Férias… será?
Será mesmo… será que aquela criatura, magnata da indústria, afainado durante todo ano como executivo de empresa irá desfrutar um
Será mesmo… será que aquela criatura, magnata da indústria, afainado durante todo ano como executivo de empresa irá desfrutar um período de férias? Compromissado com seus afazeres, férias nem pensar… talvez uns dias de folga. Encontrar um espaço em sua agenda recheada de compromissos não é tarefa fácil. Buscar uma pausa, mitigar afazeres. Encontrar um momento para reflexão é preciso. Apoquentado, é necessário descanso da mente, quando as atribuições se confundem com atribulações. Por tudo isso, pelo exagero, pela aflitiva condição funcional, há recomendação médica: desafogar seus compromissos, aliviar-se de estafantes situações, dividir responsabilidades, reduzir o esforço cotidiano e assim evitar um irremediável infarto. A família exalta a recomendação do médico, clama pelo sossego. A família insiste, ao menos uns 20 dias de férias. Incentivos, estimulações não faltam. Familiares afirmam: necessário se faz encontrar a paz de espírito, realizar uma introspecção da vida estressada, relaxar, tornar-se indolente naquela paradisíaca praia – para onde deve ir – encontrar o sossego. A desculpa do intimado empresário: “é muito longe”. Fica distante de qualquer área urbana, numa grota, lá em “deusmelivre”. Na verdade não tão distante, para quem faz uso de um helicóptero. Seja qual for o lugar onde fica a casa da praia há conforto, inteira comodidade, cercada por uma atmosfera de enlevo, com aquela sensação de êxtase ao sentir a fragrância do mato indevassável na redondeza, a percepção do aroma trazido pelo vento do mar azul. Enfim, o intimado é convencido. Chega ao aprazível destino. Sente-se bem à vontade. Veste bermuda, sem camisa, pés descalços. Se desfaz do relógio, largado em qualquer lugar. Não há ligação com o mundo moderno, sem televisão. Momento de espraiar-se. Caminhar sobre a areia fofa e alva. Observar a espuma, formada pela agitação do mar, arrebentando-se na areia.
Antes porém da caminhada, necessidade de lambuzar-se com protetor solar. A epiderme branca, mais branca que do digitador de computador, verdadeira “brancura rinzo”. Caminha. Adiante, encontra um boliche, uma vendinha de gêneros de primeira necessidade, ou quase. Uma turma de idosos jogando dominó. Outros alguéns, esfregando a barriga no balcão bebendo uma “purinha”, jogando conversa fora. O citadino empresário sem qualquer preconceito, tipo assim, gente do povo, pede uma caipiroska. O dono do boliche não entende. Pergunta: “como é que é?” O freguês diz que é uma caipirinha com vodka. Proprietário do varejo informa: “somente com cachaça”. Resposta: “tá bom, serve essa”. Bebe descontraidamente. Ouve um diálogo, com aquele inconfundível sotaque de marisqueiro e chama sua atenção: “O patrão escutou na rádio que o tal de “over” chegou a mais de 100%, a inflação do mês prevista é de 72%. Notícia ruim chega em qualquer lugar.
Acabaram as férias do empresário.