Saudades da Família em tempos de quarentena

Foi  prometido aos pobres colonos italianos sem muitas perspectivas de vida por lá, que aqui encontrariam prosperidade emelhores condições. Pegaram um navio a vapor e, chegando em Vitória-ES, não se agradaram dos trabalhos.  Após muitas andanças, fixaram-se em Nova Milano em um localde colhimento aos imigrantes. 

A história de minha Família inicia em 1875, quando a viúva Rosa Cera Tartarotti e seus quatro filhos rumaram de Levico, no Tirol, Província de Trento na Itália para ganhar a vida no Brasil. Um dos filhos, o Giácomo casou-se com Carolina Gardini, dessa união nasceu meu avô, Remígio Tartarotti.

Por volta do ano de 1893, o imigrante José Dalla Riva e seus famíliares chegaram ao Brasil vindos de Verona quando se dirigiram para Bento Gonçalves onde montou uma alfaiataria. Em 1911, se muda para a estação Nova Vicenza, era como se chamava antes de crescer e se tornar Farroupilha. Este casou-se com Maria Spadari e um dos frutos foi minha avó, Aurora Tartarotti, esta constitui uma bela família com Remígio Tartarotti e da união, nasceram Dulce e o Raul Pedro. Eis  minha amada Família com quem tive a grata felicidade de conviver por inesquecíveis anos, agora residem no meu coração e irei apresentá-los brevemente.

Dona Aurora, costureira, alimentava a família a duras penas, engajada na sociedade, passava a semana atendendo em casa os destroncados, como se dizia na época, um aperto aqui outro ali e o indivíduo que entrava na casa manco saía dolorido, mas caminhando. Também mantinha rotina de colocar a mortalha nos mortos da cidade, muitas vezes conversava com eles pra resolver como vestir. Todos sábados adorava ir aos bailes na redondeza, Linha Bohêmia, Festa do Sagrado Coração de Jesus, São Roque e o Salão da casa de Guilherme Engger.

 A Dulce, enquanto trabalhava nos bancos da cidade, batia de porta em porta para abrir contas, a noite reinava na organização dos bailes de gala. Não havia debutante que não houvesse passado por sua varinha de instrutora a ordenar vamos, isso aí, agora de novo. Mais tarde, a Tia Dulce, como era conhecida por todos, peregrinava pelos quartos de doentes no hospital trazendo um pouco de conforto àquelas almas.

Raul Pedro, foi de garçom do clube do comércio a gerente do Banrisul, foi um homem íntegro, gostava de discursar nas reuniões dos diversos segmentos que participou, sempre que eu assistia me admirava com sua retórica, parecia um Lorde no púlpito, foi meu herói. Depois de tantas idas e vindas se tornou um exímio escritor, possuidor de uma biblioteca maravilhosa com 800 títulos, contou a história de sua família em livro e de sua terra amada, que a escreveu e publicou em  2014 intitulado: “Farroupilha, história de uma cidade”. Livro este que serviu como base para essa crônica que vos conto. 

E por último, não menos importante, o velho Scarpolin, apelido do seu Remígio, meu Vô querido, foi de ferreiro a sapateiro na cidade. Em Caxias do Sul, aprendeu o ofício e abriu sua sapataria no centro de Farroupilha, onde era também ponto de encontro para uma prosa com os amigos.

Meus avós, o Pai e a Tia Dulce residiam na esquina da Cel. Pena de Moraes com a Barão do Rio Branco, última morada desta gente que viveu intensamente esta cidade, com os Amigos e a Família. Que saudade do almoço no domingo, de hábito depois era pegar um solzinho para esquentar os pés, ou parar na frente do fogão à lenha.

Esse fogão guarda as histórias do povo Farroupilhense, próspero e aguerrido, dele saíam a polenta, os pinhões, o agnolini e a terapia da Família, que acontecia ali mesmo, no calor da lenha e da chapa de ferro.  Ainda é o ponto de encontro em casa, é a sala de reuniões junto a mesa de jantar.

Nesta quarentena, procure encontrar seu fogão em casa, mesmo não sendo a lenha, faça a sua reunião de Família, lá você vai se esquentar com o coração deles.

Por Raul Antonio Tartarotti

rault@terra.com.br   |  (51) 98475-1471