Itália na língua e no coração

Professora de língua italiana há mais de 20 anos, Mari Miorelli alimenta em seus alunos a paixão pelo país que admira. Ela divide curiosidades e desperta o desejo de embarcar em um avião com destino à Europa

Claudia Iembo
Especial

Meia hora de conversa é pouquíssimo tempo para desvendar tanta bagagem cultural que ela carrega, não só pelo fato de ser professora da língua italiana há 20 anos, mas por ter uma história pessoal pra lá de interessante. Era o tempo que dispunha. Pegar ou largar. Peguei. Ficou gostinho de quero mais. Professora Mari Ardigó Miorelli.

Divertida, jeito de italiana: fala alto, com as mãos, ri o tempo todo e transmite uma informação atrás da outra. Da minha aula ninguém sai triste, avisa. Não duvido. Nascida em Caxias do Sul, Mari cedo descobriu a habilidade com as línguas estrangeiras. De berço: mãe francesa, pai italiano. Cresceu trilíngue e optou por propagar o italiano. Gosto da musicalidade da língua e meu DNA é italiano! Apesar de ser gaúcha, sinto-me europeia. Não tenho jeito para o chimarrão, pego a cuia e os amigos logo brincam que a gringa vai mexer a polenta com a bomba! Esta tradição não está em mim, agora os costumes italianos, estes sim…, fala sobre si mesma.

Mari tem paixão pela Itália. Conhece muito bem o país e sua cultura. Já viajou muito para lá e pôde notar o choque cultural que os brasileiros experimentam naquelas terras. Especialmente em restaurantes, onde a refeição é servida aos poucos, com primeiro e segundo prato, saladas e frutas. Brasileiro está acostumado a comer tudo junto e isso para os italianos é um sacrilégio. Este tipo de coisa eu abordo em sala de aula, comenta.

Atualmente este é o foco da professora: dedicar-se a cursos emergenciais, ensinar o que a pessoa precisa para sanar uma necessidade pontual. Não quero mais estar envolvida em cursos amplos, quero fornecer mais segurança para quem vai viajar, para quem quer saber mais. Sou uma professora que quer comunicação, é claro que a gramática é importante, mas a bagagem da língua é imprescindível, prega.

O conhecimento que possui é capaz de dar continuidade a este foco, pois há quase 20 anos vem a Farroupilha para as aulas de italiano e hoje, a turma que tem por aqui é composta em sua maioria por pessoas de mais idade. São alunos que buscam conhecer a língua dos antepassados e a idade os torna mais perseverantes no aprendizado. Aprendem e a autoestima vai lá em cima. É muito bom ter alunos mais velhos, é muito gratificante, diverte-se.

A professora ainda aprendeu o dialeto italiano com a avó e também o valoriza muito, dizendo que é a língua do afeto, da família. Por falar em família, ela fez a sua e hoje convive com a saudade de um dos filhos, Marcelo, que mora na Inglaterra. Tenho o Marcelo, que é pai do Hans, de dois aninhos e a Cristiane, mãe do Piero, de sete anos, dia a esposa de Sadi Miorelli.

Para quem vai à Itália, ela deixa a dica: Água na Europa é muito cara e por lá todas as fontes possuem água potável. Compre a primeira garrafinha e a abasteça depois nas fontes. Brasileiro tem mania de tomar mais de um banho por dia e os hotéis faturam com isso, fique de olho. Aprenda a falar o básico e se puder se informar antes sobre o que quer visitar no país, melhor, adverte.

Sobre aprender a falar o básico, Mari ainda complementa. Espantam-me as pessoas que têm a cidadania italiana, se esforçam para consegui-la, mas para quê se não sabem falar a língua? Não vejo a língua desassociada da cultura do país, defende.

Para aqueles que a procuram sem grandes interesses em aprender, ela já avisa: Não ensino papagaios, ensino pessoas que sabem da importância de interiorizar o aprendizado de uma língua. Por isso já me recusei a dar aulas a muitas pessoas. Mas esta sou eu, faço o que faço com muito amor, finaliza a caxiense de alma italiana.