85 ANOS DE VIDA DO HBSC – DESTAQUE ESPECIAL – ANJO DE AÇO

Nos 85 anos de constituição do nosso hospital, temos a obrigação de ressaltar os momentos mais marcantes desta trajetória, para que fique gravado o nome de pessoas que sem elas, possivelmente o destino da casa de saúde poderia ser outro.

Por obrigação de registrar algo muito importante, passo a ressaltar o grande trabalho realizado pela Sra. Elisabeth Bartelle Laybauer junto a Direção do Hospital Beneficente São Carlos. Saliento que foi a primeira mulher presidente do Conselho de Administração do HBSC e atualmente, Vice-Presidente deste Conselho. Peço escusas ao nobre presidente atual do Conselho de Administração, Sr. Clarimundo Grudmann e Sr. Oneide Barbieri, presidente da Diretoria Executiva, para destacar a Sra. Beth, como é conhecida, pela grande liderança e bondade, que lhe é tão peculiar.

Seu avô, Pedro Grendene, foi sócio fundador e exerceu cargo de diretoria em nosso hospital quando de sua constituição, ou seja, na data de 17 de fevereiro de 1934. Em que pese o Sr. Pedro ser um grande homem de negócios, bem como ter atuado na administração do hospital. É sabido que em outros tempos, a diretoria não enfrentava tantos emaranhados como nos tempos atuais. Digo isto, pois acompanhei várias diretorias junto a nossa casa de saúde, e, todas sempre deram uma parte de suas vidas para colaborar com o templo de saúde, pois a saúde é coisa séria.

Mas, preciso esclarecer que ainda no ano de 1933, até o início do ano de 1934, um movimento se formou com o firme propósito da construção de uma casa de saúde, com a adesão de 142 pessoas, que buscaram um meio de constituir uma sociedade, do tipo Sociedade Civil por Quotas de Responsabilidade Limitada, nos ditames do Decreto n.º 3.078, de 10 de janeiro de 1919, a fim de possibilitar a construção de um hospital. Assim, a entidade foi constituída em 17 de fevereiro de 1934, denominada SANATÓRIO NOVA VICENZA LTDA., no qual, segundo os Estatutos, sua finalidade principal era para a instalação de um hospital com modernas condições técnicas e higiênicas… e terá por fim o tratamento e assistência de doentes de ambos os sexos em geral…. O que deve ser ressaltado, é que os sócios tiveram que colaborar para a formação do capital da sociedade, no qual integralizaram através de quotas sociais, a importância de 168:000.000 (cento e sessenta e oito contos de réis), moeda à época, sendo que cada quota social era de 1:000.000 (um conto de réis), sendo que, alguns dos sócios, integralizaram mais de uma quota social. Tudo isto foi registrado junto ao ofício das Pessoas Jurídicas da cidade de Caxias do Sul, Livro n.º 01, sob o n.º 10, pois Farroupilha na época era distrito de Caxias do Sul.

Caso curioso foi que dos 142 sócios que subscreveram a ata, três (03) sócias eram mulheres, sendo raro na época, no qual destaco a Sra. Giovana G. Travi; Clotilde Tartarotti Padovan e Vicenza Fanton, mas nunca exerceram qualquer cargo na administração do hospital.

