Projeto Insulife escreve um novo capítulo em sua história

As canetas de insulina transformadas em esferográficas nasceram no projeto que completa um ano e alcançou patamar nacional. Agora, o foco é disseminar informações da Diabetes Tipo 1 às famílias atípicas

Claudia Iembo
claudia@ofarroupilha.com.br

Em setembro de 2024, um grupo de voluntários farroupilhenses, liderados por Neusa Pietta, Luciana Cioato e Sônia Táparo, começou a transformar canetas de insulina em canetas esferográficas que, embaladas junto às informações sobre a Diabetes Tipo 1, passaram a ser ofertadas em escolas do município e fora dele. O Projeto Insulife, Escrevendo Novas Histórias, completa um ano e hoje está presente em escolas do Brasil todo.

Sem fins lucrativos, possível pelas doações das canetas de insulina e esferográficas, que chegam de diversos estados, o Insulife nasceu da necessidade de falar sobre a doença, assimilada depois das integrantes passarem por dores pessoais no enfrentamento dela. Luciana tem Diabetes Tipo 1 e Neusa tem um filho com a doença autoimune.

Disseminar informações sobre Diabetes Tipo 1 encontrou ainda mais sentido na reutilização de resíduos plásticos, oferecendo um destino sustentável, como explica Neusa. “A caneta de insulina é doada sem a agulha, desmontada e as partes plásticas são doadas para a Liga do Câncer em Farroupilha, o vidro é entregue para a Secretaria de Saúde e então a caneta esferográfica é adaptada à de insulina. Colamos o adesivo do nosso projeto e embalamos a caneta com as informações sobre Diabetes Tipo 1”.

Segundo ela, já foram produzidas, neste primeiro ano, mais de oito mil canetas. “Não esperávamos alcançar tamanha abrangência e com certeza atingimos nosso objetivo que é falar sobre Diabetes. Nas escolas por onde passamos, temos relatos de mães que identificaram a doença nos filhos graças às informações do projeto. A caneta é um símbolo de vida para o diabético e transformada pelo Insulife representa toda a resiliência vivida”, acrescenta Neusa, que quase perdeu o filho Mateus, hoje com oito anos, mas diagnosticado aos três.

Conexões

Se o tema trabalhado por alunos dentro da sala de aula for Diabetes, o Projeto Insulife acaba sendo encontrado nas redes sociais e daí as canetas viajam para fora do Rio Grande do Sul. A professora Sônia Táparo, quem batizou com o nome de Insulife, conta que Minas Gerais foi um dos primeiros estados do Brasil a contatar o projeto.

“Alunos da escola Alberto Corrêa, da cidade de Barbacena, apresentaram um projeto sobre a doença e o ponto alto foi a entrega das canetas Insulife! Para isso, alunos da escola Nossa Senhora de Lourdes, aqui de Farroupilha, produziram, em período de aula, mais de 300 canetas, que foram enviadas em meados de julho”, conta Sônia.

  • O contato entre os alunos dos dois estados acabou se transformando em um intercâmbio cultural. “Houve troca de cartões e videochamadas entre alunos dos colégios, aproveitando para criar conexões e aprender a cultura de cada estado”, acrescenta a professora.

A escola de Minas Gerais é um exemplo, entre tantas outras que recebem a Insulife e isso só é possível, como ressalta Neusa, porque empresas de Farroupilha abraçaram o projeto e colaboram com ele. “Agradecemos muito às empresas que entenderam nosso propósito e continuam nos auxiliando, em todos os sentidos. Toda contribuição é bem-vinda, pois nosso projeto não tem fins lucrativos”, diz.

Pessoas com TEA

A criadora da Insulife conheceu uma mãe atípica: o filho, com Transtorno do Espectro Autista, grau 3, acabou ficando internado por 30 dias, pela falta de solicitação de um exame de glicose. A criança, de seis anos, tem Diabetes Tipo 1. Ao saber da experiência vivenciada, precisou agir. “Fiquei inconformada com aquela situação e vi que precisava lançar mais esclarecimentos para as famílias, foi então que nasceu a cartilha”, explica.

  • A primeira tiragem do material foi paga por ela mesma e o lançamento aconteceu no dia 8 de setembro, na Associação de Pais e Amigos do Autista de Farroupilha, Amafa.

“Detectamos a importância de levar o projeto Insulife para dentro da Amafa a partir da demanda observada no público atendido e pessoas que buscam informação do assunto. Como já conhecíamos, sabemos da relevância na promoção da educação em saúde e no controle da doença. Vimos nele uma oportunidade concreta de contribuir. A iniciativa ganhou ainda mais força com o convite das idealizadoras do projeto, que nos propuseram uma parceria para, juntas, levarmos informação, conscientização e cuidado às pessoas atendidas pela Amafa”, diz a diretora da Associação, Aline da Rosa.

Para ela, o projeto é de grande importância para o município. “Vai trazer mais conhecimento e com isso a gente pode buscar tratamentos adequados para as pessoas com transtorno do espectro autista “, acredita Aline. Vale lembrar que estudos sugerem que pessoas com TEA podem ter um risco aumentado de desenvolver diabetes, tanto o tipo 1 quanto o tipo 2. Essa associação pode estar ligada a diversos fatores, incluindo: maior incidência de doenças autoimunes, fatores genéticos e ambientais, uso de medicamentos psiquiátricos, hábitos de vida, que podem ser afetados por dificuldades sensoriais e comportamentais associadas ao TEA, influenciando alimentação e atividade física.

“Essa é uma área em constante estudo e ainda há muito a ser descoberto sobre os mecanismos que ligam o autismo a outras condições de saúde, como Diabetes”, explica a diretora da Amafa. No dia 15 de novembro, as idealizadoras da Insulife estarão no encontro que reúne pessoas com Diabetes Tipo 1 de todo o país, promovido pela Associação Formigas – de pais, apoiadores e pessoas com Diabetes tipo1 em busca de melhores tratamentos, educação e políticas públicas para a doença. “A Insulife é ml. de vida e com este projeto estamos reescrevendo histórias com muito amor”, conclui Neusa.

Contatos podem ser feitos pelas redes sociais:
@neusapietta e
@taparo.soninha

Diabetes Tipo1

  • Ocorre porque o pâncreas deixa de produzir ou produz quantidades baixas de insulina, causando um desequilíbrio nos níveis de glicose presentes na corrente sanguínea do paciente.
  • Sem a insulina, a glicose não consegue entrar nas células para fornecer a energia necessária para seu funcionamento. Com isso, a glicose no sangue fica muito elevada, causando uma série de sintomas.
  • Surge na infância ou na adolescência, embora também possa ser diagnosticado nos adultos.
  • Tem origem autoimune ou genética.
  • Não tem cura e os pacientes que recebem esse diagnóstico precisam fazer o uso de insulina durante o resto da vida.
Feira de Ciências no Colégio Tiradentes, em Caxias do Sul, teve a participação da Insulife