Hipocondria, doença de brasileiro
Quase 80% dos brasileiros se automedicam. Cá entre nós: esta manchete, publicada em um caderno de saúde no final de
Quase 80% dos brasileiros se automedicam. Cá entre nós: esta manchete, publicada em um caderno de saúde no final de semana, não constitui novidade. Basta percorrer farmácias Brasil afora para constatar que, ao lado do supermercado, são os únicos estabelecimentos que têm, sempre, muito movimento de pessoas.
Costumo dizer que brasileiro, mesmo com a saúde perfeita, é o único no mundo que sempre que possível passa na drogaria em busca de lançamentos ou promoções de remédio.
– Vai que amanhã pego um resfriado ou sofro uma crise no bico-de-papagaio… – repetem os viciados.
Os hipocondríacos estão em toda a parte. Por exemplo: no trabalho basta reclamar de uma leve dor de cabeça para pipocarem sugestões de medicamentos, especialistas que atendem com ou sem convênio e, é claro, as infalíveis dicas caseiras à base de chás e ervas
O dado inicial destra crônica é resultado de pesquisa realizada pelo Datafolha a pedido do Conselho Federal de Farmácia (CFF) que subsidia uma campanha nacional de conscientização sobre o uso racional de medicamentos. Foram entrevistadas 2.074 pessoas de todas as regiões do país. O nível de confiança da pesquisa é de 95%.
Um grande contingente (57%) relatam que passaram por consulta médica, mas não usaram o remédio conforme orientado, alterando a dose prescrita. O principal motivo alegado foi a sensação de que o remédio fez mal ou a doença já está controlada.
Segundo o presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter da Silva Jorge João, grande parte do problema está relacionada às consultas rápidas onde o médico mal olha para o paciente:
– Ele sai do consultório cheio de dúvidas, não entende a prescrição, toma do seu jeito ou abandona o tratamento quando se sente melhor – revela.
Outra consequência da rapidez no atendimento é a impossibilidade de criar uma relação de confiança entre médico e paciente. Além disso, muitas pessoas com doenças crônicas acham que já conhecem o seu problema e adotam comportamentos próprios em relação aos remédios.
A mania de doença também é reflexo do atendimento precário em diversas unidades oficiais de saúde. A falta de fichas nos postos de saúde, a escassez de medicamentos de distribuição gratuita e as deficiências de acolhimento de quem sofre com as dores é parte de uma conjuntura injusta.
A automedicação é nociva à saúde, mas para muita gente é a única alternativa. Outro fator que estimula este comportamento são os balconistas de farmácias que, apesar da existência de farmacêuticos formados, em sua maioria mantêm o hábito de ministrar remédios sem conhecimento técnico. Por tudo isso, as conclusões da pesquisa não surpreendem.