“Serei o melhor que eu conseguir para eles”

A vida apresenta surpresas nem sempre agradáveis e em momentos difíceis, novos caminhos são traçados. Desta forma, resumida, Olavo vivencia seu mais importante papel: o de pai de Pedro Henrique e João Augusto

A vida apresenta surpresas nem sempre agradáveis e em momentos difíceis, novos caminhos são traçados. Desta forma, resumida, Olavo vivencia seu mais importante papel: o de pai de Pedro Henrique e João Augusto

 

Quando olhamos uma pessoa que conhecemos de vista e estamos acostumados a encontrar por aí, não imaginamos o que ela enfrenta na vida pessoal, as batalhas que trava consigo mesma e com os que a cercam. Quando ela permite que adentremos sua intimidade, questionando – no limite do bom senso – as situações pelas quais passa, de fato passamos a enxergá-la. 

Procurava uma história para homenagear aos pais, pelo próximo domingo. Encontrei Olavo José Benvegnu, pai de Pedro Henrique, nove anos, e João Augusto, cinco, que acabaram de perder a mãe, Ana Paula, vítima de Meduloblastoma.

A morte recente da esposa, ocorrida em 21 de julho, ainda deixa os olhos de Olavo marejados, mas ele sabe, pelas palavras ditas por ele, que é preciso empregar todo o esforço para continuar. “Nunca estamos preparados para perder alguém. Meus filhos perderam a mãe e ainda são crianças, então eu preciso estar bem para que fiquem bem também. Tenho que dar conta”, diz.

Natural de São Domingos do Sul, Olavo aos 15 anos já tinha seu equipamento de som e fazia festas. Estudou em Passo fundo, morou em Caxias do Sul e mais tarde veio a Farroupilha e montou uma academia de artes marciais. Trabalhou em empresas, foi segurança e em um almoço de comunidade, abraçou a oportunidade de adquirir novamente equipamentos de som, a antiga paixão. Daquele momento em diante não parou mais de fazer eventos: monta e desmonta estruturas de som, iluminação e telão para festas e eventos.

Casou-se em 2002, teve seus filhos e seguia a vida normalmente ao lado da esposa. Até que o diagnóstico mudou tudo. “A Ana foi ficar com os pais para ser melhor assistida e os guris também ficavam na casa dos avós para ficarem mais perto da mãe. Eu tentava conciliar a vida profissional e o novo formato de convivência com a família”, conta.
Como a vida segue o trajeto que tem que se
guir, os filhos estão com o pai. “Eles já estão encaixados em minha rotina. Temos tudo programado como qualquer família: eles vão para o contraturno escolar e para a escola, enquanto eu sigo com o trabalho e com tudo o que precisa ser feito dentro de uma casa. À noite: banho, jantar e a gente sempre joga alguma coisa. Estão me ensinando a jogar xadrez”, revela o pai dos meninos.

Os eventos da vida profissional continuam e Olavo sempre conta com uma ajuda ou outra para cuidar dos meninos. Tudo organizado, dentro da programação feita por ele, que de uns tempos para cá abraçou as tarefas típicas de mãe, como levar as crianças ao médico, preparar o jantar, lavar a roupa. “Não vejo dificuldades em lidar com eles, coordeno a rotina com horários e levamos uma vida normal, juntos”, acrescenta.

Sentimento

“Não me sinto um superpai. Estou apenas cumprindo meu dever e exercendo meu direito de cuidar deles. Quero que eles entendam o que aconteceu conosco e que eu sempre vou procurar fazer de tudo para que fiquem bem. Pode ser que eu não seja o melhor pai, mas serei o melhor que eu conseguir para eles, para que se tornem pessoas de bem, pessoas fortes”, confessa Olavo.

Ele tem na ponta da língua as datas responsáveis pelas últimas significativas mudanças em sua vida. Relembrou, por exemplo, quando a esposa recebeu o diagnóstico da doença – 5/9/2016 – até a partida, em 21 de julho, há poucos dias.

Olavo atravessou um período difícil, ao lado da família de Ana Paula, com as quimios e radioterapias realizadas e depois disso tudo, incluindo a reorganização da rotina com os filhos, ainda resta um sentimento difícil de ser explicado. “Me pergunto muito e não chego à conclusão alguma do porquê isso ter acontecido em nossas vidas”, diz, o homem que sabe da importância do papel que o destino lhe impôs. 

No próximo domingo, o trio – Olavo, Pedro Henrique e João Augusto – estará unido celebrando o amor que os une. Como fazem todos os dias desta nova etapa que vivenciam. 

O homem do som segue as batidas do coração.