Tempo de tortura

O tempo passa e a pestilência prossegue já algum tempo, em sua trajetória fatídica e tortuosa, ao que parece por

O tempo passa e a pestilência prossegue já algum tempo, em sua trajetória fatídica e tortuosa, ao que parece por   indeterminado tempo. Torturante, está fazendo a devastação na humanidade. Será o fim dos tempos? O apocalipse está chegando? Em livros escritos para cristões, contém revelações e mistérios quanto ao fim do mundo. O mistério será o abominável infectocontagioso coronavírus? Não se sabe. O caminho aflitivo e cruciante é percorrido com a angústia de ver tudo terminado. Até quando? Num dia desses, minha netinha Cecilia (4 anos) dialogava com a mãe Carolina: “Mãe, amanhã o coronavírus vai embora. Não… depois da amanhã. Sabe mãe não sei quando”. É Cecilia, não se sabe até quando vamos conviver com essa incerteza que gera medos e preocupações para crianças e adultos.  

A gripe espanhola perdurou por dois anos. A influenza H1N1, durou também dois anos. Contra a gripe espanhola o remédio era limão com açúcar, dizem, surgindo daí, a caipirinha. Para a influenza foi criada uma vacina. O escritor Rui Castro em seu livro “Metrópole à Beira Mar”, obra que aborda o Rio de Janeiro em 1920, época em que a gripe espanhola dominava o mundo, no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, em razão de uma crise   sanitária e econômica. O que causou momentos pavorosos: infectados não eram enterrados devidamente. Hospitais, com leitos insuficientes não tinham espaços para acomodar doentes, Ficaram pelos corredores em cadavéricas exposições. Muitos por ali mesmo morriam. Prossegue Rui Castro: remédios faltavam, assim como madeira para fazer caixões. Chegava ao ponto das pessoas condenadas, em fim de vida, serem enterradas vivas para não haver mais contaminação. A população foi aconselhada a evitar aglomerações em trens, bondes e ônibus. Na época ninguém acreditava na espanhola, tratava-se de um resfriado e não foi. Isso há 100 anos, hoje… A gripe espanhola alastrou-se em todo o mundo, acreditando-se que matou muito mais de 50 milhões de seres humanos. Na primeira grande guerra morreram nove milhões de soldados. No Brasil acredita-se em 35 mil óbitos, entre eles o de figuras ilustres como o presidente da República, Rodrigues Alves e o poeta Olavo Bilac. 

A terrível pandemia deixará cicatrizes na humanidade: no ano passado a ONU informou que a desnutrição no mundo (2019) tinha a estimativa de que 130 milhões de pessoas estavam em crise alimentar aguda, famintos. Com a praga do Covid-19 é previsto que se some mais 135 milhões de pessoas que entrarão na contundente estatística dos famélicos. Uma desgraça para mais de 260 milhões de pessoas numa penúria piedosa, perdidos no caminho miserável dos indigentes. Mais estigma: com a peste gripal, em torno 25 milhões (estatística em março desse ano), de empregados no mundo, passarão a ser desempregados. No Brasil, a crise da moléstia, calculam especialistas da OMS, deve ocorrer agora nos meses de junho e julho e numa conta provável, 80 mil brasileiros estarão mortos em agosto. A crise doentia pode ter seu fim somente em setembro. Nos Estados Unidos já chegaram a óbito mais de 100 mil pessoas, soma superior aos mortos americanos em duas guerras: Coreia e Vietnam.