Ela fez do vôlei a sua vida

Rosemari Bonetto é uma esportista e professora conhecida em Farroupilha. Sua figura sempre esteve ligada aos esportes, aos quais ainda se dedica. O inusitado é que ela possui uma limitação física, que não a impediu de realizar seus objetivos

Se eu tivesse apenas por uma hora as duas mãos, eu a gastaria jogando vôlei para poder tocar completamente a bola e dar manchetes com os braços estendidos. A frase expressa toda a paixão pelo esporte, do qual não ficou longe mesmo com a malformação congênita em seu braço direito: Rosemari Bonetto, a professora Rose, que coordena os eventos do Departamento Municipal de Esporte e Lazer.

O convite de uma amiga traçou a vida de Rose quando estava na sexta série. O nome da amiga ela tem na ponta da língua: Célia Barreto. Éramos amigas de escola e ela me convidou para jogar vôlei. Naquele primeiro contato eu já me apaixonei pelo esporte e veio daí minha escolha profissional pela Educação Física, relembra a professora que fez pós-graduação, no Rio de Janeiro, em futebol de salão e de campo.

Rose nasceu com a malformação e aprendeu a fazer tudo o que uma pessoa sem deficiência faz. Nasci assim, então me adaptei a realizar as coisas desta forma. A dificuldade está na cabeça de quem me enxerga! Passei alguns maus momentos sim por causa da raiva que eu sentia em ser apontada pelas outras crianças, mas fora isso, vida normal, diz.

Entende-se por vida normal exatamente isso. Rose dirige – hoje carro automático, mas já dirigiu os manuais – trabalha, cuida da casa e de si mesma. A única coisa que não consigo fazer é prender meu cabelo, o que não altera minha vida em nada, informa, sorrindo.

Sorrir foi algo que ela fez quando ficou mais à vontade. Uma das primeiras impressões sobre ela foi a seriedade. Olha nos olhos, de forma direta. Os sorrisos, com a conversa, foram aparecendo de forma mais frequente. Não me intimidei em matar a curiosidade sobre sua deficiência e ela menos ainda em responder e até mesmo mostrar como se vira no dia a dia. Perguntei como fazia para cortar as unhas, por exemplo. Ela pegou um grampeador que estava sobre a mesa, colocou sobre o joelho, segurou com o braço deficiente e encenou a ação. Simples assim.

É com esta simplicidade que Rose realiza tudo o que tem vontade. Diz que o Universo é bom com ela, que as oportunidades aconteceram em sua vida, sem que precisasse correr atrás. Praticava vôlei e foi até o Cinquentenário alugar uma quadra para jogar. Esta era a intenção, mas acabou conseguindo um emprego, onde ficou por 15 anos como professora de futebol de salão. Estava me formando na faculdade e já me tornei professora de futsal nas escolas DMD, na época, em 1988. Dei aulas em escolas da rede privada e na Ângelo Chiele, de onde sai para o DMEL, sintetiza.

A professora passou longos períodos nos trabalhos que realizou. Hoje, aos 49 anos, encontra muita gente nas ruas que aprendeu o gosto pelo esporte com ela. Depois de todos estes anos, a paixão ainda é a mesma pelo vôlei, que deixou de jogar há algum tempo. Quando a equipe da qual eu fazia parte começou a disputar campeonatos estaduais, resolvi que era hora de deixá-la porque meu braço me impedia de bloquear e eu sou muito exigente. Mas de vez em quando participo de um jogo ou outro por aqui. O esporte foi o grande diferencial em minha vida porque ele me deu a sensação de ser capaz, reconhece Rose.

A farroupilhense não se casou e também não se arrepende disso. Diz que sua dedicação ao esporte coletivo sempre consumiu muito do seu tempo, também aos finais de semana. Gosto de fechar a porta de casa e não precisar dar satisfação a ninguém. A maternidade também nunca esteve em seus planos e os sobrinhos Lucas, Bianca e Isabela fazem os papéis de filhos.

Rose gosta da proximidade com as crianças e exatamente por isso pediu para assumir uma turma de alunos. No início do contato existe a curiosidade natural nas crianças a respeito do meu braço, elas querem saber o que aconteceu comigo, mas logo depois se acostumam, revela.

Logo, logo vai se aposentar, mas não está pensando nisso porque diz que não consegue enxergar o que vai fazer. Não parei para planejar nada porque minha vida é o esporte, meus melhores amigos são professores de Educação Física, enfim…, afirma, sem encontrar o término da frase.

A professora Rose traçou seu próprio caminho, fazendo o que escolheu fazer de sua vida. Cada um sabe da dor de enfrentar os próprios problemas e superar os próprios limites. No caso dela, os limites podem ter uma proporção diferente, mas isso são apenas detalhes que não comprometem sua felicidade. Não troco minha vida pela vida de ninguém, finaliza, consciente do valor que tem.