Sinceridade demais prejudica?
Há poucos dias mandei para alguns amigos e amigas, pais de filhos pequenos, um vídeo que recebi no whatsapp. O
Há poucos dias mandei para alguns amigos e amigas, pais de filhos pequenos, um vídeo que recebi no whatsapp. O filme mostrava um piá de uns quatro anos interagindo com a “dinda” que repetia que gostaria que ele ficasse sempre pequeno. A insistência gerou irritação do guri que, a certa altura, desabafa:
– Eu quero crescer porque for grande quero tomar cerveja!
Um das minhas amigas, conhecida pela sinceridade, mandou uma mensagem de volta.
– Preciso treinar meu filho a não ser como eu… super-sincera em todas as ocasiões – afirmou.
Mais adiante, disse que ao encontrar-se com os novos vizinhos do prédio, o gurizote a fez passar vergonha.
– Encontramos a família novata no condomínio que se apresentou à mãe e filho que, num rasgo de franqueza, disse. “Então são vocês que fazem tanto barulho todo o tempo?”
Já escrevi várias vezes neste espaço sobre os desafios de criar filhos nesta época maluca de revolução de costumes. E de conectividade ininterrupta e em que se pode falar mal de todo mundo nas redes sociais, com o único ônus de provar depois as barbaridades ditas. Com filhos adultos fico arrepiado só de imaginar o tamanho da encrenca que isso representa.
Como ensinar à criança que é preciso, sim, falar a verdade? Mas que não se pode contar à tia solteirona que ela é uma chata, infeliz e gorda? É uma encruzilhada detalhar que hipocrisia é feio, mas permite a convivência entre seres humanos.
Neste viés de educação, cresce de importância o trabalho desenvolvido pelos professores, muitas vezes obrigados a lidar com salas lotadas de crianças e adolescentes que desconhecem limites e têm todas as vontades satisfeitas. Como agravante eles não dispõem de ferramentas de coação que os pais e responsáveis possuem para educar a gurizada.
São tantas as nuances que sempre lembra da minha mãe, quando ela se referia à árdua tarefa de ter e criar filhhos:
– No Brasil a gente precisa fazer curso para tudo: dirigir, ser padrinho de casamento e batizado, recuperar a carteira de motorista… só pra ter filho não precisa nada disso.Só precisa vontade! – dizia a dona Gerti, coberta de razão.
Esta minha amiga, cujo filho cometeu o que modernamente se chama de “sincericídio” ao falar dos vizinhos barulhentos, deve passar noites em claro na busca do meio termo entre o mundo real e o mundo ideal. O equilíbrio, como sempre, é o melhor conselheiro. Excesso, inclusive no quesito sinceridade, só prejudica.