A neblina e a solidão
O carro percorria a estrada e as luzes dos faróis pareciam lâminas a cortarem a densa neblina que cobria toda
O carro percorria a estrada e as luzes dos faróis pareciam lâminas a cortarem a densa neblina que cobria toda a paisagem ao redor.
Sem muito a enxergar adiante, a umidade deixava os vidros molhados e as luzes dos outros carros batiam nas gotas de água, fazendo-as parecerem inúmeros diamantes espalhados. Criados pela imaginação, ao alcance apenas dos olhos.
Quando se está no banco do passageiro é assim: podemos nos entregar demoradamente às impressões que a mente cria. Bom trafegar sem ter que prestar atenção ao volante. Naquele dia, servindo de companhia a um compromisso que não era meu, experimentava a leveza de perder o olhar além das janelas do automóvel.
Talvez a neblina, sempre muito presente em nossa cidade, fosse um convite aos devaneios descomprometidos de quem não precisava prestar atenção a nada, exceto aos próprios pensamentos.
Fiz a conexão do clima com a informação, recém-ouvida, de que o Rio Grande do Sul é o estado brasileiro que apresenta mais casos de suicídio no Brasil, segundo a palestrante de um seminário há pouco realizado por aqui. Há uma epidemia de solidão, especialmente entre os mais jovens.
Já experimentou a sensação de dificuldade de respirar na neblina? O sentimento de solidão por não enxergar nitidamente as pessoas que transitam por ela, ou os carros que estão na estrada com você?
Solidão é solidão, mas ainda assim é difícil assimilar a ideia de que alguém fique infeliz em um dia ensolarado, ao contrário dos dias com neblina. Ainda mais aquela densa, que sufoca, que dificulta, que confunde.
Como seres sensíveis que somos, o ambiente, as pessoas e até mesmo o clima nos influenciam. De um jeito ou de outro. Por isso é sempre bom lembrar que até mesmo a mais intensa das neblinas acaba se dissipando. É preciso nos adaptarmos. Estamos na Terra, ou melhor: na serra, afinal.