O foco está nelas
Mulheres agricultoras se reúnem no Sindicato

O Sintrafar, Sindicato dos Agricultores Familiares de Farroupilha, realiza hoje, 23 de março, a partir das 13h30, em sua sede, o Encontro de Mulheres que reúne especialmente as agricultoras, mas também as do meio urbano para refletirem seu papel na sociedade.
Refletir e provocar mudanças quanto à importância de as mulheres participarem do espaço público, nas entidades, movimentos sociais e na política. É inconcebível que sendo metade da população, as mulheres tenham apenas cerca de 10% de representação política. Poucas são as mulheres à frente de sindicatos e nas federações de trabalhadores. Por mais preconceitos que estejam sendo divulgados, é no espaço público que se estabelecem políticas para todos e todas. Daí a importância da participação, analisa a vice-presidente do Sindicato, Suzana Maggioni Bertuol.
Na época, as mulheres se sindicalizaram, o que foi um passo importante e uma grande conquista, e passaram a integrar as diretorias dos Sindicatos. Em Farroupilha, já tivemos duas mulheres à frente do nosso Sindicato: Nailde Valandro e Josecarla Signor, complementa Suzana.
Realizado desde 1986, quando as mulheres agricultoras começaram a se organizar para a conquista da aposentadoria rural, da licença maternidade e de direitos trabalhistas que até então a categoria não possuía, sendo que apenas o homem se aposentava recebendo meio salário mínimo, aos 70 anos, segundo a vice-presidente, o encontro discute principalmente as lutas e conquistas das mulheres agricultoras, as dificuldades enfrentadas cotidiana e historicamente, a permanência de relações de dominação e submissão, a força e a resiliência das mulheres do meio rural.
Mulher rural
As mulheres do meio rural enfrentam ainda muitas dificuldades. Como agricultoras enfrentam os problemas da categoria quanto à carência em infraestrutura básica (estradas, ausência de sinal de telefonia, saneamento básico), a pouca valorização do produto agrícola e da figura do agricultor, o preconceito em relação ao trabalho manual. Como mulheres agricultoras, as dificuldades se ampliam para a falta de reconhecimento em relação ao trabalho doméstico (ainda mais excessivo no meio rural). Historicamente, foi dado às mulheres o trabalho de cuidar – da casa, dos filhos, do marido, dos pais quando doentes, da horta, dos animais domésticos – além desse trabalho quase infinito e não remunerado, na nossa região, as agricultoras sempre trabalharam na roça lado a lado com o marido. Mas apesar disso, pouco foi o reconhecimento. Raras mulheres são proprietárias de terras, poucas são as que possuem renda própria. O resultado é que as comunidades estão se esvaziando, mulheres e jovens não permanecem e há o envelhecimento e a masculinização da população rural, explica, com muita clareza, Suzana.
Para esse ano, se tentará resgatar a trajetória do movimento das trabalhadoras rurais/agricultoras familiares dentro do movimento sindical – as lutas e as conquistas das mulheres, refletir sobre a condição da mulher de maneira em geral e, a partir disso, repensar a participação da mulher na política, resume a vice-presidente do Sintrafar.
Segundo a programação, haverá depoimentos de mulheres agricultoras que servem de inspiração, palestras com Zilba Signori sobre a história e a importância da organização sindical e com Denise Pessoa sobre a participação da mulher na política e outras apresentações e intervenções.
No ano passado, cerca de 100 mulheres participaram do encontro.
É urgente repensar modos de viver para que a agricultura familiar permaneça como grande produtora de alimentos, que haja a sucessão rural e a manutenção das comunidades rurais. A participação feminina é fundamental na construção de um mundo mais feliz e mais igual, onde não haja competição entre homens e mulheres, mas sim partilha, tanto dos espaços de poder quanto nas atividades do cuidar, conclui.
Endereço Sintrafar:
Rua Cel. Pena de Moraes, 765