Populares protestam após tragédia

Moradores de área invadida realizaram manifestação depois que um vizinho morreu eletrocutado, na tentativa de realizar um ?gato? na energia elétrica

Renato Dalzochio Jr.

O que começou como uma tragédia acabou tomando proporções de um protesto que já entra para a galeria dos grandes eventos históricos e marcantes de Farroupilha. 

Alair José da Silveira, 28 anos, morador de uma área particular nas proximidades da Avenida das Indústrias, no bairro Industrial, havia subido em um poste por volta das 20h desta terça-feira, dia 28 de fevereiro, para realizar o chamado gato, na tentativa de conseguir energia elétrica para ele, seus familiares e demais vizinhos.

Alair acabou sendo atingido por uma descarga elétrica, caiu de uma altura de aproximadamente quatro metros, e faleceu ainda a caminho do hospital. Ele deixou esposa e quatro filhos. Indignados, moradores iniciaram um protesto, ateando fogo em galhos, sacos de lixo, sofás, lenhas e cadeiras, além de trancarem a referida avenida sob os gritos de queremos luz!. 

Nem mesmo Corpo de Bombeiros e Brigada Militar conseguiam se aproximar, na tentativa de conter a multidão nervosa, que entre adultos e crianças, ultrapassava a marca de 100 pessoas. O que começou na Avenida das Indústrias prosseguiu até a RS 122, no trecho que dá acesso a referida avenida lateralmente a empresa Soprano.

Os manifestantes trancaram a rodovia nos dois sentidos, deixando os motoristas, em sua maioria caminhoneiros, histéricos. Até quando vamos ter que conviver com isso? Trabalhamos todos os meses, ganhamos nossos salários, compramos leite, carne, e no fim das contas temos que jogar tudo fora porque não temos luz, a comida acaba estragando. As crianças choram e não sabemos o que dizer. Vivemos comprando velas, vai chegar o inverno e o que será da gente? Somos todos trabalhadores, ganhamos nosso salário honestamente. Falam em luz para todos, mas então porque esse descaso da RGE e da Prefeitura com a gente?. Queremos luz para todos, que é uma lei federal, dizia indignada a moradora Lidiane Mendes.

De acordo com os moradores, os gatos são uma rotina constante, sendo que a luz repentinamente é cortada pela RGE. Já procuramos Prefeitura, RGE, um empurra daqui, outro empurra dali e ninguém resolve nada. Somos sempre enrolados. O Prefeito disse que invasor tem que ser tratado como invasor. Mas ele se esqueceu que invasor também vota nas eleições. Quero ver o que ele vai ter pra nos dizer quando vier aqui pedir voto, afirmava o morador Gildo Machado.

Quando as proporções da manifestação chegaram até a RS 122, somente a Polícia Rodoviária conseguiu se aproximar e manter o protesto pacífico. O Comandante Marcelo Stassack orientava os motoristas, para que os mesmos conseguissem desviar por rotas alternativas. 

Conseguimos um reforço no policiamento para gerenciar os desvios de quem vem de Bento Gonçalves e quem vem de Caxias do Sul da melhor forma possível. O importante é que ninguém saiu ferido, explicava Stassack.

A manifestação só acabou por volta da meia noite, quando o Secretário de Educação Bolivar Pasqual, na ocasião representando o Prefeito Ademir Baretta, se reuniu com um pequeno grupo de moradores na sede da Polícia Rodoviária. Na ocasião foi marcada uma reunião no final da tarde do dia seguinte, no local onde aconteceu a tragédia. O resultado foi o agendamento de um novo encontro, desta vez no gabinete do prefeito, com a presença dele e dos moradores.

Segunda-feira queremos uma resposta definitiva, se vamos ou não vamos ter energia elétrica. Queremos ouvir sim ou não, não aceitaremos uma nova reunião. Mas até lá não podemos ficar sem luz. Infelizmente vamos ter que continuar arriscando nossas vidas fazendo os ‘gatos’, disse Lidiane Mendes. Cinco ou seis pessoas deverão representar os moradores na referida reunião no gabinete. 

Vamos tentar entrar em contato com a RGE, convidá-los a participar, mas coloco pouca fé de que eles aceitarão se envolver nisso. Temos que chegar num consenso com o dono da propriedade, mas ao mesmo tempo também temos que encontrar a melhor solução para os moradores, afinal, estando ou não estando em suas terras, temos que lembrar que são seres humanos, explicou Pasqual.