Pessoas que inspiram
Em maio recebi meu primeiro benefício como aposentado. O processo, desde o protocolo do pedido até a resposta final positiva,
Em maio recebi meu primeiro benefício como aposentado. O processo, desde o protocolo do pedido até a resposta final positiva, demorou cerca de oito meses. As críticas ao serviço público são quase redundantes, mas devo reconhecer a agilidade, apesar de o INSS ter perdido mais de 40% da força de trabalho na agência em Porto Alegre, onde o processo tramitou.
Fiquei surpreso ao verificar que não precisava sair à cata para arrolar os empregos ocupados ao longo da trajetória. A partir do pedido, o instituto forneceu a relação dos lugares onde trabalhei com datas (admissão e demissão) e valores recolhidos. Esta certidão levou-me à reflexão sobre a diversidade de pessoas com quem convivi ao longo de mais de 40 anos de atividade.
Conhecer gente nova é o meu maior estímulo. Já escrevi que o jornalismo curou a minha timidez crônica que durou até os vinte e poucos anos. A convivência “por coincidência” e imprevista nos torna mais “cascudos”, para usar uma linguagem futebolística. Fornece experiência e subsídios para enfrentar pessoas com temperamentos que às vezes nos tiram do sério.
Trabalhar com jovens é uma rotina de muitos anos. Estagiários ou novatos na profissão povoam meu dia a dia. Quase sempre são contestadores, cheios de informação e desprovidos de experiência profissional e de vida. Já convivi com idosos que, depois de demitidos, continuaram meus amigos e lamentavam a morte de companheiros de uma vida toda.
A maioria dos trabalhadores convive mais tempo com os colegas do que com seus familiares. Daí a relação de parceria muitas vezes forja uma amizade duradoura. Outra recompensa é a possibilidade de autoajuda, a partir de amigos que podem ajudar em temas de saúde, assistência, oportunidades de emprego e outros.
Em datas que assinalam o aniversário destes amigos ex-colegas soa como retrospectiva que faz brotar risos e introspecção. Nem só de episódios felizes é feito o currículo profissional. Há perdas, acontecimentos tristes e descaminhos muitas vezes descobertos depois que a relação profissional termina.
Para muitas pessoas trabalhar é apenas artifício para pagar despesas. Desde cedo aprendi com meu pai a importância de fazer a atividade profissional algo prazeroso. O velho Giba repetia:
– Se pudesse escolher, certamente a maioria das pessoas preferia ficar em casa ou viajando. A solução, para reduzir este sofrimento, é descobrir detalhes que nos fazem felizes.
Gostaria de ficar em casa de vez em quando, mas admito que meu trabalho é uma realização pessoal e profissional. Às vezes é sofrido e desgastante, mas cada dia vale a pena por conhecer pessoas que iluminam e inspiram.