Setimana Dela Cultura Taliana, nos Caminhos de Pedra, conquista o público

Imersões culturais e valorização da herança dos imigrantes italianos permearam a programação

Durante cinco dias o roteiro Caminhos de Pedra comemorou os 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul com um circuito de atividades que reuniu comunidade, visitantes e artistas. Literatura, apresentações artísticas, cinema e valorização do dialeto Talian permearam a programação rica em história, tradições e memórias, reforçando o elo vivo entre passado e presente. A abertura, no sábado, dia 9 passado, na Casa da Memória Merlin, emocionou o público com o lançamento do livro bilíngue português/talian “Layla e a Uva”, da escritora Eliane Tonello

“Por algum tempo, se pensou que o livro físico pudesse estar em decadência, mas eventos como o do lançamento da obra bilíngue português/talian da Layla e a Uva fazem pensar que ainda há esperança. Esses encontros são essenciais para transmitir e salvaguardar a cultura Talian. Somos seres de história! Precisamos contar as experiências e estimular a escrita às novas gerações”, pontua Eliane. Na sequência, o Grupo de Dança Juvenil Caminhos de Pedra encantou com coreografias típicas que transportaram os espectadores aos tempos dos primeiros imigrantes.

  • Durante a semana as atividades chegaram também às escolas da região, levando a língua e a cultura italiana às novas gerações.
  • A oficina de Talian, ministrada pela professora Mirna Madalosso, despertou o interesse dos alunos e reforçou a importância da preservação dessa herança linguística nos dias 11 e 13.

“A Setimana teve como objetivo desenvolver na comunidade atividades culturais e linguísticas, mas acima de tudo resgatar a língua Talian. Foi um momento único, mostrando para as crianças que essa era a língua usada pelos habitantes da região há 150 anos, levando-os a uma viagem histórica e emocionante”, conta Mirna. A experiência da valorização do Talian foi incrementada pela celebração de uma missa no dialeto, na Igreja São Pedro. Ministrada pelo diácono Eduardo Cantelli, proporcionou uma experiência única de fé e identidade cultural, levando a comunidade participar diretamente do resgate da cultura.

Pertencimento

O encerramento, dia 13, teve sessão de cinema na Casa da Memória Merlin com a exibição de Nanetto Pipetta, clássico que retrata a saga de um jovem imigrante e se consagra como a primeira obra de ficção escrita em Talian. Para Arlete de Cesaro, coordenadora da Associação Caminhos de Pedra, a adesão do público superou as expectativas:  “A presença da comunidade mostrou que existe um interesse genuíno em vivenciar e preservar as tradições deixadas pelos imigrantes. Eventos como a Setimana Dela Cultura Taliana são essenciais para manter vivo esse resgate cultural”, assegurou.

Para Mirna, o sentimento proporcionado foi também de pertencimento.  “Sou apaixonada pela minha história e pela minha língua. Levar adiante o legado que antepassados é, para mim, um dever. Se chegamos a completar 150 anos de história, não foi por acaso, foi porque alguém desbravou a mata, construiu uma nova vida em outra pátria e nos mostrou que, através do trabalho, da fé, da honestidade e da humildade, é possível erguer uma história que, apesar de marcada pelo sofrimento”, destacou a professora.

O sentimento de pertencimento também se mesclou ao de valorização da literatura, segundo Eliane.“A receptividade foi excelente tanto pelas crianças quanto pelos adultos, justamente porque a trilogia da Layla e a Uva em oito línguas, inclusive em português, é uma obra que, além de apresentar uma história de sonho de uma menina, estimula a conhecer novos idiomas. Isso faz pensar que leitores adultos receberam um estímulo dos professores e familiares quando crianças”, conclui. O evento teve entrada gratuita e foi promovido pela Associação Caminhos de Pedra, com apoio da Prefeitura de Bento Gonçalves.

  • A Casa da Memória Merlin oferece oficinas em Talian e um resgate histórico através da exibição de itens que contam a trajetória da imigração italiana no Rio Grande do Sul.