O elefante triste

Vem aí as aulas! As aulas da Mariana (05), minha filha, voltaram na semana passada.Questão relevante é delimitar a missão

Vem aí as aulas! As aulas da Mariana (05), minha filha, voltaram na semana passada.
Questão relevante é delimitar a missão da escola.
O professor deve ensinar, dirão uns; educação vem de casa.
A escola deve auxiliar na construção do fim da opressão, dirá o Paulo Freire.
Eu voto com o Paulo Freire. Mas não se pode ser simplista ao definir a opressão. O que é a opressão? Como aprender a não ser oprimido ou opressor? Como ser livre?
É uma construção de cada um. A dialética a ser trilhada é um caminho vasto como o tempo e o espaço. As relevâncias nada seriam se não houvesse as irrelevâncias. O conceito é do Jorge Luis Borges: imagens não passam de incontinências do visual.
O fotógrafo do Manoel de Barros sabia que, na sua aldeia, era difícil fotografar o silêncio. Ao sair de uma festa, de madrugada, o Silêncio estava carregando um bêbado. Preparou a máquina. Fotografou o carregador. Na mesma madrugada, o fotógrafo viu a Nuvem de calça. Ela andava de braços com o Maiakovski. Ele fotografou a Nuvem de calça e o poeta. “Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir sua noiva. A foto saiu legal”.
A Mariana contou a história do elefante triste. Nenhum bicho da floresta queria brincar com o filhote. A girafa achava que ele tinha a tromba comprida demais. A formiga via ele largo como uma porta. A zebra dizia que ele não tinha cor. Era uma tristeza só. Então, o elefante caminhou e caminhou. Encontrou um urso e um esquilo que gostaram de brincar com ele. A girafa, a formiga e a zebra perceberam que brincar com o elefante era bom. Todos começaram a brincar. E viveram felizes para sempre.
Voltar às aulas é ser a aldeia. Construir tolerâncias. Aprender a responsabilidade. A diversidade enriquece. A paz está em cada um. Tudo isso se faz na educação, no pátio, na escola, no fórum, no futebol, na mesa de bar, na roça, na fotografia do carregador e da Nuvem, nas redes sociais, nos restolhos que engrandecem as minhocas e vicejam as alfaces da horta.