Casar ainda é um sonho?
Cada vez menos casais oficializam a união e em compensação o número de divórcios continua crescendo

Tatiane De Bastiani
É cada vez mais comum hoje em dia, as pessoas não se casarem oficialmente e apenas se ajuntarem, como se costuma dizer. Também é comum vermos muitas separações e divórcios. O cartório de Registros Civis, órgão responsável por documentar estes atos, bem como os nascimentos e óbitos, mostra-nos os índices gerais de cada registro nos anos de 2010, comparados ao ano de 2011 em nosso município (quadro abaixo). A reportagem do jornal O Farroupilha foi conversar com algumas pessoas para tentar entender melhor o porquê destes índices.
Atos 2010 2011
Nascimentos 723 815
Casamentos Civis 264 223
Religioso com efeito civil 11 22
Óbitos 301 309
Separações 65 56
Divórcios 96 157
Os direitos
Segundo o vereador e advogado especializado em direito público, Lino Ambrósio Troes, que realizou o primeiro divórcio via cartório, desde a mudança da Constituição no ano de 2010, a traição continua sendo o maior motivo de separações. Porém, judicialmente não mais se questiona quem deu causa a isto e por qual motivo. Isso já não traz mais vantagem alguma perante a lei, para qualquer pessoa do casal. A única vantagem ainda mantida judicialmente é a guarda sobre os filhos, que deve ficar com quem demonstrar maiores condições de cuidado, sendo elas emocionais e financeiras.
Pela emenda constitucional número 66, que alterou o artigo nº 226, parágrafo 6º da Constituição Federal, hoje o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, sem precisar anteriormente da separação e sem critério algum ou período mínimo para a solicitação. Ou seja, o casal que casou hoje, pode divorciar-se amanhã mesmo.
Troes ainda analisa que muitas pessoas perderam o sentido de constituir uma família sólida, devido a muitos aspectos sociais, influências e a própria mudança da Constituição, que também facilitou o crescimento de separações.
Dentre as possíveis formas de união, os casais podem escolher por comunhão parcial ou universal de bens e ainda pela separação total dos mesmos. O advogado explica que não há opção específica que deva ser tomada, cabe ao casal escolher, mas que se pudesse recomendar acredita que a comunhão parcial ou a separação total dos bens, são as medidas que mais evitam conflitos na hora da separação.
Apesar de tantas mudanças judiciais e no comportamento humano, o advogado acredita que o casamento é o que traz mais estabilidade na união e na relação familiar. Vale lembrar também, que os casais que residem juntos, mesmo sem nenhum registro civil e independente do tempo, desde que se reconheçam seus desejos de constituir família, enquadra-se em caso de separação, na comunhão parcial de bens.
Psicologicamente
Caroline Stockmanns Henz, psicóloga, explica que são muitos os motivos que levam os casais a se separarem, mas a infidelidade continua aparecendo muito como causa, além de problemas financeiros e as insatisfações emocionais com relação ao andamento do relacionamento. Para a psicóloga, também não existe regra para se evitar conflitos nos relacionamentos, porém destaca que é fundamental que exista o diálogo, o respeito mútuo e a confiança para que o relacionamento seja saudável e prazeroso para o casal.
Mas se for traído e decidir perdoar, é importante que se recomece a relação com a reconstrução da confiança e do resgate do respeito mútuo, além de muito diálogo baseado principalmente na sinceridade dos sentimentos para que o relacionamento possa ser saudável e prazeroso para ambos novamente.
O casal
Silmara, 31 anos, pedagoga e Flávio Noal, 33 anos, bancário, casaram-se civilmente no dia 5 de novembro do ano passado e no dia 12 do mesmo mês e ano, religiosamente na Igreja de São João Batista, na Vila Jansen. Eles já moravam juntos há dois anos e decidiram oficializar a união. Casaram pela comunhão universal de bens, porque acreditam que juntos podem somar mais e assim todos os seus esforços estarão concentrados para atender objetivos em comum e não individualizados.
Para eles, o maior motivo das separações é o egoísmo, pois a maioria das pessoas que se lançam em uma relação, não estão preparadas e tão pouco dispostas a viver uma vida de doação. “O amor verdadeiro acontece na medida em que fazemos o outro feliz e partir disso, nos sentimos felizes também. Tentar fazer da relação conjugal algo bom para ambas as partes, onde homem e mulher se sintam valorizados é uma das formas mais eficazes para evitar a separação”, explica o casal Silmara e Flávio Noal.
Como dica, o casal menciona que não há receita pronta, mas que um dos ingredientes essenciais é a paciência. Demarcar limites, respeitar o outro, valorizar a individualidade, incentivar o crescimento e a felicidade do outro e principalmente permitir que Deus faça parte dessa conquista, são atitudes que o casal vem tomando desde quando namorados e que dizem estar dando certo.