vizinhos ou no trânsito. A cultura da paz, vista como utópica, deveria permear o currículo escolar desde o Ensino Fundamental. As dificuldades neste Brasil em crise, rachado ideologicamente e rapinado por anos de roubo institucionalizado não podem perdurar. Votar bem e dar o bom exemplo se impõe, sob pena de forjarmos gerações de obcecados pelo poder, bens materiais e sucesso a qualquer custo.
A postagem reiterada de imagens que valorizam a ostentação, o exibicionismo, o consumismo e o individualismo são combustível para comprometer a educação indispensável na convivência social. Vivemos uma guerra não declarada, mas não podemos esmorecer, sob pena do mundo retroceder e se transformar num bando de bárbaros.