Mais que um Exame, uma chance para o ensino superior público
O Enem possibilita inúmeras vantagens aos alunos, inclusive acesso ao ensino superior
de forma gratuita, mas por anos consecutivos vem se envolvendo em fraudes

Tatiane De Bastiani
Nos dias 22 e 23 de outubro, aconteceu o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em todo o país. Todos os alunos do ensino médio e também os já concluintes podem realizar a prova. O Enem é a porta de entrada para o ensino superior, sendo obrigatório para vários programas como o Programa Universidade para Todos (PROUNI) – que distribui bolsas parciais e integrais para alunos de baixa renda; Sistema de Seleção Unificada (Sisu) – que adota a nota do exame como fase única para a seleção das universidades federais e do Financiamento Estudantil (FIES) – que parcela o estudo universitário, fazendo com que o aluno inicie a pagar o seu curso somente depois de formado.
As notas obtidas pelo Exame também podem ser substituídas pelos vestibulares, em muitas Instituições de Ensino Superior (IES) e também servir como conclusão do Ensino Médio para estudantes acima de 18 anos. Porém, pelo terceiro ano consecutivo, o Enem é envolvido em fraude. Em 2009 uma das provas havia vazado, em 2010 houve falhas na impressão de alguns cadernos e neste ano novamente vazamento de questões. No Estado do Ceará no Colégio Christus, de Fortaleza, foi constatado fraude no Enem deste ano. Cerca de 600 alunos tiveram acesso a questões idênticas as do Exame, por meio de material disponibilizado pela escola para testes de estudo. Deste modo, este pré-teste que continha 14 questões idênticas ao Enem, foi divulgado pelas redes sociais dois dias antes da prova.
Segundo dados levantados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), 91 estudantes da instituição participaram, em outubro do ano passado (2010), da fase de pré-teste do Enem. O pré-teste dos itens é feito pelo Inep para avaliar se as questões em análise são válidas e qual é o grau de dificuldade. Depois de aprovadas, elas são incluídas em um banco de itens utilizado para montar a prova. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), nenhum dos cadernos aplicados aos alunos do Christus foi extraviado, mas os técnicos do Inep constataram que as questões contidas nas apostilas são cópias do material aplicado em 2010. Foi divulgado na última segunda-feira, que por pedido judicial feito pela Procuradoria da República do Estado, 13 questões do Exame serão anuladas para os alunos de todo o país. O MEC e o Inep consideraram a decisão do juiz Luiz Praxedes desproporcional e arbitrária, e prometem recorrer em Tribunal do Recife.
A prova
Mesmo com as inúmeras falhas que vêm ocorrendo, o Exame é a esperança para muitos estudantes como oportunidade ao ensino superior. Para o governo, a intenção é tornar o Enem como processo único de seleção ao ensino superior público (SISU). Ao todo, neste ano foram mais de 6 milhões de inscritos e 5,4 milhões que pagaram a taxa de inscrição e foram considerados efetivamente, candidatos. Mais de 12 mil locais de prova localizados em 1.599 municípios de todo o Brasil. O exame é constituído de 180 questões, somados os dois dias, mais uma redação que neste ano teve como tema Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado. Para 2012 a prova acontecerá duas vezes ao ano. A primeira edição já está confirmada para os dias 28 e 29 de abril. Os candidatos que realizaram a prova deste último Exame saberão suas notas somente no dia 4 de janeiro de 2012, no próprio site do Enem: www.enem.inep.gov.br mas os gabaritos já estão disponíveis pelo site do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) – www.inep.gov.br
Estudantes Farroupilhenses
No nosso município as provas foram realizadas em duas escolas: Escola Nossa Senhora de Lourdes e no Centro de Ensino Superior Cenecista (CESF). Ao todo no município foram 1353 alunos que realizaram a prova, 459 pessoas na Escola Nossa Senhora de Lourdes e o restante no CESF. Todos os professores da equipe organizadora tiveram treinamentos e reuniões para capacitá-los para o dia das provas. Tivemos abstenção em cerca de 12%, mas esta é uma taxa média comparada aos outros anos, explica Clarice Baú Porto, diretora do Colégio Estadual Farroupilha e integrante da comissão organizadora do município.
A diretora ainda comenta que a realização do Enem no município, ocorreu tranquilamente, mas as fraudes fazem crescer o descrédito da qualidade do Exame nos alunos. A falta de organização propiciou os erros ocorridos. A equipe organizadora do exame é grande e os valores destinados também, precisaria haver maior compromisso. Preparamos nossos alunos por muito tempo e após o exame são descobertas estas falhas, não há como não haver perda de credibilidade, constata Clarice.
Brenda Rigatti, 16 anos, aluna do terceiro ano do ensino médio, fez o exame para avaliar seus conhecimentos e poder se inscrever no Prouni. A aluna se preparou bem, fez o curso do Colégio onde estuda, Colégio Estadual Farroupilha, do qual comenta ter auxiliado muito e agradece ao empenho dos professores. O Enem vence muito mais pelo cansaço do que pela dificuldade. O exame é muito bem elaborado e dá de dez a zero em qualquer vestibular. As questões te exigem o conhecimento de mundo por serem interdisciplinares, salienta Brenda.
A estudante ainda conta que entre os alunos eram esperados temas mais difíceis para a redação e que ter falado de internet foi mais fácil, pelo fato de vivermos em contato com esta tecnologia. Agora ela torce pela boa nota e a oportunidade de uma vaga no ensino superior como bolsista.
Marcos Antônio Chesini, 48 anos, aluno do terceiro ano de ensino médio, também fez o exame para avaliar seus conhecimentos e tentar uma bolsa pelo Prouni ou financiamento do Fies. O estudante se preparou com o curso feito no Colégio Estadual Farroupilha, mas comentou que muitos dos jovens não têm a vontade de estudar e muito menos de se preparar para o Exame. Foi mais difícil voltar a estudar do que fazer o Enem. Temos pouco tempo de realizar a prova e a pressão por ver o tempo passar, atrapalha um pouco, argumenta Chesini. Para ele, muitas das questões interdisciplinares, abrangem todos os conhecimentos e experiências de vida, o que ele vê como algo positivo para o aprendizado.