Natureza
Sempre exaltei o quanto considero privilégio estar cercado de verde! Para quem saiu de uma cidade cinza, ganhar novas cores
Sempre exaltei o quanto considero privilégio estar cercado de verde! Para quem saiu de uma cidade cinza, ganhar novas cores é valoroso. Não me acostumei à beleza que emoldura minha existência e espero não me acostumar porque desta forma estarei sempre admirando-a.
A natureza traz para perto de mim seus encantos. Perto mesmo. Uma vez entrou um passarinho descuidado na sacada envidraçada. Não sei quem teve mais medo, ele ou eu! Vira e mexe aparecem surpresas desse tipo por aqui.
Se tem um lugar no qual estaciono muito dentro de casa com certeza é a pia da cozinha, o pit stop de qualquer dona de casa. A minha fica embaixo de uma janela. Dia desses estava eu lá tentando dar cabo da louça que começava a crescer – sim porque quaisquer dois copos parados ali já me atraem para o lugar, feito imã… impressionante! – quando meus olhos encontraram o ser da foto.
Meu cérebro prontamente reconheceu a folha. No instante seguinte, a real identificação de uma borboleta, ou seja lá que nome tenha um inseto parecido com ela. Fiquei olhando para ela e ela para mim, imaginei. Ela, mestre na camuflagem para enganar seres desapercebidos; eu, ser confuso que busca enxergar além do que vê. Cada um segundo sua natureza.
Corri tirar o sabão das mãos e enxugá-las para pegar o telefone a fim de deixar a borboleta retida para sempre, na imagem, como deve ser.
Borboleta, não folha.
É preciso prestar atenção ao que está a nossa volta, olhar atentamente para não sermos enganados. Cada um segundo sua natureza.
Predadores existem. Ela ainda tem a vantagem da camuflagem – o que boa parte da nossa espécie acabou adquirindo para sobreviver ao meio – mas nós estamos expostos como somos, experimentando perigos mais reais que os naturais. Tenho esta certeza quando ligo a TV e vejo um homem pedindo socorro por estar com a geladeira vazia.
A borboleta voou. Eu, chorei. Cada um segundo sua natureza.