Ao menos tente. Se der certo, é só alegria!
Quando conheci Jullia Perin, no fim da década de 2000, não imaginei que aquela garotinha magra de cabelos longos pudesse
Quando conheci Jullia Perin, no fim da década de 2000, não imaginei que aquela garotinha magra de cabelos longos pudesse um dia se tornar jogadora de futebol. Pois a jovem, hoje com 17 anos, que cresceu jogando bola com os meninos na rua, semana passada passou por um período de avaliações na equipe de base feminina da Chapecoense e foi aprovada.
Jullia sonha desde criança em ser jogadora de futebol. Quando começou a falar sobre seu sonho causou certo espanto em alguns familiares e amigos da simpática cidade de Marau, no norte do estado. O olhar torto para a modalidade esportiva pode ser considerado uma reação normal, já que até poucas décadas atrás se tornar um atleta profissional de futebol era “sonho de menino”. As meninas queriam ser professoras. De uns tempos pra cá, os dribles e gols da Marta têm inspirado mais as garotas que a poesia de Luís de Camões. E o que se vê são cada vez menos jovens querendo dar aulas e mais e mais meninas se imaginando jogando em um estádio lotado ou em uma Copa do Mundo.
Por eu ter sido jogador de futebol – e como nossa amizade já virou família – os pais Joclério e Rosane me pediram opinião a respeito do objetivo insistente da menina. E, como um cabeçudo defensor de que os sonhos estão aí para serem realizados – e devido à crescente visibilidade do futebol feminino –, fiquei no apoio, não na vaia: “Se sua filha não tentar, nunca saberá se vai dar certo”. Com o apoio dos familiares, Jullia não teve medo de encarar seus medos e comemorou a conquista em sua página no Facebook: “Estou muito feliz, parece que ainda não caiu a ficha que realmente estou na Chapecoense. E como diria meu amigão Sergio da Silva Almeida: ‘realizei meu sonho mais louco’”.
Os dois principais medos que travam uma pessoa na hora de ela pensar em ir em busca de um sonho são o medo de tentar e não conseguir e o medo do que os outros vão pensar. Eu volta e meia sou atormentado por esses “fantasmas”. Mas sabe o que aprendi? É melhor eu olhar para trás e pensar: eu tentei e “quebrei a cara”, do que ter que enfrentar a sensação de arrependimento por nunca ter tentado. Por isso, seja qual for seu sonho mais louco, ao menos tente. Se der certo, é só alegria, se der errado, é aprendizado.