Aposentada e feliz aos 82 anos bem vividos

Vendendo jornais e revistas há 60 anos, Dona Maria Dotta faz parte da história da cidade

Na sua simplicidade e ainda com muita energia, Maria Grespan Dotta completou 82 anos no sábado, dia 23. E pôde, depois de mais de 60 anos, saborear esta data em família, sem se preocupar com o trabalho. Ela e os filhos – Marilene e Júlio César – resolveram vender a Livraria Dotta, ponto tradicional no Calçadão da Júlio de Castilhos. Com isso, ela definitivamente se aposentou de uma atividade onde se tornou muito popular em Farroupilha.

Natural de Carlos Barbosa, filha de imigrantes italianos, Dona Maria faz parte da história de Farroupilha graças à iniciativa do marido – Severino Francisco Dotta – que decidiu buscar em outra cidade uma vida melhor. Ele era barbeiro e por influência de amigos, veio com a esposa abrir uma barbearia onde hoje é a Lotérica Peroni. Moravam em um apartamento na parte superior, e no térreo, além da barbearia, Dona Maria resolveu iniciar seu empreendedorismo com uma engraxateria. A venda de jornais e revistas começou já mais ou menos nesta época.

Ela destaca que Farroupilha vivia em função da Estrada Júlio de Castilhos, que cortava a cidade neste ponto, além do trem, principal meio de ligação com Caxias e Porto Alegre. Por isso, os negócios prosperaram, de forma simples, mas de profundo significado para quem queria ficar bem informado.

Um pouco mais abaixo, na mesma rua Júlio de Castilhos, a barbearia de Severino se instalava de forma definitiva. Junto, Dona Maria abriu uma tabacaria, que em seguida foi ampliada para a venda de jornais e revistas. Começava aí uma trajetória bem sucedida, vendendo os principais jornais. Em seguida, passou para um prédio próximo, onde permaneceu na atividade por 23 anos.

Com o falecimento do marido, em 1989, partiu para uma nova etapa no endereço onde a loja funciona até hoje. Mas, desta vez ampliando as atividades, com venda de material escolar e artigos de bazar.

Durante muitos anos a Banca Dotta (como ficou conhecida) foi a representante oficial do jornal Zero Hora. Mas com o tempo, diversos jornais foram surgindo, assim como as revistas, cada vez mais diversificadas. Dona Maria teve participação importante na venda de todos os veículos impressos que circularam por Farroupilha.

Dona Maria menciona que na atividade conseguiu formar grandes amizades. Mas, também passou por certas dificuldades. Houve época em que as revistas começaram a ficar muito caras e a venda começou a cair. Por isso, a necessidade de diversificar o estabelecimento com material escolar, serviços de fotocopiadora e até venda de artigos de bazar, importantes para poder continuar competindo na atividade.

Com a venda do negócio, Dona Maria passou a se dedicar integralmente ao tricô, atividade que já realizava na loja. Ela é especialista em tricotar roupas de bebê e vende o material que confecciona sob encomenda. Durante minha vida toda me dediquei à venda de jornais, às vezes sem poder aproveitar os finais de semana. Agora, tenho tempo para a família, visitar amigos, fazer umas comprinhas e viver realmente como uma aposentada, comentou Dona Maria, sempre alegre e simpática.

A Livraria Dotta, agora administrada por outros proprietários, mudou o seu visual na vitrine, onde são destacados os artigos de bazar. A placa continua a mesma, mas Dona Maria acha que o nome deverá ser mudado em breve. Uma das tradições da loja nos últimos anos era a exposição de revistas junto ao vidro da entrada. Ali, dezenas de pedestres que transitavam pelo Calçadão da Júlio podiam conferir as capas das revistas, vendo as fotos dos artistas e o desdobramento das novelas. Com o novo visual, as revistas não ficaram mais expostas, privando o público da leitura gratuita.


Texto: Diomar Esteves