II Mostra Científica de Conhecimentos da Escola Angelo Chiele

“A curiosidade, motor da aprendizagem, precisa ser constantemente estimulada.” Paulo Freire Na Mostremac, foi vivida na prática. A mostra foi tão vibrante e emocionante quanto a própria vida: permitiu que, num instante, mergulhássemos na profundeza do mar e, no outro, nos lançássemos ao céu

Texto de Rosana Marina
Professora da Escola Municipal Angelo Chiele

Em cada apresentação: uma pergunta em movimento. Lado a lado, via-se questionamentos sobre a incompreensível e surpreendente capacidade da Inteligência Artificial competir com a casa da vó, e as lembranças dos chás — acompanhadas de sua afetuosa e convincente explicação sobre os benefícios das ervas medicinais transmitidos de geração em geração. Também foi possível conhecer técnicas agrícolas que unem tradição e inovação: da observação da lua para o plantio ao uso de canhões sonoros para dissipar o granizo — ameaça constante para quem cultiva a terra.

O sol, por sua vez, iluminou reflexões: qual sua influência sobre o corpo humano? Os estudantes buscaram respostas entre ciência e curiosidade. Outros temas tocaram fundo no coração. Como nasce o amor? A resposta estaria com Eros e Afrodite, como crê a cultura grega, ou seria uma reação bioquímica, como afirma a ciência? Ah… o amor e seus mistérios! No ano em que se celebram os 150 anos da Imigração Italiana, não faltaram pesquisas sobre os hábitos alimentares e o patrimônio arquitetônico de Farroupilha. Estudantes expressaram suas descobertas com desenhos, por meio de técnicas como o sfumato, difundida por Leonardo da Vinci.

  • Houve ainda pesquisa com foco na migração: de onde vim… quem sou — um mergulho nas origens e na busca pelas cidades de onde vieram as famílias dos alunos.
Público prestigiando os projetos dos estudantes das séries iniciais. Foto: Rômulo Menegas/Divulgação

Até espécies extintas passaram pela Mostremac! Dinossauros majestosos e imponentes despertaram fascínio e temor. E, num salto para o futuro, nos deparamos com robôs provocando ações comprometidas com a sustentabilidade e o cuidado com o meio ambiente. Não foi apenas o colossal tamanho dos dinossauros que despertou nossa curiosidade — o mundo microscópico também alcançou nosso interesse.
E o ato da leitura? Qual sua forma preferida: o toque de um livro físico ou a agilidade do digital? As respostas não alcançaram a unanimidade, mas uma certeza uniu todos: a leitura abre caminhos para a imaginação e a criação.

A Mostremacé mais do que uma mostra institucional. É um espaço pedagógico privilegiado, onde o conhecimento ganha corpo, onde a investigação se alia à sensibilidade e onde o tempo se suspende para dar lugar ao encantamento da descoberta. Como destacou o vice-diretor Fernando Luiz Pegoraro, a mostra rompe com lógicas padronizadas e oferece oportunidades reais de pensar, criar e agir com propósito — promovendo a autonomia intelectual e fortalecendo a capacidade crítica dos estudantes.

Essa experiência só é possível porque a escola acredita no protagonismo do aluno, na escuta sensível de suas perguntas e na valorização de suas inquietações, como enfatiza a vice-diretora Caroline Borsoi. Para ela, a aprendizagem significativa nasce quando o aluno é chamado a participar ativamente da construção do conhecimento — quando sua curiosidade vira ponto de partida para criar hipóteses, investigar, concluir e apresentar com orgulho o que aprendeu.

Estante do projeto “Memória, Cultura e Identidade”, turma 312, professora orientadora Ana Paula Gobatto.. Foto: Rômulo Menegas/Divulgação

A diretora Paula Ghinzelli reforça essa visão: a Mostremac vai além do conteúdo teórico e promove o desenvolvimento integral dos alunos, despertando neles o desejo de compreender, questionar e propor soluções para os temas investigados. Assim, forma-se o cidadão crítico, criativo e comprometido com uma sociedade mais justa e consciente.

O que podemos aprender com esse processo que nasce da curiosidade dos alunos?

Que o conhecimento não se limita à informação. Ele transforma, reposiciona, desafia… desperta os sentidos e acolhe dúvidas. Melhor não se poderia dizer senão que o aprendizado é dinâmico, vivo. Não é linear: provoca desvios, recuos e recomeços. Mas é justamente esse o caminho desejado: uma educação visceral, capaz de provocar sentido, mudar olhares, compreender hábitos, valorizar a diversidade cultural, entender a evolução das espécies, o papel da natureza para o bem-estar e ensinar sobre a sensibilidade do convívio com os animais.

A maior beleza do aprender acontece quando o conhecimento encontra quem o busca — com olhos debruçados sobre o mundo da informação e o coração acelerado diante de cada descoberta. Porque aprender é um encontro entre razão e emoção. A Mostremac foi instigante como a própria vida: o encontro com o inusitado, inquietude diante da necessidade de respostas, mergulhos e voos.