Destaco, também, que na década de quarenta, o hospital passava por dificuldades, pois havia a necessidade de ampliar as benfeitorias, sem qualquer reserva financeira, ocasião em que houve uma chamada de todos os sócios para integralizar mais um valor em suas quotas sociais. No entanto, houve a desconfiança acerca do pedido, razão pelo qual consultaram os padres como sábios orientadores na época. A opção da grande maioria dos sócios, foi a transferência das quotas societárias para a Mitra Diocesana de Caxias do Sul, que permaneceu no comando do Hospital, até a sua transferência para o Município de Farroupilha/RS, através de Lei Municipal n.º 1.647, de 11 de setembro de 1989, que autorizou o Poder Executivo Municipal a receber em doação a integralidade da participação societária da Mitra Diocesana de Caxias do Sul no Hospital Beneficente São Carlos. No entanto, verificou-se uma situação complicada para o Município de Farroupilha/RS, que em determinado período, obrigou-se a promover atos de licitação pública e concursos públicos, até a vigência da Lei Municipal n.º 2.773, de 15 de julho de 2003, que Autorizava o município a retirar-se da entidade Hospital Beneficente São Carlos. Regulamentada pela Escritura Pública n.º 7.425 e novo Estatuto Social datado de 30 de setembro de 2003, cuja grande modificação, em termos estatutários, foi no sentido de que as grandes decisões passaram para o Conselho de Administração, através das principais entidades de nosso município.

Nova modificação Estatutária foi realizada ainda no ano de 2013, para a introdução de duas Superintendências, a fim de acomodar duas pessoas que já se encontravam no hospital, onde a situação piorou ainda mais.
Com o agravamento econômico, sobreveio o Decreto Calamitoso nº. 5.555 de 13 de março de 2014, com a retirada de todos os gestores e afastamento das entidades ligadas ao hospital, quando em seu art. 4º, assim constou Os atuais membros da diretoria e dos demais órgãos de gestão, deliberativo, fiscal, consultivo, superintendências e diretoria técnica do Hospital de Beneficente São Carlos ficam afastados e desabilitados de suas funções. O Parágrafo único foi acrescido. A partir da vigência deste Decreto, eventual ato praticado por qualquer membro dos órgãos referidos neste artigo será considerado nulo de pleno direito, sem prejuízo da incidência das sanções pertinentes, nos termos da lei. Ainda, acerca do comando hospitalar e seus poderes, assim trouxe o dito Decreto: Art. 5.º A gestão do Hospital Beneficente São Carlos passa a ser responsabilidade do Município de Farroupilha, por intermédio da Secretaria Municipal de Saúde e com o auxílio do Comitê de Gestão nomeado pelo art. 6.º deste Decreto.

Pois bem, no período da gestão municipal, houve um déficit crescente, chegando a cifras até então não experimentadas.

No entanto, foi no período mais difícil do hospital, que grande personalidade surgiu. A convite da Administração Municipal, quando da revogação da Intervenção, através do Decreto n. 5.891, de 17/07/2015, no qual houve uma Assembleia no dia 17/07/2015, segundo ata registrada sob o n. 32652, do Livro B-204, datada de 21/07/2015, cuja manifestação do Prefeito Municipal e da Secretária Municipal da Saúde teve a seguinte justificativa: sobre as mudanças imprimidas ao longo desse período sobre os avanços alcançados que propiciam encerrar o Estado de Calamidade Pública e sobre o modo e forma como o hospital deverá a partir de agora ser conduzido para fins de garantir a sua sustentabilidade e o eficiente atendimento de saúde da população.

Ao final da Assembleia, o Senhor Prefeito Municipal, conclamou o Grupo de Senhoras, para a formação de um Conselho Voluntário em apoio ao Hospital Beneficente São Carlos, tendo seus atos constitutivos aprovados como sendo ASSOCIAÇÃO DAS VOLUTÁRIAS DA SAÚDE DE FARROUPILHA – AVSF, obtendo como Presidente a Sra. ELIZABETH BARTELLE LAYBAUER, que permaneceu na entidade até assumir a Presidência do Conselho de Administração do HBSC, na data de 20/04/2016, função esta exercida até a data de 10 de maio de 2018.

Destaco, ainda, que o surgimento do grupo das voluntárias, deu um grande impulso para a captação de recursos destinados à manutenção e melhorias do hospital, despertando a contribuição de outros tantos através de donativos de toda a espécie. Até o leite era muito importante para os pacientes.

