Batman de “Farroucity” distribui esperanças por onde passa

Personagem da ficção é incorporado por técnico em radiologia que trocou a formatura pelo traje do homem-morcego

Farroupilha está distante de ser a cidade fictícia de Gotham City, onde um estranho super-herói vestido com capa preta e máscara que remete à fisionomia de um morcego enfrenta anti-heróis, como o Coringa, o principal deles. Mas a cidade das malhas, Capital Nacional do Moscatel, chamada de berço da colonização italiana, também tem o seu Batman. É um super-herói de 32 anos que prefere manter a identidade no anonimato, decisão que justifica com o argumento de que sua pretensão não é a fama, reconhecimento ou recompensa pessoal. “Não quero que saibam quem sou, mas deixar a marca do Batman de Farroupilha como sendo qualquer pessoa”, diz EM, um técnico em radiologia que, assim como o personagem que ganhou os quadrinhos das revistas e, depois, as telonas do cinema, só pensa em fazer o bem.

O Batman de “Farroucity” começou a ganhar forma quando EM assistiu a um vídeo em que uma criança, portadora de câncer terminal, comentou com seu médico que tinha o sonho de conhecer o homem-morcego. O profissional da Medicina, então, se vestiu com o traje do herói e realizou o sonho do garoto, antes de ele partir… “Foi o choque que eu precisava”, contou o homem que veste a capa e máscara em uma palestra que realizou em uma entidade de Caxias do Sul. “Um sonho? Ser o Batman! Parece coisa de criança, não é? Não para mim! Mas heróis existem? Com certeza! Simples atitudes podem nos fazer ser herói na vida de alguém, nem que seja por um momento”, falou ele, na ocasião.

O homem-morcego da Serra Gaúcha concluiu os estudos no ano passado. Neste, 2024, terminou o estágio. Entretanto, o que seria o ápice do seu esforço rumo a uma trajetória profissional de sucesso, a formatura e a festa em comemoração, foi trocado pela materialização do sonho de levar alento, esperança, carinho, especialmente às crianças portadoras de doenças graves. O dinheiro que seria destinado foi investido no figurino, importado ao peso de cerca de R$ 3 mil. “Foi uma forma que encontrei de agradecer por concluir o curso e chegar à formatura”, conta o herói que, no anonimato, pode estar aí na sua frente, agora, enquanto você lê esta reportagem.

A primeira visita que o Batman farroupilhense fez foi no Hospital Geral, em Caxias do Sul, em abril do ano passado. Desde então, conta que já realizou pelo menos 20 destas ações benemerentes, quando a criançada, mesmo debilitada por causa da doença, não economiza abraços e sorrisos. “Sejam as crianças, adultos, idosos, todo mundo fica sem reação, como se aquele momento fosse como um sonho. É maravilhoso ver os olhos delas (crianças) brilhando”, diz o super anônimo herói.

Não fique só na idéia, no pensamento, saia da zona de conforto. Coloque em prática, faça acon-tecer, afinal, não é o que somos por dentro, mas o que a gente faz é o que nos define”. – EM, o Batman de Farroucity

E garante: “Para mim significa fazer o bem, dar esperança para quem precisa, mostrar que as pessoas ainda podem acreditar no futuro, no amanhã, e ser uma inspiração para as outras. Por isso coloquei o nome do projeto de ‘Seja um herói na vida de alguém’. Eu tento transmitir esperança, que elas não devem desistir e que tudo vai dar certo. Que são os verdadeiros heróis, guerreiros e guerreiras. E para todos, no geral, tento transmitir felicidade, tirar as pessoas da rotina de um mundo que está muito no automático”, conta o Batman da terra de Nossa Senhora de Caravaggio.

Sobre a ausência do Robin, parceiro do personagem nas histórias fictícias, o técnico em radiologia explica que as crianças questionam muito mais sobre outros super-heróis. “Elas perguntam pelo Homem Aranha, pelo Hulk, pela Mulher Maravilha, se eu vôo, perguntam onde está o batmóvel. Já me falaram ‘te amo Batman’, ‘eu te vejo na tevê’, e o que me marcou muito: ‘agora eu não tenho mais medo porque você vai me proteger’. Os adultos, sim, perguntam mais pelo Robin, mas as crianças querem saber onde está o Homem Aranha, disparado”, completa.

Embora a disposição de realizar um trabalho voluntário, sem pretensões financeiras ou projeção pessoal, EM conta que tem dificuldade em estacionar seu batmóvel em espaços, como, por exemplo, o Hospital Beneficente São Carlos. “Algumas entidades como a Amafa (Associação de Pais e Amigos do Autista de Farroupilha) me abriram as portas e hoje tenho acesso livre, sempre com uma ótima receptividade. Alguns colégios também, mas no geral é bem complicado conseguir acesso e realizar um trabalho social”, lamenta ele. “Até gostaria de poder fazer mais pelo bem-estar das crianças que necessitam de um carinho”, conclui.

“A versão do Batman que eu me inspiro é da trilogia “O Cavaleiro das Trevas” que durou 10 anos. Então, como esses filmes são importantes para mim e começou tudo ali, eu pretendo ficar por 10 anos sendo o Batman de Farroupilha e, depois, passar o bastão para alguém, se possível”.

Para saber

Para conhecer, acesse https://www.instagram.com/batman_de_farroupilha/

Batman de “Farroucity” em visita realizada no Hospital Geral de Caxias do Sul: objetivo é levar alegria e esperança para quem precisa