Estudantes da turma 602, apresentado o projeto “Manifestações do além: o que separa a vida e a morte?”, orientado pelas professoras Cláudia Gasperin e Soraia Martini. Foto: Carolina Borsoi/Divulgação

Os depoimentos dos alunos mostram a alma da Mostremac

  • Olhares buscando compreensão, mãos gesticulando num ritmo que combinavam entusiasmo, nervosismo e orgulho, muito orgulho! Estudantes de diferentes idades compartilharam suas descobertas durante a II Mostra Científica de Conhecimentos — um evento que valorizou perguntas, notabilizou conquistas e exaltou a curiosidade. Nos relatos dos alunos, revelou-se a essência mais autêntica da Mostra: o prazer de aprender e de construir conhecimento.

“Eu gostei muito de apresentar pros meus papais”, contou Alice Fabro Crippa, da 113, ainda um pouco tímida. Apesar de confessar que ficou “envergonhada” ao falar em público, ela garantiu que foi “bem legal” e destacou a experiência de ver “os bichinhos coloridos no microscópio”.

A aluna Sara Dal Monte (111), compartilhou com entusiasmo seu trabalho de robótica: “A gente fez uma maquete com um monte de prédios e casas. Tinha um robô que andava e colocava o lixo para outro robô. Esse segundo robô fazia a compactação do lixo — ou seja, apertava para ficar menor. Depois levava para uma fábrica de reutilização, onde fazia uma coisa útil pro planeta. Transformava o lixo em um brinde… que era uma plantinha!”

Estudantes da turma 502, da esquerda para a direita: Lorenzo Reolon Paim, Misaela Triches Testolin e Davi Augusto Borges Berá, acompanhados da professora orientadora Daiane Brustolin, apresentando o projeto “Inovação Tecnológica: Sistema Antigranizo”. Foto: Rosana Marina/Divulgação

A emoção também tomou conta de Sophie Baroni, do Pré II, que se encantou ao montar, junto com a professora Janice, um terrário que reproduziu o ciclo da água. “A prof. perguntou de onde vem a água… Eu disse que ela evapora”, explicou com segurança. Apresentar o experimento à família foi especial: “Fiquei emocionada”, revelou.

No Ensino Fundamental II, a investigação ganhou profundidade. Júlia Bonzanini Piaia (801) relatou a experiência de estudar a inteligência artificial com apoio das professoras Andréia, Carla e Caroline: “A gente quis entender como ela pode nos influenciar no futuro… e até entrevistamos uma pessoa que trabalha com isso.” Ao apresentar o projeto, ela se sentiu “feliz e nervosa”, mas foi acolhida por elogios: “Meus pais e os pais dos colegas gostaram bastante”.

Na 802, Ana Laura Giliotto Carbolin abordou a neurociência e o autismo. Descobriu que as causas têm forte relação com o cérebro e afirmou que a mostra “ajuda a ter mais responsabilidade, a pesquisar e a trabalhar em equipe”.

O trabalho coletivo foi destacado por diversos estudantes. David Toniazzo (701) iniciou o projeto pensando em jogos, mas o grupo acabou escolhendo estudar “o uso das telas e a dopamina”. Segundo ele, o mais surpreendente foi entender como a dopamina atua no cérebro. “Gostei bastante do trabalho em equipe… E a gente se sente mais livre quando escolhe o próprio tema.”

Da esquerda para a direita: diretora Paula de Oliveira Ghinzelli, estudantes Vicente Deliberalli, Vicente Antunes Borille Terra e Lucas Garbin, acompanhados da professora orientadora Greyce Dal Picol. Projeto “Malas e Memórias: Descobrindo as migrações no Brasil”. Foto: Rosana Marina/Divulgação

Esse sentimento também marcou João Vitor de Aguiar Gomes (701), que explorou a programação de jogos com os colegas. “Foi muito legal. A gente viu que consegue fazer muita coisa sem ajuda, só trabalhando junto.”

Outros projetos mergulharam nas raízes familiares. Alice Drews de Oliveira (412) e Vicente Antunes Borile Terra (412) usaram o Canva para criar livretos com as cidades de origem de seus pais. “Eu já sabia de onde eles vinham, mas não sabia os pontos turísticos. Aí aprendi”, explicou Alice. Vicente contou que a parte mais legal foi pesquisar com a mãe e depois apresentar. “Deu um pouco de trabalho, mas gostei. E minha família disse que apresentei bem.”

Henrique Penso Faganelo (511), explicou com clareza as diferenças entre propriedades físicas, químicas e organolépticas — e ainda descreveu os experimentos feitos com entusiasmo: “Teve lâmpada mágica de lava, losangos voadores e um experimento com ímãs e pregos.” Segundo ele, apresentar o trabalho foi motivo de alegria: “Me senti feliz por estar participando.”

