Os desafios para manter e aprimorar a qualidade do ensino público

Uma das pastas mais bem-sucedidas na prefeitura, com reconhecimento em diversas esferas e, principalmente,
da comunidade escolar, a Secretaria Municipal de Educação é liderada pela pedagoga Elaine Mareli Giuliato

Pertencimento. A secretária Elaine Mareli Giuliato, que lidera a pasta da Educação no município, é enfática nesta palavra. A escola pertence a comunidade e os pais dos alunos precisam entender e sentir isso, explica. E não é apenas isso. Durante a entrevista realizada, e que você leitor confere na sequência, termos como rede e formação também foram bastante repetidos. Refletem, nitidamente, um trabalho feito com muito afinco desde 2013, mas que teve origem há duas décadas, durante a administração do prefeito Avelino Maggioni, quando Elaine assumiu pela primeira vez o comando da educação municipal.
Formada em Pedagogia e especialista em Administração Estratégica de Serviços, Elaine atuou em sua trajetória profissional como professora e diretora em escolas do município, com uma dedicação incisiva no ensino às crianças com necessidades especiais. Toda essa bagagem, conforme a própria salienta, permite que a gestão da Secretaria Municipal de Educação seja hoje o mais transparente possível, norteada por qualidades como sinceridade, afeto e respeito.

Jornal O Farroupilha – Quem é Elaine Mareli Giuliato e por que suas qualidades lhe dão a capacidade para exercer o cargo que voltou a ocupar em 2013?
Elaine – Já venho há muitos anos trabalhando com educação e minha formação é nesta área. Quando fiz o magistério, a minha opção foi em ser uma professora de educação especial. Passei mais de 20 anos da minha vida trabalhando com crianças com dificuldade de aprendizagem. Aprendi muito com elas. Para se ter uma ideia, os considerados diferentes tem uma característica muito importante: eles são o que são; eles são verdadeiros. Se eles quiserem te dar um abraço, pode ter certeza que este abraço vai ser verdadeiro; o sorriso deles é verdadeiro; e se eles quiserem te xingar, o motivo do xingamento também é verdadeiro. E na medida do possível, levo essas qualidades para a minha vida. Fora que eu gosto muito de trabalhar com as pessoas. Gosto de criar um aspecto afetivo, de bem querer. E isso é extremamente importante, porque humaniza as nossas relações – e a sociedade hoje precisa de seres muito mais humanos.

Jornal O Farroupilha – Como avalia as ações desenvolvidas durante este tempo em que está a frente da Secretaria Municipal de Educação?
Elaine – Na gestão do Dr. Claiton, entrei no final de 2013 para a Educação. Tive uma passagem anterior pela Secretaria [na década de 90] como diretora de departamento e depois como Secretária. Tenho um aspecto em relação à rede municipal que é essa questão da rede te receber com um lado mais afetivo, com um lado de bem querer. E com uma questão extremamente importante quando se desenvolve um trabalho de gestão, que é o de se acreditar. Eu acredito muito na rede e isso é recíproco. Hoje a gente faz um diálogo bastante profundo e estreito com as nossas equipes diretivas, que são os elos de apoio com os professores, funcionários das escolas e, também, como consequência, de toda a comunidade escolar. Todo esse staff serve para um único objetivo, que é melhorar dia a dia a qualidade da educação.

Jornal O Farroupilha –
E os projetos desenvolvidos?
Elaine – A educação no município de Farroupilha sempre passou por profissionais que conseguiram entender que a rede é uma constante e ela precisa ser constantemente renovada e estimulada para que as questões de ensino-aprendizagem possam acontecer de forma muito mais eficaz e efetiva. Onde elas acontecem? Na escola, com toda a certeza. Os projetos que a gente tem ganharam um up bastante grande quando, em 2014, inauguramos o NATFAR, que é o núcleo de atendimento tecnológico de nosso município. Ele veio para fortalecer principalmente as questões da formação e foi por meio dele também que em 2015 recebemos o Prêmio Gestor, considerado o melhor do estado do Rio Grande do Sul. Isso serviu como estímulo na questão da formação. Nossos professores estão em constante aperfeiçoamento, com encontros que acontecem uma vez por mês, dentro do período de escola deles, dentro da hora-atividade. Isso possibilitou que a rede, de uma forma ou de outra, se abrace cada vez mais. E quem realmente se beneficia é o aluno, com toda a certeza.
Em relação a projetos, também temos uma forte atuação no envolve o meio ambiente. Sabemos que o conhecimento adquirido nesta área perdura pelo resto da vida. Trabalhamos esta questão sempre de forma intereducacional para que a gente possa realmente efetivar e fazer com que desde muito pequenas as nossas crianças consigam entender a importância e o cuidado que devemos ter com o nosso meio ambiente. É uma questão de cidadania e de futuro.
Temos também o programa Atitude Cidadã que trabalha a educação fiscal, financeira e do consumidor nas escolas, para que desde pequenos nossos alunos tenham a consciência de que eu preciso saber como gerenciar a minha vida para que eu possa gerenciar mais a minha ação em relação à sociedade onde vou viver.
Quem educa, educa para a vida. Todos os projetos que a Secretaria vem constituindo como mote de governo, de questões educacionais propriamente ditas, são de suma importância. Queremos que os nossos pequenos já consigam entender o que significa a palavra cidadão. E cidadão a gente só é, quando se tem atitude. Quando se tem ação e se entende o que isso significa.

