Um Estado à deriva das vaidades

Não só pelo calor, mas o momento político do Rio Grande do Sul promete subir a temperatura nos próximos dias.

Não só pelo calor, mas o momento político do Rio Grande do Sul promete subir a temperatura nos próximos dias. Outra vez os deputados estaduais analisarão a tentativa de tirar o Estado do atoleiro financeiro em que se meteu ao longo de décadas. Por muito tempo fomos iludidos por soluções de curto prazo, vendidas ao grande público como milagrosas. Sob muita publicidade e rico material de marketing fomos levados à ilusão de salvação.
Todos os partidos se revezaram no Palácio Piratini e o caos se instalou. Ofensas de campanha do atual Governador comprovam ausência de espírito público. Impulsividade verbal é admissível para quem governa os destinos de um Estado falido, cansado de salvadores e viciado em não reeleger apenas para manter a escrita.
A incontinência verbal do atual inquilino do Piratini se mescla à instabilidade, indecisão. Desde o início de dezembro se lê e ouve que haverá convocação extraordinária para analisar o “pacote”, o conjunto de projetos de lei que mexe com todo o funcionalismo.
Parlamentares são convocados diariamente para reuniões e encontros com “líderes dos partidos da base aliada”. Nestes encontro as projeções são catastróficas no caso de não aprovação, mas já se ouviu tantas vezes esta profecia que poucos acreditam. Os jornais alternam manchetes noticiando sessões extraordinárias e que, no dia seguinte, são desmentidas.
Tento imaginar o ânimo de políticos experientes que colocaram seu currículo a serviço da atual administração do Governo do Estado. Otomar Vivian e Frederico Antunes, ambos do PP, têm trajetórias longevas na atividade pública em diversas administrações. Vivian, que foi prefeito de Caçapava do Sul e presidente do IPE, entre outros cargos de relevância, sequer foi avisado – por exemplo – da malograda estratégia envolvendo o IPVA. Colegas do Piratini garantem que ele foi visto recolhendo suas tralhas para abandonar o barco. Responsável, mudou de ideia.
A situação do RS é tão grave que mereceria a união irrestrita de todas as suas lideranças, políticas, empresariais e de todos os segmentos. Nossa tradição, no entanto, impede a convergência para salvar o Estado. A “peleia”, termo atávico que serviu para defender nossas fronteiras e demarcar nosso território, hoje impede qualquer tentativa de pacto sincero. Interesses pessoais e projetos políticos inviabilizam um esforço concreto para salvar o que já foi modelo à toda terra.
Pelo jeito não será desta vez que as picuinhas do passado serão banidas para salvar a Província de São Pedro. A verborragia eleitoral do Governador e a falta de espírito público das principais lideranças estaduais será a pá de cal no Rio Grande. Quem viver, verá.