Precisamos falar sobre suicídio

A prevenção ao suicídio deve ser constante, mas as campanhas ganham força em setembro. Falar sobre o assunto é a melhor maneira de mudar uma realidade que se apresenta com dados chocantes

Os meses, nos últimos tempos, ganharam cores para chamarem a atenção para algo que não pode passar despercebido. Setembro é amarelo porque em 1994, um jovem americano de apenas 17 anos, Mike Emme, se matou dentro do seu Mustang amarelo e seus pais, no dia do enterro, distribuíram cartões com fitas amarelas que diziam: “se você está pensando em suicídio, entregue este cartão a alguém e peça ajuda!”. Deu tão certo que fez com que as campanhas de prevenção do suicídio começassem pelo mundo.

No Brasil a campanha teve início em 2015 pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), uma ONG fundada em 1962 em São Paulo, que atua como apoio emocional e na prevenção do suicídio por meio do telefone 188, e também por chat, e-mail e pessoalmente, com a colaboração de mais de três mil voluntários em todo o território nacional, 24 horas por dia.

Falar é a melhor forma de mudar uma realidade que se mostra triste pelos dados que apresenta: mais da metade dos casos de morte por suicídio no mundo (52,1%) ocorre entre pessoas com menos de 45 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, 32 pessoas se suicidam diariamente. No mundo acontece uma morte a cada 40 segundos e conforme os especialistas, o total de tentativas supera o de suicídios em dez vezes, pelo menos.

Entre os jovens, pessoas de 15 a 29 anos, o suicídio é a segunda causa de morte. As causas que levam uma pessoa à tentativa de suicídio são complexas e entre elas, a depressão é apontada como o principal fator de risco para o suicídio e, ao contrário do que se pensava, não falar abertamente sobre esses temas pode piorar a condição. 

Por isso, é preciso discutir, tirar o assunto da invisibilidade porque os números da fatalidade são bem notórios. Aqui em Farroupilha, acontece, no sábado, 14 de setembro, na Câmara de Vereadores, às 14h, o Seminário de Valorização da Vida, organizado pelo Centro Espírita Luz e Verdade e pelo Centro Espírita Allan Kardec.
Sem conotações religiosas, o evento traz a presença de profissionais de diferentes áreas que atuam como palestrantes há bastante tempo: 

– Samira Turconi, formada em Farmácia e em Bioquímica, com especialidade em Análises Clínicas. Ex-professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Caxias do Sul. Professora da Pós-Graduação em Espiritualidade e Saúde da Universidade de Caxias do Sul e fundadora e secretária da Associação Médico-Espírita (AME) da Serra Gaúcha. Vai falar sobre Automutilação e Comportamento Suicida em Adolescentes.

– Rogério Pereira, empresário que se dedica ao estudo das Ciências Humanas. Palestrante no Brasil e no exterior desde 1978. Vai falar sobre o Manual da Felicidade.

– Carlos Durgante, médico geriatra, professor de pós-graduação em Saúde e Espiritualidade da Universidade de Caxias do Sul e escritor. Integrante da Associação Médico-Espírita do Brasil e do Rio Grande do Sul. Vai falar sobre Suicídio e o Envelhecimento Humano.

“Como entendemos que a vida é uma oportunidade que Deus está nos dando e os números são alarmantes de suicídios, nós estamos realizando este evento para contribuir com a campanha do setembro amarelo para levar a informação e a conscientização para as pessoas”, diz Beatriz Sosnoski, uma das organizadoras.

O suicídio é considerado uma questão de saúde pública e uma das metas para sua redução foi lançada pela OMS, que propõe o desafio de diminuir em 10% esses óbitos até o ano de 2020.

 

O QUE DIZEM OS PALESTRANTES?

Samira Turconi

“Vamos desenvolver uma abordagem de compreensão da ação autolesiva e também maneiras de prevenção dessa situação, buscando as reflexões sobre os valores morais, familiares e espirituais”, diz Samira.
Segundo ela, todos nós temos oportunidades diárias de trabalhar na prevenção ao suicídio. “As campanhas nacionais convocam a todos. O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, lançou, em abril deste ano, uma campanha denominada Acolha a Vida, que visa a prevenção do suicídio e da automutilação, voltada a todas faixas etárias, por exemplo”, acrescenta.

 

Rogério Pereira

Para Rogério Pereira – que falará para “inserir o público na percepção de que existem leis naturais envolvendo nossa evolução, e que, à medida que vamos nos conscientizando passamos a utilizá-las, nos tornando mais livres e capazes de trabalhar a felicidade” – é preciso mudar a postura íntima. “Temos intensificado o pessimismo generalizado. Passamos para os jovens, e aos que nos cercam, uma postura de medo e derrotismo frente à vida. Enxergamos o mundo, muitas vezes reflexo de nós mesmos, com lentes escurecidas. Mas basta dar uma olhada na história e logo perceberemos como estamos vivendo num mundo muito melhor, em desenvolvimento da ciência, saúde, conquistas sociais, embora, naturalmente, muito longe da perfeição. A melhor forma de colaborarmos é mudando a postura íntima e irradiar em torno de nós o engajamento otimista pela construção de um mundo melhor”, prega.

 

Carlos Durgante

O geriatra Carlos Durgante dá dicas sobre os fatores protetores do suicídio na velhice, já que em se tratando da população idosa, as evidências também são preocupantes, pois o segundo pico de incidência mais frequente dos casos de suicídio ocorre a partir dos 70 anos de idade.

“Para estudiosos da área, no envelhecimento, o suicídio é um drama relacionado ao silenciar da pessoa idosa diante das mudanças do comportamento social da sociedade em relação a esse idoso e à necessidade individual de ser escutado e respeitado. Sempre é bom ressaltar a importância do contato social, do cultivo de amizades e dos relacionamentos afetivos estáveis como fatores protetores do suicídio na velhice”, afirma o médico.

 

Muitas informações serão transmitidas no Seminário que acontece no dia 14 e os alimentos arrecadados serão entregues na instituição Fazenda Esperança. Participe para poder auxiliar a quem precisa. Esteja atento às pessoas ao seu redor, pois nem sempre um sorriso no rosto é sinal de que tudo está bem. 

Engaje-se nesta campanha para que o amarelo de setembro represente exatamente o que expressa a cor: alegria. Alegria por evitarmos que cresçam os números de suicídios em nosso país e no mundo. 

Se precisar de ajuda, ligue 188 ou peça ajuda para alguém com quem sinta-se confortável em conversar. Nunca estamos sozinhos. Existem meios, diferentes da morte, de acabar com a dor.