Bem-vinda, guria, aos 18!
Parece que foi ontem. Eu fiz uma ligação despretensiosa: – Sei que vocês estão habilitados para adoção de uma criança,
Parece que foi ontem. Eu fiz uma ligação despretensiosa:
– Sei que vocês estão habilitados para adoção de uma criança, mas gostariam de conhecer uma menina de doze anos?
O casal não respondeu nem sim, nem não. Eles pretendiam uma criança de, no máximo, cinco ou seis anos. A pureza do silêncio deu o alarme. A ligação ficou repicando nos ouvidos. Alguns dias depois, eles foram conhecer a menina na Casa Lar.
Já se passaram seis anos. O tempo arrasta seus encontros. O silêncio desimportante se fez presença. Adotaram a filha. Não são necessárias muitas palavras para eternizar aquilo que importa. Um campo de trigo com corvos é tudo o que Van Gogh precisa. Uma ponte japonesa invade Monet para ser pintada seis vezes.
A mensagem, que li nesta semana, daquele pai pretérito e atual é um canto e um poema às asperezas das pedras pontiagudas. É o quadro estampado nas cores da retina do pintor:
“Parece que foi ontem que nos conhecemos! Tu então com teus 12 anos de idade e uma bagagem grande para administrar. O tempo passou. Tivemos cobranças, risos, choros e muita evolução, acima de tudo e em todos os sentidos. Hoje chegas aos 18 anos e 1/3 da tua vida compartilhada com a nossa família. Que o destino continue trilhando bons caminhos para ti, mas que saibas valorizar a evolução alcançada e buscar um grande futuro para ti e todos aqueles que fizerem parte da tua vida! Te amamos!!”
A mensagem engrandece o meu ofício de juiz e recita crônicas. Todo pai adota. Toda mãe adota. Todo filho e toda filha são adotados. É esta a boa paternidade. É esta a maternidade que faz bem. As cobranças, os risos e os choros compõem o tratado geral da existência de cada um, o campo exponencial do trigo e dos seus corvos. Compartilhar a família é importante. Uma ponte japonesa une uma vida à outra.
É tempo de lavar os pés, subir colinas espinhentas e ressurgir das cinzas acima de tudo e em todos os sentidos:
– Bem-vinda, guria, aos 18! Que o destino continue trilhando bons caminhos para ti!