A porca da Nona e o boi de Nova Bassano
Na casa da Nona havia uma porca gigante, muito grande. Era uma velha conhecida da minha filha Mariana (4). Aos
Na casa da Nona havia uma porca gigante, muito grande. Era uma velha conhecida da minha filha Mariana (4). Aos domingos, ela adorava vê-la deitada no chiqueiro. Quando havia porquinhos por perto, as visitas eram ainda mais prazerosas. Duas fileiras de tetas se esparramavam de leite. Os porquinhos, aos montes, disputavam seu espaço leitoso.
– Tão fofinhos!!!
Na semana passada, a porca foi assassinada. Enfiaram uma faca. Tiraram seu pelo. Virou banha, salame e churrasco.
Comentamos com a Mariana o assunto. Ela, vestindo uma tiara de unicórnio, fez cara de choro. Foi ficando triste. Fez-se soluço. Começou a chorar:
– Mmmm!
O choro se fez lamento:
– Aaaammmhhhhaaaammmmmhhhhhh …
– Por que você está chorando, Mariana?
– Eu não queria que eles matassem o porco.
As lágrimas rolaram pelo rosto.
– Mas é que daí tinha que comer o salame, a carne.
– Mas por que que eles mataram?
– Pra comer.
– É mas era lá da Nona. Por que que eles mataram o bicho assim? Eu ainda queria ver ele. Aaaammhhaaaammhhh …
Seguiram os soluços desconsolados.
Francisco de Assis viu isto com seus olhos e passou a chamar tudo de irmão e irmã:
– Irmão Sol! Irmã Lua! Irmã Porca!
Maria Montessori viu e repercutiu nas crianças:
– A inteligência da criança observa amando e não com indiferença, isso é o que faz ver o invisível.
Para uns um boi é apenas um boi. Houve um, pelas bandas de Nova Bassano, tão grande … Até hoje ocupa o espaço e a mente de muitos que o conheceram.
Manoel de Barros viu, lá longe, em cima da peúva, o ninho do tuiuiú, ensopado:
– Aquele ninho fotogênico cheio de filhotes com frio!
Aí se pôs a chover. Manoel viu a pelagem do gado limpa. A alma do fazendeiro limpou. Sua planta estava salva:
– E a primavera imatura das araras sobrevoa nossas cabeças com sua voz rachada de verde. – Disse Manoel.
Quando uma porca e um boi se vão, para eles é óbvia a inutilidade das crônicas. Transformam-se na própria crônica de pratos defumados, regados a vinhos, que já foram uvas.
É isso.