Paixão pela estrada
Caminhoneiro Paulo Sérgio Gonçalves Ott, o Paulão, fala sobre a vida na estrada e os desafios da profissão

Viajar pelas estradas, conhecer lugares e pessoas diferentes, sentir-se livre e ser o responsável pelo transporte de boa parte da riqueza do País. Isto foi o que sempre motivou Paulo Sérgio Gonçalves Ott, o Paulão, que há mais de 20 anos ganha a vida na boleia do caminhão fazendo o trecho entre Farroupilha e Porto Alegre, com o baú carregado de frutas, que distribui na CEASA e nos mercados da capital dos gaúchos.
Natural de São Leopoldo e há 10 anos em Farroupilha, Paulão conta que aos 16 anos começou como ajudante de cargas, aos 20 já estava no volante, e desde então a paixão pela estrada só aumentou. Depois que senti cheiro de diesel não larguei mais a profissão, é uma das minhas grandes paixões. Entre as outras paixões estão a família, o Grêmio, e o chimarrão. Acho que hoje o Tigres elimina o Saci, lá no México, brincou, fazendo referência ao jogo daquela noite pelas semi- finais da Libertadores entre Tigres e Internacional, enquanto tomava chimarrão numa cuia azul, preta e branca. A conversa toma um tom mais sério ao falar dos inúmeros problemas que os pro fissionais da estrada enfrentam diariamente. Infelizmente hoje o caminhoneiro é visto como marginal pelos outros motoristas, tudo que acontece de ruim na estrada cai na nossa conta, reclama.
Além da falta de reconhecimento outro problema enfrentado todos os dias nas viagens de Farroupilha até a Capital é a insegurança, primeiro nas estradas, cada dia mais precárias, segundo nas sinaleiras, onde o medo de assaltos é constante. As nossas rodovias estão esgotadas, tem buracos de todos os tipos, falta sinalização e acostamentos descentes, além dos outros motoristas, que com pouca experiência acabam sendo um perigo a mais. Já em Porto Alegre o problema é outro: como instalaram pardais nas sinaleiras, de madrugada você escolhe, ou é multado ou assaltado.
Com todos estes desafios, a religiosidade e o amor pela família funcionam como válvula de escape na vida de Paulão. Sou bastante religioso. Minha mãe, que mora em São Leopoldo, sempre liga e fala que ‘cada volta do pneu é uma benção de Nossa Senhora’. Eu brinco com ela que assim a santinha vai ficar cansada, finaliza.
