Em nome do pai

Aproveitamos a proximidade do Dia dos Pais para falar sobre a importância do papel do PAI na vida de todos nós. O projeto Pai Presente, que identifica os pais que não constam registrados nas certidões de nascimento de seus filhos, está em andamento em Farroupilha e ajudando nesta relevância

Domingo é Dia dos Pais, figura masculina de fundamental importância na vida de uma pessoa. Não imagino minha vida sem meu pai. Eu tenho a sorte de conhecê-lo, de conviver, de ter aprendido e ainda aprender com ele. Carrego seu sobrenome e com tudo isso faço parte de uma grande parcela da população mundial que tem o mesmo que eu. Por outro lado, existe um incontável número de pessoas que não tem o nome do pai em sua certidão de nascimento. O que isso realmente significa, só elas podem saber, já que foram privadas de tantos direitos e prazeres.
Há um ano implantado em Farroupilha, o projeto Pai Presente, idealizado por Luíz Fernando Oderich, da ONG Brasil sem Grades, pretende identificar e responsabilizar os pais que não constam registrados nas certidões de nascimento de seus filhos. A partir daí uma nova história pode ser escrita, se a vontade das pessoas envolvidas permitir a convivência e até o vínculo afetivo.
Ter os nomes dos pais na certidão de nascimento é ter uma referência norteadora, além de ser um direito da criança. Oderich, pelas pesquisas que fornecem dados sobre pessoas que não têm registro do nome do pai na certidão de nascimento X criminalidade, concluiu que há sempre uma história difícil, uma razão de dor que faz com que a mulher não coloque o pai para assumir a criança e a Psicologia entra nisso como ferramenta de escuta, de acolhimento, de acompanhamento de cada caso, diz Giselle Dalsochio Montemezzo, a psicóloga/psicanalista que trouxe o projeto para Farroupilha, apresentando-o a Elo Psi e conseguindo a parceria da Prefeitura e da Promotoria da cidade, além de outros igualmente importantes.
O projeto Pai Presente nos toca tanto porque reconhecemos a importância deste registro do nome do pai na certidão de nascimento, do ponto de vista psíquico, pois é um fato que constrói a identidade da pessoa. Ainda que a referência não seja positiva, ela é melhor que o vazio, afirma Vanessa De Cesero Holuigue, psicóloga/psicanalista e presidente da Elo Psi.

Como é realizado?
O projeto Pai Presente é realizado da seguinte forma: a prefeitura, pela Secretaria de Educação, elenca as escolas que devem ser trabalhadas, as psicólogas voluntárias associadas a Elo Psi chamam as mães individualmente apontadas pela direção da escola (já designadas pela Promotoria) e conversam com elas, fazendo o acompanhamento do caso até que o pai seja localizado. Como cada caso tem suas peculiaridades, o caminho até chegar a este pai pode ser longo, ou não.
Não forçamos nada, nós convidamos estas mães e informamos que é um trabalho sigiloso e que estamos ali para dar a mão a ela neste calvário físico e emocional. Claro que existem histórias – como incestos, abusos, etc. – em que não é interessante que o nome do pai venha à tona. São processos densos e delicados, daí a importância da atuação psicológica, explica Giselle.
A primeira escola municipal de Farroupilha trabalhada foi a Presidente Dutra. Até final do ano outras estão elencadas. Além disso, a ideia, segundo a psicóloga, é entrar nas empresas e no comércio.
E quando o pai localizado não aceita a paternidade? Aí entra a parte legal com processos, via DNA. Um dos grandes pilares do projeto é exatamente a construção cultural do pai porque nós temos uma cultura de idealizar demais a mãe, tornando o pai desnecessário, descartável. Uma mãe pode ser mãe e pai, mas nunca vai ser igual. Precisamos valorizar o papel do pai novamente, responde Giselle.
Sobre esta valorização, Vanessa, a presidente da Elo Psi, complementa. É a mãe quem valida o pai. É ela quem dá o lugar do pai, que é um gerador de conteúdo no interior de cada um de nós. Precisamos resguardar a função do pai, garantindo sua absoluta importância para a estruturação de seres humanos melhores e, consequentemente, para um mundo melhor. Penso que isso cabe a todos, principalmente nós, mulheres, validando a figura paterna.
Nada melhor do que aproveitarmos a proximidade do Dia dos Pais como oportunidade para falar sobre a sua importância.
O projeto Pai Presente é uma grande ferramenta de contribuição para um mundo mais harmônico, pelo menos do ponto de vista psíquico dos seres. A Psicologia ajuda a cada um construir sua narrativa, cada um tem sua novela particular e se puder trabalhar em um final mais feliz, melhor, conclui Giselle, a profissional que se dispôs a trazer à cidade um projeto deste nível e trabalha por ele, assim como todos os envolvidos.
Mais pessoas estão a caminho de ser como eu e você, com o nome do pai em sua certidão de nascimento.