Como já dito acima, o período em que a Sra. Beth esteve na direção do nosso Hospital foi o mais difícil de todos os tempos. O próprio prefeito municipal, em uma entrevista junto a Rádio Spaço FM, quando indagado acerca da atual situação do hospital, onde pronunciou-se no status que está e sem mudanças, não aguenta 90 dias – divulgação pelo Jornal O Farroupilha, pág. 02, em 06 de janeiro de 2017.

À eminência do fechamento de suas portas, a Sra. Beth dispendeu uma dedicação especial, não somente de atos administrativos, mas também de chamamento da sociedade para ajudar em todos os sentidos tais como; Mobilização junto a CICS de nossa cidade e outras entidades. Ciência aos meios de comunicação da verdadeira situação dramática. Traçar Metas; Complementação de valores, Doações, treinamentos, composições, enfrentamentos com os Poderes Públicos de todas as esferas, contratações de profissionais para atividades específicas, devolvendo a credibilidade necessária para dar seguimento ao seu planejamento. A dívida na época importava em quatro dezenas de milhões. Para muitos era um caminho sem volta. Os médicos em grande parte, além de não terem recebido suas remunerações, foram mandados embora. Somente uma grande mulher dedicada que rompeu todas as barreiras possíveis e deu esperanças àquela situação.

É comum comentar a situação sem qualquer conhecimento da causa. Falar é fácil, mas o difícil é fazer. É mais fácil ser omisso…; É mais fácil não ter compromisso…; É mais fácil ficar em casa…; É mais fácil criticar…; É mais fácil falar dos erros dos outros… Mas, estar no comando de um hospital sem as mínimas condições financeiras é um ato de bravura e coragem, que sempre foi demonstrada pela Sra. Beth.

O Dr. Fernando Luchessi, quando de sua manifestação no Jantar espetacular oferecido pelo Poder Público Municipal, no aniversário dos 84 anos de emancipação deste município de Farroupilha, em sua fala registrada junto ao Jornal O Farroupilha, pág. 03, datado de 14 de dezembro de 2018, referiu-se que o também Homenageado Alexandre Grendene Bartelle, foi um visionário do plástico. Diz o nobre Médico O Alexandre é na realidade um mágico. Um visionário, um pesquisador do futuro. Na época em que o plástico era apenas plástico ele o transformou em beleza, em objeto de desejo, em ouro. Olhos no mundo e pés plantados em sua origem. Não deixou de registrar, também Alexandre e eu temos muitas coisas em comum. Fomos dos primeiros a nascer na Maternidade de Berçário do Hospital Beneficente São Carlos, numa época que os partos eram feitos em casa…. Belo registro de uma das personalidades mais nobres deste município, mas esqueceu que a irmã do homenageado Sra. Elizabeth, foi uma visionária do social. Encarou os fatos em situação desesperadora. Buscou energias que muitos já não mais tinham. Lutou pela bandeira do Hospital. Ficou doente pela vida do hospital. Nossa gratidão e homenagem especialmente pela passagem de mais um ano para comemorar a existência do nosso único hospital da cidade.

Mas, este anjo de aço, deverá ser lembrado para sempre, pois pessoas que se dedicam pelo social, merecem o céu nesta terra. Esta visionária do social, nos deixou perplexos com a sua capacidade de bem conduzir quaisquer dos assuntos, por mais complexos que se apresentavam, ainda, capaz de ver os gestos humanos até então não praticados nesta casa de saúde.

Por fim, este ANJO de mãos de AÇO que Deus nos deu, trouxe a inversão de uma situação até então entendida como irreversível, para continuarmos com um hospital em nossa cidade, com todas as condições de uma grande casa de saúde capaz de atender a todos que necessitarem. Muito Obrigado Sra. ELIZABETH por nos oportunizar esta comemoração dos 85 ANOS DE VIDA do Hospital Beneficente São Carlos.

Nelso Molon
Cidadão Farroupilhense