Celular, crime e fator humano

O furto e roubo de celulares é um dos principais crimes do chamado “pequeno potencial ofensivo”, ou seja, aqueles oferece

O furto e roubo de celulares é um dos principais crimes do chamado “pequeno potencial ofensivo”, ou seja, aqueles oferece menos risco às pessoas. Moro em Porto Alegre, mas converso diariamente com amigos do interior e noto que alguns hábitos se repetem em todas as cidades, independentemente do porte.
Um dos perigos consiste em falar ao telefone enquanto se caminha pela calçada. Parece fácil mudar este vício, mas o aparelhinho está tão incorporado à rotina que parece constituir uma extensão do nosso corpo. Daí, a dificuldade em resistir ao chamado da campainha, mesmo ao atravessar a rua.
Ao volante o celular é ainda mais nefasto. Proliferam estudos referentes à distração que o uso provoca no motorista e, por consequência, acarreta acidente de maior ou menor gravidade. O furto do telefone também é bastante facilitado pelo próprio usuário. Um exemplo? Almoço diariamente em restaurantes, notadamente os bufês, que há muito deixaram de ser baratos.
Surpreende a quantidade de mulheres que deixam bolsas e celulares sobre a mesa enquanto se servem de comida e sobremesa. Há muitos anos sabe-se que existem casais especializados em furtos de todo tipo dentro de restaurantes, bares e cafeterias. Geralmente um deles distrai a vítima enquanto o comparsa faz a limpa nos objetos e sai de fininho.
O fenômeno dos furtos – e também a frequência de acidentes domésticos com o aparelhinho – turbinou o mercado de seguros. As operadoras, sempre ágeis em cobrar, mas “desorganizadas” para explicar cobranças abusiva, equivocadas ou injustas – e fazer estornos, aproveitam o pavor do consumidor para empurrar mais um produto que onera o bolso do usuário.
Comprei o primeiro celular em 1994, quando minha mulher estava grávida. Conseguir um telefone fixo na época, além de caro, era uma tarefa de gincana. Previdente diante da primeira gravidez, ela exigiu que comprássemos um aparelho. Isso exigiu que eu ficasse quatro horas na fila da extinta CRT – Companhia Riograndense de Telecomunicações – sob sol escaldante. À época, o proprietário de celular pagava ao receber uma ligação, acreditem. 
Os aparelhos eram enormes, pesados, apelidados de tijolão. Levava-se um dia inteiro para carregar a bateria que “viciava” (a carga era reduzida) ao interromper o carregamento. A evolução da tecnologia, a massificação do uso e multiplicidade de facilidades oferecidas pelos celulares provocou uma revolução, inclusive no relacionamento entre as pessoas, notadamente entre as famílias.
O furto é resultado da procura de aparelhos mais baratos. Ou seja, alguém – sempre! – está interessado no resultado do crime. Seja para levar vantagem – pagando menos por modelos modernos -, seja para usar como moeda de troca na aquisição de drogas. O fator humano é sempre vital no crime.