“A vida é a melhor escolha”

No mês de prevenção ao suicídio precisamos falar sobre a importância de prestarmos atenção ao próximo, contribuindo para a possibilidade de ressignificar a existência, sem julgamentos

Setembro traz as flores à vida, com a chegada da primavera, e também aponta prevenções importantes como a do Suicídio. Setembro é amarelo porque em 1994, um jovem americano de apenas 17 anos, Mike Emme, se matou dentro do seu Mustang amarelo e seus pais, no dia do enterro, distribuíram cartões com fitas amarelas que diziam: “se você está pensando em suicídio, entregue este cartão a alguém e peça ajuda!”. Desde então, tornou-se a maior campanha anti-estigma do mundo. Neste ano o lema é “A vida é a melhor escolha! ” e dia 10/9 é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS – em 2019, foram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia.
Os dados dizem que praticamente 100% de todos os casos de suicídio estavam relacionados às doenças mentais, principalmente não diagnosticadas ou tratadas incorretamente. Dessa forma, a maioria dos casos poderia ter sido evitada se esses pacientes tivessem acesso ao tratamento psiquiátrico e informações de qualidade. “Pode sim ser evitado quando a família, amigos e pessoas mais próximas ajudam a pessoa a buscar um auxílio profissional. Quando pensamos em suicídio, é senso comum, percebermos um julgamento, uma condenação de que falta de algo e isso só piora a situação de quem passa por momentos delicados. Precisamos entender melhor a questão e trabalhar estes preconceitos, falando mais sobre isso para que consigamos prevenir e transformar as situações”, explica a psicóloga do Hospital Beneficente São Carlos, Michelle Balzan.
Segundo ela, existem alguns sinais que são demonstrados e que necessitam atenção, como: tristeza profunda, falta de vontade de conviver com os demais, alteração abrupta de comportamento, extremos como comer demais, ou não comer, e até mesmo a alegria demais. “Além disso, a pessoa começa a tratar de muitas coisas pendentes, quer deixar tudo resolvido e também há casos em que se mostra apática, calma demais, enfim, é preciso notar as mudanças de comportamento daqueles que nos cercam”, adverte.
Esta atenção é de todos nós! Informação pode ser ferramenta de ajuda ao próximo por isso é importante saber identificar comportamentos, tendo uma escuta ativa e sem julgamentos, mostrando empatia, mas principalmente levando a pessoa aos profissionais que possam ajudá-la.

FOTO: Arquivo pessoal

Depressão
Em função de sua alta prevalência, a depressão é a doença mental que mais está associada ao suicídio e por isso, seu tratamento é parte fundamental da prevenção. “Não há como dissociar a depressão de um comportamento suicida, por isso é preciso ter um alerta maior para monitorarmos o comportamento da pessoa, que precisa de uma terapia psicológica e intervenção medicamentosa com psiquiatra para ressignificar o momento aos poucos, trabalhando emoções e somatizações. Quem tenta se matar quer acabar com o sofrimento, com a angústia”, ressalta Michelle.
Importante ressaltar que a depressão é uma doença que tende a ser crônica e recorrente, principalmente se não tratada. Segundo a OMS é a segunda mais importante causa de incapacidade no mundo e acomete 322 milhões de pessoas. No Brasil, são mais de 11 milhões de casos. Os diagnósticos de depressão cresceram 41% no país entre o período pré-pandemia e o primeiro trimestre de 2022.
A psicóloga Michelle ainda alerta que para a pessoa que passa por estes momentos é muito complicado buscar ajuda porque “ela, em um primeiro momento, não vai conseguir ter este desejo de sair daquele vazio, daquela angústia porque acaba se tornando apática, sem perspectiva, sem entusiasmo, daí a importância do olhar atento de quem está ao lado”.
Perceber os sinais. Este é um caminho neste setembro amarelo e em todos os outros meses do ano. O sofrimento é real, assim como a probabilidade de êxito das medidas de prevenção.
A OMS diz que todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama – ou guerras e homicídios. Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa e morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. Trata-se de um fenômeno complexo, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades.
“A tentativa contra a própria vida é um pedido de socorro. Muitas vezes a pessoa não consegue entender e lidar com suas emoções, então se fecha, adoece cada vez mais e chega ao seu limite. Precisamos fazer uma releitura para que possamos acolher mais e realmente transformar a realidade que temos hoje”, conclui a psicóloga.
A vida é a melhor escolha. Sempre.

*Fonte: setembroamarelo.com

REPORTAGEM: Claudia Iembo