É sábio ouvir os mais velhos
A busca pelo conhecimento, na minha opinião, sempre será a melhor das aventuras. Nesse particular e incessante objetivo tenho descoberto
A busca pelo conhecimento, na minha opinião, sempre será a melhor das aventuras. Nesse particular e incessante objetivo tenho descoberto muito, mas, a medida que vou adquirindo saber, percebo o quão pouco sei com relação ao universo a ser conhecido. Já dizia o grande filósofo Sócrates, um dos homens mais sábios da história : “Só sei que nada sei”, admitindo sua ignorância em determinados campos do saber. No ímpeto de diminuir a minha ignorância sigo a fundo na minha viagem antropológica pela Itália.
Um fato surpreendente, pra não dizer chocante, é ouvir turistas ao retornarem de suas viagens de semanas ou meses, breves visitas a países de civilizações milenares, afirmarem com convicção a forma de ser e existir nos lugares visitados. Vivi na Europa por mais de uma década, tenho muitos amigos europeus de diferentes nacionalidades, me inseri na cultura local, mas, não me atrevo a definir com precisão nenhum povo e ou local onde estive, dada a complexidade geo-política-ambiental dessas sociedades milenares. Claro que as experiências geram percepções, racionais e emocionais, memórias daquilo que experimentamos.
Minha experiência, me deu algumas percepções gerais, dos povos que conheci, por exemplo, é muito comum ouvir que os franceses são grosseiros, eu diria que é bem o contrário, um dos meus melhores amigos é francês, da cidade de Lion, e a pessoa mais bem educada e cordial que eu conheço. Os espanhóis são rudes, eu não diria isso, eles são diretos e francos, um povo nobre. Os alemães são frios, quando calculam e planejam eles são precisos, mas, quando estão de folga, são muito divertidos. Assim, cada povo e local tem suas características predominantes, mas não determinantes, e não podem ser definidas com uma visita de dias ou meses.
Tratando-se da Itália, e sua presença marcante na nossa vida, sabemos algumas coisas a respeito desse povo que deu origem a muitas regiões do Brasil. A Itália passava por uma grande crise de emprego na segunda metade do século XIX gerada principalmente pela industrialização do país. Grande parte dos italianos que migraram para o Brasil eram de origem humilde, principalmente dê regiões rurais da Itália. O Brasil era visto como a terra das oportunidades, pois, o país precisava de mão de obra para trabalhar nas lavouras e posteriormente fomentar a indústria, muitas das quais nos orgulham até hoje. No nosso caso, no Rio grande do Sul, os imigrantes italianos se concentraram principalmente na região da Serra Gaúcha, tendo a cultura da uva e do vinho, e a posteriori, a indústria como principal atividade. Quando se visita a Itália é muito interessante ver como essas regiões se assemelham, não somente no comportamento, mas também, nas características geográficas, de clima e superfície.
O Museu histórico Trentino dedica uma parte bem relevante a Arqueologia das Escrituras Popolíticas, um vasto universo de guerra, um banco de dados de trentinos sufistas antifascistas, onde é possível pesquisar os nomes dos soldados que foram oponentes do fascismo, que formaram tropas militares na Segunda Guerra Mundial, conhecidos como a Resistência Trentina. Outra curiosidade é ver sobrenomes das primeiras famílias “farroupilhenses” expostos nas praças das cidades em memoriais aos caídos em defesa da Itália em diferentes batalhas, inclusive da 1ª e 2ª guerra mundial.
A Itália, desde sempre, foi muito marcada pela violência e pelas guerras, hoje, em função disso na Italia valoriza-se muito a vida, os conflitos se restrigem ao campo das ideias, não se fala em armas e muito menos em mortes. As decisões não são tomadas de forma precipitadas, pelo contrario, são debatidas exaustivamente. Existem problemas, mas estão na pauta urgente para serem resolvidos. Um povo que sofreu com as adversidades mas que resistiu através da valorização folclórica, o desenvolvimento intelectual e o trabalho. São um povo que sabe viver. Como diz o ditado: “ É sábio ouvir os mais velhos.”