Água, esgoto e coronavírus – tudo anunciado

Com as descobertas da presença do coronavírus em redes de esgoto, voltam à tona os apontamentos feitos pelo ex-prefeito de Farroupilha Claiton Gonçalves

Recentemente um veículo de comunicação divulgou o resultado de uma coleta de amostra de esgoto da ETE Vicentina, em São Leopoldo, para a verificação da presença de coronavírus na rede. Os índices revelaram um aumento da carga viral, indicando presença do vírus na população que contribui para o esgoto daquela região.
Há pouco tempo, o ex-prefeito e médico Claiton Gonçalves havia transmitido a possibilidade de o vírus ser encontrado na rede de esgoto e por conta disso, o Jornal O Farroupilha o convidou para recapitular os principais apontamentos e avaliações em relação a este assunto, aproveitando que recentemente passamos a celebração do Dia Mundial da Água (22/3). 

“Tudo aquilo que passa pelo nosso corpo cai na terra, tudo aquilo que nós aspiramos ou expiramos, cai na terra, tudo aquilo que é matéria de água de chuva cai na terra. Esse material acaba infiltrando o solo. Alguém pode dizer que esse material não é vivo, é apenas a carcaça do vírus e está corretíssimo, mas hoje sabemos que o que causa a doença não é o vírus, mas é a presença do vírus e a resposta imunológica que os nossos organismos têm em relação à presença do vírus. Desta forma, estamos com um problema – pois ficamos brincando de fazer medicina no Brasil e a política pública ficou brincando de tratar e com isso, os negócios andaram e os chineses ficaram donos do Brasil e de outros países, aliás foi a única economia que cresceu e é o único lugar que morreram só dez mil pessoas, uma nuvem de benção por lá, né? – hoje enfrentamos o enfartamento do sistema de saúde em um país que não tem esgoto tratado, não tem cobertura vacinal adequada e que apresenta a insuficiência de leitos para a pandemia. Um país que está fadado à vergonha do mundo, a cara de quem o está dirigindo: de quem governa, de quem é presidente, de quem é prefeito, de todo mundo que quer fazer negócio, que não está preocupado com a saúde e com a vida”, reafirma o médico. 

Atuando como obstetra no Hospital Schlatter, de Feliz, Goncalves vivencia a pandemia, ciente de suas convicções e do cenário enfrentado. “Ah, se tivéssemos ouvido o prefeito médico que tinha ideia de construir um hospital de campanha, de colocar vinte leitos somente de Farroupilha, de nunca fechar o comércio, nem a indústria, de ter reserva e de testar todo mundo através de uma plataforma de saúde que poderia apontar quem está e que não está doente, de ter o tratamento mais precoce – com  corticoide, antibiótico -… nós poderíamos não ter mortes em Farroupilha, seríamos uma ilha, como é Porto Feliz, no estado de São Paulo”, defende.

 

Água e esgoto

“A água é muito semelhante ao esgoto. O esgoto é matéria prima para renovação da água e nós precisamos entender isso, separar o material biológico, químico, material tóxico, que pode ser utilizado como adubo e devolver esta água ao ambiente onde possa haver novas captações dessa água. Em Farroupilha temos um problema grave que é o não tratamento dos esgotos cloacais. Não está se fazendo absolutamente nada, embora tenha uma estação de tratamento de esgotos, construída pela CORSAN e que deve ser terceirizada para operação de uma empresa, que possa ter uma ciência de entendimento e de condução do esgoto de forma mais adequada”.

Segundo o ex-prefeito, “o Instituto Trata Brasil, que esteve em Farroupilha, detectou que 42% de toda a água tratada, produzida na cidade, se perde através de tubulação muito antiga e de canos com ligações clandestinas”. “Ou seja, para cada 100 reais que se paga de água tratada, quarenta e dois reais o povo de Farroupilha rasga, todos os meses, quando paga a sua conta: é água que não utiliza, água tem uma relação promíscua com os esgotos que contaminam o lençol freático e que vão dar origem à renovação da água nas suas bacias de captação”, explica. 

A visão de ex-prefeito mistura-se à visão do médico. “Doenças como Hepatite C, B e A, Toxoplasmose e outras doenças virais como a Covid-19, têm uma relação muito íntima com água, mesmo tratada, que esteja contaminada pela presença de esgotos próximas e nós temos no Brasil um problema muito sério de saúde pública ligado ao não tratamento dos esgotos! A água tem sido explorada pelo homem em função do lucro.  Há empresas que exploram água, assim como a empresas que exploram esgoto, mas é importante que se tenha a consciência de que por ser finita e ser um dom, uma dádiva da natureza, a água deve ser tratada de forma social, discriminada e democrática”, analisa.

O que o médico quer dizer com isso? “Que a água tem um custo pela sua preparação, mas que nem todo este custo é semelhante que nós pagamos com o lucro acrescido das empresas exploradoras deste bem”, finaliza o profissional que lá no começo da pandemia sinalizou a possibilidade do coronavírus ser encontrado na rede de esgoto das cidades.