Estudantes Ana Flávia Faria Prado, Emilly Canal e Fernanda Aguiar D’ávila, turma 601, apresentando o projeto “Sistema Solar”, orientado pelos professores Adrian Rizzo e Carliane Aguilar. Foto: Rosana Marina/Divulgação
Estudante Valentina Duarte da Silva, turma 701, apresentando o projeto “Estrangeirismos na rotina dos adolescentes”, orientado pelas professoras Marceli Schons e Roberta Meneghel. Foto: Rosana Marina/Divulgação
Enzo Viecceli Bruttomesso e Enzo Gabriel de Andrade Antunes, turma 211, com o projeto “Como a água vira chuva?”, orientado pela professora Fernanda Ricci. Foto: Rosana Marina/Divulgação
Estudantes da Educação Infantil 1 – Tarde, apresentando seu projeto para as famílias. Professora orientadora Claudia Menegotto, projeto: “Animais de Estimação!”. Foto: Carolina Borsoi/Divulgação

O que viram os professores?

Mais do que orientar os trabalhos, os educadores viveram intensamente cada etapa da jornada investigativa — uma trajetória de descobertas, envolvimento e crescimento. A cada pergunta lançada, eles testemunharam os alunos assumirem o protagonismo, fortalecerem vínculos e expandirem suas formas de pensar e de se expressar.

A professora Carolina Cerri, da 113, destacou como a curiosidade espontânea das crianças guiou todo o percurso investigativo, resultando em avanços notáveis na expressão e no senso de pertencimento: “Eles se sentiram verdadeiros pequenos cientistas”, afirmou.

O professor Senair Antunes Marques, da 511, observou a transformação dos alunos ao longo do caminho — mais curiosos, responsáveis e comunicativos — e ressaltou a alegria contagiante que tomava conta das apresentações: “O brilho nos olhos ao fazer cada descoberta foi o aspecto mais marcante.”

Para a professora Greyce Dal Picol, da 412, o envolvimento das famílias e a aproximação da pesquisa com a realidade dos estudantes foram determinantes para o sucesso do projeto.

A professora Janice Arnhold Fabro, do Pré II, relatou com ternura como as hipóteses infantis sobre a chuva deram origem a experiências lúdicas e reveladoras, como a construção de um terrário para observar o ciclo da água, mantendo viva a curiosidade ao longo de todo o processo.

As professoras Roberta E. Meneghel e Marceli I. Schons, das séries finais, destacaram o entusiasmo dos alunos ao escolherem temas que dialogavam com seus interesses e a capacidade que desenvolveram de planejar, pesquisar, organizar e apresentar com segurança e criatividade.

A professora Daiane Brustolin, do 5º ano e também orientadora educacional, sintetizou com sensibilidade a essência da Mostremac: o projeto começa com incertezas e dúvidas, mas evolui para descobertas sólidas, trabalho em equipe, autonomia e pensamento crítico. “O que mais nos emociona é ver a dedicação, o entusiasmo e o orgulho dos alunos ao apresentarem seus projetos.”

Essa percepção é compartilhada pela professora e orientadora educacional Carla Alessandra Gardini, que ressaltou o quanto os estudantes se tornam protagonistas ao longo do processo, deixando de apenas executar para criar com mais confiança, colaboração e entusiasmo. “Cada habilidade desenvolvida neste processo fica marcada para a vida”, afirmou. “Fiquei surpresa com a criatividade e dedicação deles — tudo isso reforça o quanto esse processo é transformador e inspirador para todos nós.”

Equipe docente da EMEF Angelo Chiele. Foto: Divulgação
Da esquerda para a direita: Vice-Diretor (Manhã) Fernando Luiz Pegoraro, Diretora Paula de Oliveira Ghinzelli e Vice-Diretora (Tarde) Caroline Borsoi. Foto: Rosana Marina/Divulgação
  • A Mostremac, em sua segunda edição, reafirma o que a educação pode ser quando nasce da escuta, do afeto e do estímulo à curiosidade. Cada experimento, cada apresentação, cada pergunta formulada por um estudante é também um convite para olharmos o mundo com mais atenção — e com mais perguntas.
  • Como resume a diretora Paula Ghinzelli: “Projetos como a Mostremac são oportunidades fundamentais para promover a formação integral dos estudantes, pois vão muito além do conteúdo teórico das disciplinas. Eles estimulam o desenvolvimento integral do aluno, reforçando a autonomia, o pensamento crítico e a capacidade de trabalhar em equipe.”
  • Mais do que uma mostra de conhecimentos, a Mostremac é celebração do pensamento em movimento — inquieto, criativo e comprometido com o mundo.
Projetos apresentados pelos estudantes das séries finais. Foto: Rosana Marina/Divulgação