Empregos perdidos no Brasil estão sendo gerados na Ásia
Fernando Valente Pimentel, da Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) alertou para o risco da alta tributação e das importações desenfreadas
O 6° Simpósio Nacional de Moda e Tecnologia da UCS foi aberto nesta segunda-feira, dia 27, em reunião-almoço realizada na sede da CIC em Caxias do Sul. Na oportunidade foi realizada uma palestra com o Diretor-Superintendente da Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), Fernando Valente Pimentel. Com o tema O momento atual e as perspectivas para a indústria têxtil e de confecção do Brasil, foram abordados os principais fatores que ameaçam a competitividade da indústria têxtil e de vestuário brasileira no cenário atual, além de serem apresentadas e discutidas as medidas e soluções para que o problema não se agrave.
Segundo dados recentes da ABIT, estima-se que nos próximos cinco anos o comércio têxtil e de confecção no mundo alcance a cifra de 856 milhões de dólares, sendo que o Brasil participa com 0,6% deste valor, através de 30 mil empresas em atividade no país, responsáveis por um faturamento anual de 90 bilhões de reais. Para Fernando, o grande desafio é quem será o fornecedor deste crescimento.
Fernando também apresentou os números do setor na geração de empregos e controle da inflação. Segundo ele, nenhum outro setor gera mais empregos, sendo responsável por 10% dos postos de trabalho nesta atividade econômica. Também é o que mais contribui para o controle da inflação, sendo responsável por 5% do Produto Interno Bruto (PIB) da Indústria de Transformação.
Entretanto o dirigente destaca também que o Brasil está descendo ladeira abaixo no setor de produtos importados, especialmente vestuário, que chegam ao nosso país de forma muito desleal. A importação de vestuário, que mata toda a cadeia produtiva do setor têxtil e de confecção, aumentou dezesseis vezes em menos de uma década. Entre os países de origem das importações brasileiras, a China lidera, seguida pela Índia. O Governo Federal nos deixa capengas para lutar contra tubarões nesta concorrência exterior desleal e desequilibrada, quando não contrabandeada, já que não há fiscalização nas entradas ilegais do Brasil, disse Pimentel.
Ele estima também que ainda neste ano, 200 mil postos de trabalho deixarão de ser gerados em função do déficit comercial de 5% da balança do setor. Para Pimentel, os empregos perdidos no Brasil serão gerados na Ásia. Para o dirigente, os principais limitadores da competitividade nacional são a carga tributária de 40,3% do preço dos produtos industriais, a deficiência na defesa comercial e o custo do capital elevado, exigindo que os empresários remunerem seu capital de giro, haja vista que precisam pagar os tributos antes de receberem as vendas.
Nenhuma indústria pode ser competitiva em nível global se o país não for igualmente competitivo. Tudo isso está sendo a principal consequência da desindustrialização em curso, já que muitos empresários começam a se questionar se vale a pena continuar neste segmento ou se é melhor virar comerciante, afirma ele.
Para frear este processo de desestabilização do setor e dar um salto de progresso e desenvolvimento, foi criada a Frente Parlamentar Mista José Alencar (que recebeu este nome em homenagem ao falecido ex vice-presidente, um dos maiores empresários do setor Têxtil). A frente conta com 260 parlamentares de todos os estados da federação e propõe duas ações imediatas: criação de modelo tributário, trabalhista e previdenciário que desonere e permita às empresas confeccionistas (intensivas em mão de obra) crescerem por 20 anos, independentemente do tamanho do faturamento. O Brasil está cheio de diagnósticos. Não dá mais para ficar esperando. O governo diz que entende, mas entender e agir são coisas diferentes, ressaltou.
Outras soluções apontadas por Pimentel e que estão em pauta são investimentos em inovação e novas tecnologias de produção e integração das informações. Temos uma chance de ouro nas mãos e só não iremos aproveitar se as empresas não estiverem preparadas, afirma.