Eu sei quem meus pais são!

Eu mal havia nascido e meus pais me levaram de Caçapava para o Irapuá. Aos 10, meio assustado, saí do

Eu mal havia nascido e meus pais me levaram de Caçapava para o Irapuá. Aos 10, meio assustado, saí do interior e fui estudar em Cachoeira. Na capital do arroz vivi até um pedaço da vida adulta e casei com a Marta, que teve o Sergi. Em 2001 mudamos para Caxias, onde nasceu o José. Em 2014, fomos de mala e cuia para Chapecó. E depois, para a Praia de Cabeçudas, em Itajaí, de onde escrevo esse texto ao mesmo tempo em que observo pela janela as ondas morrendo na areia e arrumo as malas para retornarmos a Caxias. Sim, estamos de mudança… de novo. Vou explicar.

Meu pai, Benemídio, de 82 anos, presidente da Celetro (Cooperativa de Eletrificação Centro Jacuí) ficou por 19 dias internado no Instituto de Cardiologia, em Porto Alegre, onde fez implante de marca-passo. Eu, longe 500 quilômetros, ao ser informado do horário da implantação do dispositivo, peguei a estrada e cheguei a tempo de vê-lo ser conduzido à sala de cirurgia. E impus a mão sobre sua testa e orei por sua saúde. Depois permaneci na sala de espera com minha mãe (que ficou ao lado do marido no quarto que o “devorou” por quase três semanas, numa rotina diária de amor) e tomei a decisão: vou voltar para perto dos meus velhos.

Há um alerta que os que estão comprometidos ideologicamente com a “destruição da família” ignoram: “O que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida”. E, mesmo que alguém “torça o nariz” e diga: “Meu pai é casca grossa” ou “minha mãe é osso duro de roer”, posso garantir por experiência que a casa dos pais é o lugar para onde se vai quando tudo está escuro. Por isso, costumo dizer aos jovens que não têm bom relacionamento com os pais: “Se um dia tudo for pro inferno, seus pais serão os únicos que ficarão ao seu lado sem vacilar”.

Desventuradamente, ouvi de um amigo: “Você vai deixar de morar na praia só para ficar mais perto dos seus pais?”. E lhe contei a história do filho que, apressado, disse ao médico: “Doutor, pode ser mais rápido, pois tenho que tomar café com minha mãe”. O homem perguntou: “Ela deve ficar muito feliz?”. O rapaz respondeu: “Que nada, doutor, ela nem me reconhece mais”. O médico indagou, com voz de espanto: “Quer dizer que você vai tomar café com sua mãe, que nem sequer sabe quem você é?”. O filho, com voz firme e amável, rebateu: “Ora, ela não sabe quem eu sou, mas eu sei quem ela é!”.