Vida que Cuida da Vida: milhares de pessoas enviam pedidos de oração para vítimas da Covid-19
O Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio concentrou milhares de pedidos de orações de devotos que destinaram preces às vítimas
O Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio concentrou milhares de pedidos de orações de devotos que destinaram preces às vítimas da Covid-19, aos que ainda lutam contra o vírus e também aos profissionais da saúde que atuam na linha de frente. Estas pessoas receberam oração e preces na ação Vida que Cuida da Vida, que ocorreu nesta segunda (29) e segue na terça (30) no Santuário, com cerca de mil cruzes brancas espalhadas pelo estacionamento da igreja. A missa celebrada às 17h e o terço rezado às 18h, nos dois dias, reúnem estas intenções de prece e também mostram ao mundo o pedido de mais cuidado com a vida do próximo, no momento de dor e dificuldade que o país enfrenta.
Os pedidos foram recebidos pelas redes sociais do Santuário desde a última quinta-feira. As cruzes que ilustram a ação foram confeccionadas por voluntários com sobras de madeira, cedidas ao Santuário, e pintadas com cal, igualmente doado. Além de chamar a atenção para que os cuidados contra a Covid-19 não sejam minimizados, a intenção do Santuário é propor um momento coletivo de luto, já que desde que a pandemia iniciou no país, em março de 2020, sequer velórios e enterros podem ser realizados como de costume.
Voluntários do Santuário contribuíram para a instalação das cruzes no amanhecer desta segunda-feira e, pouco a pouco, alguns fiéis passaram pelo Santuário para deixar flores em gesto de carinho e respeito. “A ideia da ação veio das lágrimas, da dor, dos pedidos diários de prece para quem perdeu um familiar para o coronavírus. Não podemos banalizar a vida e esquecer como os ritos de velório, de enterro, contribuem para nosso processo de luto. Que tenhamos a responsabilidade diante da vida do próximo e que Nossa Mãe de Caravaggio ampare os corações de tantas famílias que restaram dilaceradas diante de tanta dor”, descreve o reitor do Santuário, padre Gilnei Fronza.
Especialistas afirmam que o período que vivemos exige ainda mais gentileza, atenção e cuidado com a saúde mental, e que ações como esta contribuem para processar a dor que envolve enterrar um familiar – ainda mais em ritmo apressado como a pandemia exige. “Ritos como velório e enterro são sagrados para todas as orientações religiosas. Alguns antropólogos datam o início da civilização não com a escrita e sim com algum vestígio de cerimônia de perda, principalmente das perdas trágicas. Por isso, nada mais indicador de empatia e impulso civilizatório do que quando nos consolamos uns aos outros num momento de morte. É difícil elaborar alguma perda sem o apoio de um ritual e da companhia de outras pessoas importantes, ela precisa de um amparo, nem que seja uma experiência coletiva de enlutamento, como foi a morte do Ayrton Senna ou como anualmente celebramos na Páscoa a crucificação”, explica o psiquiatra Caetano Fenner Oliveira.