Para as melhores mães
Farroupilha amanhece. Os ônibus esvaziam as paradas. A luz amarela da lombada da rótula de Nossa Senhora de Caravaggio pisca.
Farroupilha amanhece. Os ônibus esvaziam as paradas. A luz amarela da lombada da rótula de Nossa Senhora de Caravaggio pisca. Os caminhões aproximam o que está distante. O Sol finge ainda estar adormecido. Domingo será Dia das Mães. Escrevo para mães especiais.
A minha mãe se chama Maria. Eu nasci no dia em que nasceu Maria, mãe de Jesus, 08 de setembro. Nesta junção de Marias, resultei Mario. Os melhores vestígios de mim seguem brindados na retina dos olhos da minha Maria. As crônicas que escrevo nascem dos gorjeios dos pássaros que a minha mãe ensinou a distinguir: os gritos da saracura e do quero-quero, o canto do sabiá, o trinado do nhambu. Os seus cantos de ninar se encontram perdidos em alguma playlist interior. As histórias que me contou eu reconto. Somos uma continuação de nossas mães.
Os pais não precisam ficar enciumados. Os filhos são feitos a quatro, seis, oito mãos. Adoro sentar ao lado do Loreno e da Maria para jantar ou almoçar. O som da voz deles é imperdível. O seu cheiro é banhado de terra, de água e de sol. Eles enfrutam o Outono e fazem a Primavera chegar antes.
Eles me levam à nona Maria, mãe do meu pai, e ao nono João. Ela era uma eterna trabalhadora, comandava a família com seus dedos tortos. O nono sentava na ponta da mesa, com seu garrafãozinho de vinho, e fingia ser o dono.
Conduzem à nona Pina (Josefina), mãe da minha mãe. Pequena e de cabelo compridos, ficou a sós, com seus dez filhos, aos trinta e poucos anos. O nono Augusto faleceu quando minha mãe tinha três ou quatro anos. Cuidou de todos com um afeto de pedir benção, inclusive do Antoninho que, ainda bebezinho, foi 'adotado' pela nona PINA. Sempre cabe mais um. As raízes adotivas nascem perto. O útero dos pais é bem mais amplo que as estreitas fendas de onde viemos.
A minha mãe viveu e vive carregada de poemas: recolher as vacas, espantar as galinhas da horta, colocar lenha no fogão, fazer o pão de forno, costurar nossas roupas, fazer a polenta que eu nem gostava tanto assim, trabalhar na roça …
Até a mim ela carregou e carrega até hoje. Te amo, mamãe! Você é a melhor Maria Anna do mundo!