Margarete Andreazza, dona de fortes convicções
A psicóloga e ex-diretora da APAE defende a inclusão de pessoas com deficiência. É admirada e criticada por causa disso. Acreditando em seus princípios, adaptou-se às mudanças da vida e ainda quer mais

Especial
Raramente a vida segue o roteiro que nós mesmos traçamos a ela. Hoje estamos aqui, amanhã em outro lugar, realizando tarefas que jamais poderíamos imaginar. Rotinas mudam com facilidade; crenças, nem tanto. A psicóloga Margarete da Silva Andreazza escolheu cuidar do próximo como caminho de realização pessoal, mas viajou para diversos estados, desenvolveu outras habilidades até chegar a Farroupilha e tornar-se ativa e defensora da inclusão na sociedade de pessoas com deficiência e dependência química.
Esta bandeira que ela defende nasceu de sua experiência em 15 anos como diretora da APAE. Sempre acreditei nas inteligências múltiplas e na APAE há crianças inteligentes que deveriam estar em escolas normais, convivendo com crianças diferentes delas. Sempre enxerguei possibilidades e por isso as mães que subestimam a capacidade de seus filhos não me compreendem, mas em compensação, aquelas que tiraram os filhos da APAE elogiam meu trabalho, enfatiza.
No ano passado, Margarete optou por sair da instituição. Saí por querer investir, fora da APAE, naquilo que acredito, que é a inclusão da pessoa com deficiência. Precisei fazer isso para voltar a ser a mesma Margarete, confessa.
Antes de chegar a este ponto, a psicóloga experimentou diversas vivências, por conta da vida profissional do marido Fernandes José Andreazza, com quem tem quatro filhos.
Natural de Pelotas, casou-se com o agrônomo em 1982 e logo em seguida vieram os gêmeos Samuel e Aline. Ela conta que foi um começo de vida atribulado. Mudaram-se para a casa da sogra em Santa Lúcia do Piai, interior de Caxias. O marido trabalhava na agricultura e ela foi aprender a cozinhar e a cuidar das crianças.
Depois de seis meses aconteceu a proposta de mudança para o Paraná, onde o marido exerceria cargo público e ela retomaria a carreira trabalhando com Psicologia organizacional, treinamentos e palestras. Quatro anos e meio foi o tempo que durou a experiência.
Em 1989, Fernando foi trabalhar em uma cooperativa agrícola no Mato Grosso e a família foi junto. Tornei-me microempresária na área de doces, aproveitando tudo que eu havia aprendido em Santa Lúcia. Botava a mão na massa, atendia no balcão, fazia de tudo. Não dava para ser psicóloga, fui ser outra coisa. Sempre encarei o que tivesse que encarar, diz sobre si mesma.
No Mato Grosso, onde ficou por dois anos, nasceu a terceira filha, Amanda, e a possibilidade de voltar ao sul. Voltei e continuei fazendo doces e cozinhando, afinal, estava com outra criança pequena. Sempre valorizei o tempo com meus filhos porque entendia que não adiantava ser uma ótima profissional se não fosse uma boa mãe. As pausas com as crianças são muito importantes, ressalta.
De 1992 a 1996 trabalhou como assessora psicóloga em escolas infantis em Caxias do Sul. Em 1994, a mudança para Farroupilha, por conta do trabalho do marido na prefeitura. Vida nova, de novo, e trabalho diferente também. Entrava na APAE daqui.
Margarete parece lidar bem com as mudanças. Tinha apenas um mês de trabalho na APAE e ficou grávida de sua quarta filha, Bárbara. Mãe de quatro filhos atendia em consultório e desenvolvia seu trabalho na instituição, da qual se tornou diretora em 1999. Quando me tornei diretora da APAE, enfrentei um período de estreitamento com a morte e através de um processo emocional acabei resolvendo meus conflitos com a figura materna. Foi tudo muito intenso e foi depois disso que comecei a fazer psicanálise, conta.
Hoje, os filhos estão crescidos e cada um segue a profissão escolhida. Samuel é administrador; Aline é psicóloga; Amanda é designer de moda e Bárbara, agrônoma. Margarete continua atendendo em seu consultório, no centro da cidade, é palestrante e assessora semanal do Grupo de Noviços da Igreja Católica Cônegos Regulares Lateranenses.
Aos 55 anos, ela também demonstra o apreço pela Comunicação e não descarta investidas nesta área.
Suas vivências capacitaram-na para enfrentar desafios, principalmente aqueles que existem no percurso de defender sua visão em relação às pessoas com deficiência. A inclusão faz parte de seus anseios profissionais e pessoais. Quero ver minha família bem, feliz. Quero ajudar a cuidar dos netos que virão e que a inclusão das pessoas com deficiência torne-se uma realidade saudável em nosso país para que as diferenças sejam aceitas. Na verdade, eu acredito em um mundo novo, onde as diferenças sejam acolhidas e onde seja possível conviver em harmonia, confessa a psicóloga.
No que depender de suas convicções e da disposição ao trabalho, a realização dos seus ideais pode ser apenas uma questão de tempo.