Jornal O Farroupilha – Comentaste um reconhecimento a nível de governo, de gestão. E o reconhecimento da comunidade, ele está acontecendo?
Elaine – Hoje se fala muito que estamos em época de crise. A crise isso, a crise aquilo. Essa crise, porém, tem possibilitado com que a gente busque outras formas de fazer o nosso dia a dia acontecer. Uma das questões que eu comento com as direções das escolas e com os nossos professores é o pertencimento. Quando eu consigo me doar mais, quando eu consigo entender mais, quando eu consigo participar mais, é quando eu noto que eu preciso ter um sentimento de pertencimento. Por exemplo, escola inserida num bairro não é só da prefeitura. Ela é de uma comunidade; ela é dos pais e alunos que lá estão. Então, quando os pais conseguem entender que aquela escola pertence a eles, aos filhos deles, para comunidade em que a família está, a atitude deles também fica diferente. Eles participam mais, eles vêm às reuniões e conseguem acompanhar mais a vida do aluno. É aí que vem o reconhecimento. Esse sentimento de pertencimento é de extrema importância porque ele facilita todas as questões que envolvem a educação. Tanto na questão que os pais ficam próximos da escola, inclusive na manutenção dela. Já temos escolas com resultados belíssimos com essa realidade. Muito se está trabalhando nesse ponto e muito se sabe que precisamos andar, mas já é uma realidade diferente que conquistamos. Temos um elo com a comunidade.

Jornal O Farroupilha – Perante os bons resultados, é possível projetar os novos desafios da educação pública municipal?
Elaine – Os novos desafios que vejo agora, e que talvez não sejam muito diferentes dos que a gente teve em outros anos, é fazer com que a escola pública, seja ela na instância que for, consiga manter a qualidade de ensino e de aprendizagem. Mesmo em época de crise, em que o financiamento da educação não tem se mantido num patamar que a gente gostaria, que um futuro cidadão precisa. Mas há a consciência do profissional da educação de se doar, em termos de eu quero que aconteça e eu preciso que aconteça. A gente vê isso em relação ao trabalho da rede pública municipal e também da vontade imensa dos professores do Estado, principalmente em nosso município. E o resultado é o aumento no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), inclusive nas escolas estaduais.
É triste ver que muitos ainda têm a impressão que em escola pública qualquer coisa serve. Não! Mas vamos reverter essa falsa ideia; a escola pública vem com tudo e ela vem se mantendo com qualidade. Aqui em Farroupilha temos uma escola pública em primeiro lugar do IDEB no Rio Grande do Sul e que está entre as vinte melhores do Brasil. E todo o progresso que se tem mantido, com tanto esforço e com tanta luta, é porque a gente sabe onde se quer chegar.

Jornal O Farroupilha – Quais projetos se tem em vista a serem desenvolvidos nos próximos anos?
Elaine – Principalmente, é conseguir manter o que conquistamos até agora e fortalecer a questão da atitude cidadã. Queremos trabalhar ainda mais as parcerias que se tem a nível de município, principalmente com as universidades que são um polo difusor de novas possibilidades, principalmente na questão educacional. Temos uma parceria muito gratificante com o Instituto Federal que vem possibilitado abrir novos horizontes. Temos ainda uma parceria com a UFRGS que tem viabilizado que os nossos professores iniciem seu mestrado e depois façam o seu doutorado, sendo que todo esse processo acontece in loco, dentro de nossa rede, possibilitado um up na capacitação dos profissionais da rede, que eu vejo sempre com bons olhos.
Vamos continuar uma formação em termos de rede, com a qualidade de ensino em todas as escolas, independente de profissionais ou localização, visando sempre humanizar. Continuaremos a reforçar a questão de pertencimento em relação a comunidade e que as escolas tenham consciência da rede. É esses abraços, é esse afeto, é essa rede de entrosamento e relação afetiva que a gente quer que se perpetue.

Jornal O Farroupilha – O ano letivo inicia no dia 16 para os professores e no dia 20 para os estudantes. Quais as expectativas de trabalho para este ano?
Elaine – Estamos diante de mais um ano de trabalho, que vem com uma persceptiva muito boa. A rede vem com bastante afinco em relação a parte de desenvolvimento da educação, de qualificar e dar qualidade. Isso é algo muito presente no nosso dia a dia. Tanto conosco aqui na Secretaria, quanto como as equipes diretivas que fazem as coisas acontecerem. Vamos trabalhar sempre na direção de se transformar e também transformar a sociedade, posteriormente, quando nossos alunos conseguirem se tornarem bons cidadãos. Como isso? Acolhimento. Só quando me sinto acolhido, em qualquer lugar, na minha casa, no meu trabalho, na minha escola e na sociedade é que eu consigo efetivar e transformar o espaço onde vivo. E é isso que eu desejo para a rede neste novo ano.

Jornal O Farroupilha – Por fim, como é a sua relação com o prefeito Claiton?
Elaine – Temos um elo afetivo que possibilita trabalharmos muito as questões de diálogo. E esse elo estabelecido é um facilitador para que as coisas aconteçam em termos de rede. Temos uma boa conversa e nos respeitamos muito. E esse querer bem não é de agora. Ele, enquanto médico, tratou a minha mãe. Tenho um respeito imenso por ele, não somente por mim particularmente e pela minha família, mas por toda a sociedade, tanto ele como gestor político, quanto profissional de saúde. Compactuamos com o objetivo de Farroupilha seguir evoluindo na educação, e consequentemente o município consiga chegar num patamar maior em outros segmentos- e vejo que isso está acontecendo.