Aventura ao extremo sul
Com apenas uma mochila nas costas e muita força de vontade no corpo, Leonardo, Emerson e Evandro pretendem formar um grupo de pessoas para atravessar a orla da praia do Cassino. São cerca de 240 km em 10 dias de muita caminhada

Tatiane De Bastiani
Espírito aventureiro. É isto que rege a vida de Leonardo Haupt, Enólogo, 45 anos, de Emerson Mattos, Construtor, 32 anos e de Evandro Clunc, Condutor de Turismo de Aventuras, 35 anos. Leonardo e Emerson são Farroupilhenses e Evandro é Caxiense. Amigos integrantes do grupo de caminhada e trilhas ecológicas, Sol de Indiada, que também tem o blog: www.soldeindiada.blogspot.com, eles costumam sempre que a rotina de suas vidas permitem, fugir do agito e se aventurar.
Em 2004, Leonardo acompanhado de seu irmão Ricardo Haupt e o amigo Cristofer Boss, atravessaram toda a orla da praia do Cassino, na cidade de Rio Grande, a pé. Para este ano, Leonardo pretende repetir a expedição ao Farol do Albardão, entre os dias 14 a 24 de junho. A praia do Cassino é a maior praia do mundo em extensão territorial, tendo 240 km de comprimento, indo desde a cidade de Rio Grande até o município de Chuí, o ponto mais extremo ao sul do país.
Na primeira vez que o grupo fez a travessia desta praia, Ricardo, irmão de Leonardo, gostou tanto da experiência e do local que resolveu se mudar para lá e, desde então, reside em meio aquele deserto. Segundo Haupt, a região se assemelha muito a um deserto, pois apenas os primeiros 25 quilômetros possuem habitações e sinais telefônicos.
Desta vez, Haupt, Mattos e Clunc, pretendem apenas com uma mochila nas costas, fazer a travessia de toda a praia. Na primeira vez que Leonardo fez a mesma aventura, o grupo que percorreu havia levado um carrinho para transportar os mantimentos. Sabemos que desta vez será mais difícil, pois teremos um peso a mais para carregar nas costas, explica Haupt. Com a vista de um lado para a Lagoa Mangueira e do outro para o Oceano Atlântico, a faixa de areia que permite a caminhada é de apenas cerca de 200 metros. Isso se a maré não subir muito.
São várias as dificuldades encontradas no caminho, que fazem com que os aventureiros que estiverem ali, distantes de tudo, parem para refletir no que realmente vale desta vida. Se a maré subir muito, podemos ter que ficar ilhados por dias, até ela baixar, constata Haupt. Sem ter como contatar familiares e até mesmo socorro médico, os caminhantes devem manter muito cuidado para não se ferirem, pois nestas horas qualquer lesão pode levar a complicações muito maiores.
Por haverem poucas condições financeiras como apoio, a única ajuda médica que o grupo leva nas aventuras é um kit de primeiros socorros. Na primeira vez que Haupt realizou esta mesma trajetória, alguns integrantes sofreram lesão muscular, inclusive ele, devido ao extremo esforço, mas nada foi grave. Este é o lado bom, saber que corremos riscos. Testar o limite do nosso próprio corpo e conviver com a natureza. É fabuloso, ressalta o Enólogo.
Entre os dias da aventura, acontecerá o solstício de inverno, no dia 21 de junho, o dia mais curto de todo o ano.
Temperaturas muito baixas, próximas de zero grau, mas com sensação térmica de muito menos, devido ao vento sul, também serão enfrentadas pelos caminhantes. Entre os quilômetros 160 a 200, há uma faixa de conchas e fósseis que dificultam a travessia. Porém, neste mesmo quilômetro 160, há um posto da Marinha, no Farol do Albardão, onde os aventureiros encontram telefone e estadia.
Se o grupo estiver com sorte, pode também, encontrar companhia. Profissionais da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) trafegam a região para realizar pesquisas. Os interessados em aventurar-se podem se juntar ao grupo que terá no máximo 15 pessoas, contatando Evandro pelo telefone: 9117 9771 ou Leonardo: 9992 7851. Os valores ainda não estão definidos e quanto aos itens necessários, há como combinar.
Apresentação
Na próxima quarta-feira, dia 22, os organizadores apresentarão o projeto da Expedição Albardão, às 20h, no Paiol Espaço Nativo em Caxias do Sul – rua Flora Magnabosco, 306, bairro São Leopoldo. Na oportunidade também serão mostradas fotos da expedição realizada em 2004.
Diário
Abaixo, um trecho do diário do dia 22 de junho de 2004 escrito pelos aventureiros.
Ainda antes de dormir na noite passada, escutamos pelo rádio do Cris que havia morrido Leonel Brizola. Nosso capelão, o Gordo, fez uma homenagem a ele e dormimos…
Neste almoço não tínhamos água e então ocupamos a água do mar para fazer o espaguete… O local para o almoço não foi escolhido ao acaso, foi no exato momento em que o Cris anunciara a chegada do km 117 da expedição, estimado como sendo a metade da caminhada.
Após praticamente se arrastar com o Antares na areia, sem enxergarmos aonde íamos, e a exatos 139 km, após percorrer 44 km de nosso último acampamento, topamos de frente com o Albardão.
Vale lembrar
As pessoas que quiserem participar passarão por testes elaborados pelos organizadores para medir a capacidade física e emocional dos integrantes.
Apoio
Os organizadores, Leonardo, Emerson e Evandro, também pedem apoio a todas as empresas que puderem auxiliar com materiais e equipamentos diversos, necessários para a aventura. Como mochilas, sacos para dormir, roupas apropriadas para o frio, comida desidratada, transporte até o local, entre outros.
Guiness Book
A praia do Cassino, na cidade de Rio Grande, está classificada no Livro dos Recordes, como a praia de maior extensão territorial do mundo. São 240 km de comprimento, considerando toda a orla que vai desde a cidade de Rio Grande até a cidade de Chuí, extremo sul do país.