Lutando contra o invisível

O mundo todo está assistindo a tristeza que devasta a Itália com o número de casos do novo coronavírus, que

O mundo todo está assistindo a tristeza que devasta a Itália com o número de casos do novo coronavírus, que fez com que um sistema de saúde considerado um dos melhores da Europa esteja perto do colapso, com escassez de médicos e falta de leitos em UTIs. A pandemia roubou a saúde e a alegria de um povo festivo por natureza, bem sabemos. Hoje, predomina o medo, não apenas na Itália, mas no planeta Terra.

Estamos todos no mesmo barco, pois não existe um país no mundo que não tenha sido afetado pelo coronavírus. O que pode mudar no resultado repousa sobre a postura de cada um, sobre a consciência de que é preciso obedecer às regras, principalmente os mais jovens que muitas vezes não apresentam sintomas e por isso passam a infectar outras pessoas. Esta população é considerada um verdadeiro perigo para os mais velhos. Respeitar o isolamento é preciso, sob o risco de vermos se repetir o lamentável quadro dos italianos.  
Pelo mundo há farroupilhenses que enfrentam a pandemia, de acordo com as diretrizes do país onde estão. São pessoas que falam sobre o que estão vivendo, o que estão vendo, seus sentimentos, suas angústias.

Direto do epicentro atual da pandemia, Alexandre Broilo manda seu depoimento. Que ele sirva para nos alertar e não nos amedrontar. De medo já estamos bem-servidos. Que possamos, mesmo em guerra, nos armar de conhecimento e de esperança.

Ainda assim, quando estivermos libertos e curados, precisaremos enxergar – e nos adaptar – aos novos desafios de uma vida que pode ficar mais difícil depois desta pandemia. Em todos os sentidos. 

Que Deus esteja conosco. Durante e depois da Covid-19.

 


“Tudo estava ocorrendo dentro da normalidade, o frio do inverno regalando a Itália seu rigor carregado de charme, turistas e produtividade. Na cidade de Verona as trattorias, os cafés, a Casa de Ópera, os teatros, a Feira Internacional, as Piazzas Bra e Erbe, a Via Mazzini e sua esplendorosa calçada de mármore rosa, estavam continuamente abarrotadas de pessoas, residentes e turistas do mundo inteiro, atraídos pela arte manisfesta em tudo, na cidade do amor eterno. Essa era Verona, e não diferente era Padova e Veneza , enfim, o Vêneto, a Lombardia  e toda a Itália, antes do Coronavírus.

A vibrante Itália não se preocupou com as notícias vindas do oriente, ela estava atenta à manutenção da sua economia, o vírus que bloqueou Wuhan não seria uma ameaça para os Italianos e a “Dolce vita italiana” de hábitos e costumes tão diversos. O primeiro caso autóctone foi detectado no dia 26 de fevereiro, na Lombardia, na potente capital Milão, o alerta soou, mas não o suficiente para frear o ritmo da Itália, a oitava economia do mundo, a terra das marcas famosas do vestuário, do automobilismo, motociclismo, da náutica… e do turismo. O contágio se dissemina, as mortes iniciam e o apelo para ficar em casa é feito, pequenas localidades são isoladas a contra gosto de seus residentes e governantes, a Itália se nega ser reconhecida como um lugar “apestado” a ser evitado.

Os casos aumentam rapidamente, em escala exponencial, a Lombardia, o Vêneto e a Emília Romagna, as três potentes províncias da Itália são afetadas pelo vírus,  e tornam-se zona vermelha de risco. A xenofobia aparece, a exclusão aos chineses e asiáticos logo passa a ser aos residentes do norte em relação aos do sul, onde, todavia, não haviam contaminados. Residentes do Norte dirigiam-se ao sul em busca de proteção e refúgio, mas, em poucos dias, todo o território italiano está contaminado, fazendo o Governo tomar uma medida drástica e declarar toda a Itália, zona vermelha de risco. Os contágios e as mortes seguem aumentando vertiginosamente, escolas, comércio, turismo, trânsito de pessoas tudo suspenso.  A Itália muda e passa a ser rechaçada pelo mundo, torna-se o país a ser evitado dentro da própria Europa.

O governo assume sua falta de experiência com relação ao vírus e busca recuperar o tempo perdido, não mede esforços e recursos em combatê-lo, adota uma estratégia de guerra, a epidemia se transforma numa pandemia e o mundo abre os olhos para o inimigo invisível. A escalada de contágios e mortes aumenta de forma exponencial enquanto as curas acontecem timidamente, o medo assume o protagonismo e apesar da estrutura sanitária ser de excelência, não há hospitais e pessoal sanitário suficiente para fazer frente ao inimigo mutante que já não seleciona seu grupo de vítimas, não ataca apenas os anciãos, agora ele se torna mais cruel e não poupa nem as crianças e faz vítimas de todas as idades. Se não bastasse outro inimigo se soma a ele, a desobediência das pessoas, que resistem ao isolamento e insistem sair às ruas.

A Itália foi forjada em batalhas e lutas, reconhece que o custo será alto, mas que a vida vale mais. A Ferrari inicia fabricar ventiladores pulmonares, a Prada, máscaras cirúrgicas. O exército sai às ruas para levar os corpos ao crematório e também aplicar o rigor àqueles que saltam o isolamento. Os médicos e enfermeiros estão exaustos, computam casos de pânico, estresse agudo, muitos já foram contagiados e mortos. Para fazer frente, médicos e enfermeiros aposentados voltaram ao fronte, somam-se a eles especialistas russos, chineses e cubanos que desembarcaram no país. 

O apoio psicológico, econômico e emocional é fundamental para toda a população, sem distinção, não se medem esforços para mantê-la com bom ânimo, pois, a previsão é de no mínimo mais alguns meses de reclusão social. Há esperança, as curas estão acontecendo.

A Itália aprendeu que coronavírus é um inimigo rápido e  letal e somente pode ser derrotado com aplicação do rigor  e a colaboração de todos”.

Alexandre Broilo