Nos passos de uma carteira

Faça sol ou chuva lá estão os carteiros em seus trajetos diários, cumprindo a missão que resiste à rapidez da troca de informações nascida da tecnologia. Com a bolsa que carregam nos ombros, eles continuam andando, de endereço a endereço. Veridiana faz isso há 17 anos

Claudia Iembo
Especial

Na próxima segunda, dia 25, se por acaso encontrar o carteiro de sua rua, cumprimente-o, é o seu dia! Em tempos de e-mails e whatsapp, estes profissionais concursados continuam cumprindo a missão de andar, a pé ou de moto, para entregarem correspondências e encomendas que carregam em suas bolsas.

Na agência dos Correios, em Farroupilha, estão empregados 32 carteiros, dos quais sete são mulheres. Entre elas, Veridiana Fiorentin Ferrari, 36 anos e próxima de completar 17 anos de empresa! Com a visão dela sobre a profissão que escolheu para si, prestamos nossa homenagem aos demais colegas, pela passagem da data.

Ela chegou à tarde para continuar o trabalho e a primeira tarefa era conceder a entrevista ao Jornal O Farroupilha. Sorridente, levemente maquiada e devidamente uniformizada, entrou com a filha Bruna, de 10 anos.

Veridiana veio de Constantina aos 19 anos, em busca de estudo e trabalho. Encontrou o oficio de remalhadeira em malharia. Um pouco mais tarde, por influência do cunhado, que era funcionário dos Correios, prestou concurso e passou. Comecei em 21 de junho de 1999. Fui trabalhar em Caxias, onde fiquei por uns 10 meses e logo voltei a Farroupilha. Já se passaram quase 17 anos e eu nem percebi em minhas caminhadas diárias, diz sorrindo.

Caminhadas diárias. Ela não tem ideia do quanto anda por dia pelas principais ruas do centro da cidade. Está acostumada às mudanças do clima que enfrenta e acredita que com bom humor e alegria consegue superar as dificuldades das temperaturas extremas, altas ou baixas.

Pode dispensar academia, já que caminha bastante? Acredito que não porque na verdade a nossa caminhada não emagrece, senão todos os carteiros seriam magrinhos. Não mantemos um ritmo, já que vamos parando pelo caminho, então não dá para emagrecer, mas para ter um bom condicionamento físico, isso sim. Não falta mais fôlego para nada, esclarece Veridiana.

Os carteiros saem da agência com a bolsa carregada de correspondências, até oito quilos, e no caminho, conforme as entregas vão sendo feitas, vão se reabastecendo com os pacotes auxiliares, ou seja, enchem a bolsa de novo e continuam a caminhada. Veridiana faz isso duas vezes em seu trajeto. Nos bairros mais distantes, a entrega é feita com as motos dos Correios. Cada carteiro tem sua área de responsabilidade.

Segundo ela, o maior volume fica por conta das propagandas e correspondências bancárias. Postais ainda são enviados de um lugar ao outro, mas aquelas que trazem notícias de longe não são mais vistas. As cartas de amor então, em 17 anos vi poucas! As pessoas mais de idade é que brincam se há alguma para elas, confessa.

Veridiana já enfrentou cachorro bravo, escorregou, caiu de escada. Nesse tempo todo já aconteceram muitas coisas e confesso que adoro o que faço porque sou dona do meu tempo e consigo manter laços de amizade que se criam com as entregas diárias, analisa.

As justificativas citadas por ela compõem a parte bacana do ofício. Pensando no que poderia ser melhor, ela não hesita em falar. As pessoas bem que poderiam oferecer melhores condições para que o nosso trabalho seja cumprido da melhor maneira possível. A caixinha de correspondências pode parecer bobagem, mas faz muita diferença para nós e ela precisa estar no nosso perímetro de entrega para que a gente não precise invadir a propriedade, adverte a carteira.

A entrega é a etapa final do trabalho diário de um carteiro, pois é ele quem separa a correspondência por setor ou distrito, pondo cada carta ou objeto nos escaninhos que correspondem às ruas da região da qual é responsável. Entregam e prestam conta daquilo que volta para a agência. Tudo muito organizado.

A mãe da Bruna – e esposa do Jairo – pretende aposentar-se como carteira. Gosta tanto que não pensa em outra atividade. A própria Bruna, que esteve presente durante a conversa, afirmou ter o maior orgulho da profissão da mãe e adora o interesse que isso desperta nos coleguinhas da escola.

Este respeito para com os carteiros e carteiras é algo comum a todos nós. Afinal, quem nunca se viu ansioso, vez ou outra, esperando por eles? Ainda que os meios de comunicação tenham mudado, tudo tem seu valor. E sempre terá.