Surdos querem escolas em que Libras seja a primeira língua

Escola Bilíngue para Surdos foi o tema da audiência pública que lotou o Teatro Dante Barone que fica na Assembleia

Escola Bilíngue para Surdos foi o tema da audiência pública que lotou o Teatro Dante Barone que fica na Assembleia Legislativa em Porto Alegre, na manhã do último dia 4. Antes do início do evento, a plateia estava animada, mas pouco se ouvia. É que o principal meio de comunicação eram os gestos, a forma de manifestação da Língua Brasileira de
Sinais (Libras). E é isso que os educadores, professores e estudantes presentes defendem: um espaço em que a Libras seja a primeira língua e o português escrito, a segunda.

O deputado Carlos Gomes (PRB) foi o proponente da audiência, realizada pela Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia da Assembleia e está preocupado com a dificuldade dos surdos de ingressarem e permanecerem na escola regular. “Me senti envergonhado por não entender a linguagem de sinais, mas vou me esforçar para aprender. Hoje, como estou em minoria, consegui compreender como se sente um aluno surdo”, disse o parlamentar.

Movimento de surdos é nacional

Uma carta denúncia entregue nos Ministérios Públicos de todo o país resultou na abertura de um inquérito civil público sobre a questão da educação para surdos. O movimento dos surdos já impediu o fechamento de escolas bilíngues em todo o país e conta com a adesão de entidades como a APAE e de personalidades como a atriz Marieta Severo, que tem uma irmã surda. Uma manifestação em Brasília, no ano passado, reuniu quatro mil surdos e apoiadores contra as políticas do Ministério da Educação, que acredita na inclusão dos surdos no ensino regular. Não existe uma lei que garanta a manutenção das escolas bilíngues. No RS, foram fechadas classes para surdos em quatro cidades no último ano.

A professora Adriana Thoma, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, relatou que quando o surdo está entre alunos ouvintes e sem muitos recursos a evasão é enorme. Outra situação são os alunos nômades, que vão de cidade em cidade em busca de melhores condições de escolarização. Ela é contra transformar as escolas bilíngues em centros de Atendimento Educacional Especializado (AEE) como o MEC estaria propondo. “A comunidade linguística tem direito de escolha de como será sua educação. É preciso contato para desenvolvimento linguístico e a partir da escola cria-se uma comunidade. Não é o governo que vai mandar que eu seja incluído ou não.”

E o pequeno Jackson, de quatro anos, deixou seu recado, que emocionou a todos. “Eu não quero inclusão, eu quero ter o direito de estudar com surdos.”

Fonte: Agência de Notícias

por Rosana Silva de Almeida