Novembro Azul de conscientização

No mês dedicado a prevenção e combate do segundo câncer que mais mata entre os homens, urologista Júlio Sfreddo tira as dúvidas sobre o câncer de próstata

| Texto e foto:
| Renato Dalzochio Jr.

Novembro é o mês de uma campanha que tem uma missão bem difícil: estimular os homens a irem ao médico. A exemplo do Outubro Rosa, que foi criado para prevenir o câncer de mama, o Novembro Azul procura combater o câncer de próstata. A escolha do mês é em alusão ao Dia do Urologista, comemorado em 25 de Novembro, data da morte de Jucelino Kubitschek, 21º presidente da história do Brasil. Jucelino era médico urologista.

Vamos admitir que é difícil encontrar um homem que goste de ir ao médico, especialmente quando o assunto é próstata, órgão exclusivamente masculino, localizado logo abaixo da bexiga. Pertencente ao aparelho reprodutor, a próstata produz um líquido responsável pela formação do sêmen e do esperma, além de auxiliar na ejaculação, mas o problema é que é bem comum esta glândula pequenininha desenvolver câncer.

É o segundo câncer que mais mata entre os homens, perdendo somente para o câncer de pulmão. O câncer de próstata pode ser agressivo, mas ele não é tão agressivo como muitos outros canceres. Quando diagnosticado precocemente, temos tempo de agir e curar o paciente. É muito importante o diagnóstico precoce. Em estudos comprovados na Europa, o câncer de próstata tem sua taxa de mortalidade reduzida em até 20% quando são realizados os exames de rastreamento. Em relação a próstata, a saúde pública para o homem nos últimos anos tem melhorado muito, mas não por mérito do governo e sim por mérito da Sociedade Brasileira de Urologia, que tem se mobilizado cada vez mais. O Novembro Azul é uma prova disso, explica o médico urologista Júlio Sfreddo.

Como ninguém quer descobrir um câncer em estágio avançado é preciso encarar os exames preventivos. O primeiro deles é o exame de sangue, que mede o PSA (nível de antígeno prostático específico, proteína produzida pelas células da glândula prostática), mas é fundamental a combinação com o segundo exame, o de toque retal. Portanto, o instinto de preservação da masculinidade precisa dar lugar ao instinto de preservação da vida.

Faço isso há 35 anos e as coisas mudaram muito para melhor. O tabu ainda existe, mas em proporções muito menores, quem ainda oferece uma certa resistência são os pacientes mais ‘antigos’. Hoje em dia muitos pacientes me procuram para fazer o exame. As mulheres também possuem grande influência nisso, porque querem que o marido se cuide. Tudo isso tem ajudado muito. O tabu, com raras exceções, praticamente desapareceu. Existem muitas brincadeiras e gozações, mas na hora de fazer, é feito, até porque o exame do toque retal fica somente entre o paciente e o médico, acaba ali. Se é o segundo câncer que mais mata, fazer o exame é uma forma do paciente preservar a sua vida, pondera Sfreddo.

Vale destacar que não existe nenhum medicamento que impeça o aparecimento do câncer de próstata, mas como a ideia aqui não é assustar ninguém, o Dr. Júlio passa algumas dicas que podem ser fundamentais na prevenção da doença. Alguns órgãos são mais propensos a terem câncer, outros menos. Como qualquer câncer, o de próstata se dá por um excesso de divisões celulares, que desorganizam uma célula. Isso se dá por fatores genéticos ou fatores independentes da genética, como: má alimentação, obesidade, diabetes, falta de exercícios físicos, etc. Temos que estar atentos a estes pacientes. Uma estatística aponta que 7% dos homens no Brasil tem câncer de próstata, um número bastante alto. Fatores preventivos vão exatamente na contramão de tudo isso: ter boa alimentação, levar uma vida regrada, fazer exercícios físicos. É preciso se prevenir porque o câncer de próstata muitas vezes não causa sintomas. E nós não podemos esperar um paciente começar a sentir sintomas para realizar os exames preventivos.

Mas, e quando o diagnóstico é de câncer de próstata, como dar essa notícia ao paciente? Felizmente o câncer de próstata não é tão agressivo. Evidentemente possui vários graus, mas de uma maneira geral ele é um câncer que você tem tempo de trabalhar. Então a pessoa que se cuida e faz sua prevenção anualmente, dificilmente vai chegar num estágio que o câncer seja incurável. Diagnosticado precocemente, ele tem 100% de chance de cura. O toque retal não é um exame decisivo, mas ajuda e nós o associamos com os outros exames (teste de PSA e ecografia). Se tiver suspeita de câncer, fazemos uma biópsia, que é um pouco mais agressiva, porque são tirados vários fragmentos da próstata por via retal, com uma agulha. Se comprovado o câncer de próstata, ele tem vários graus. Se outros exames comprovam que ele está somente ali (sem ramificações para outros lugares do corpo), a chance de cura é grande. Se tiver ramificações (principalmente para os ossos, que é onde o câncer de próstata mais faz enraizamento), mesmo assim, dependendo da idade do paciente, o prognóstico é muito bom. Ninguém reage bem ao saber que tem um câncer. Mas o pior de uma doença não é tê-la, é não enfrentá-la. O importante é não se desesperar e é isso que eu tento passar para os meus pacientes, afirma Sfreddo.

Sobre a forma de tratamento, Júlio explica que prefere a cirurgia, porque segundo ele, apesar da radioterapia ter evoluído muito, ela pode ser sentida com o passar do tempo, especialmente em pacientes mais jovens. Mas, e o pós-operatório? Como será a vida de um paciente após uma cirurgia de retirada da glândula prostática acometida por um câncer? Quem produz o líquido seminal na ejaculação é a próstata. Após a cirurgia, você vai ficar sem esse líquido. Em outras palavras, você vai ficar infértil, não vai mais poder ter filhos. Mas o que mais causa medo nos homens é a falta de ereção. A próstata é uma glândula localizada abaixo da bexiga, como se fosse uma maçã cortada pela metade. Em cirurgia de doença benigna tiramos somente o miolo desta maçã e deixamos a casca. Quanto a ereção, depende muito. Você pode ficar sem ela quando vai tratar um câncer, porque na cirurgia de câncer retiramos o miolo e a casca. Claro que as técnicas cirúrgicas de hoje foram muito aperfeiçoadas e as chances de se ter disfunção erétil diminuíram muito. Antigamente, no pós-operatório, o paciente ficava com incontinência urinária, com disfunção erétil. Hoje isso diminui substancialmente, quando feito por médico bem treinado. Hoje a chance de se ter disfunção erétil após uma cirurgia é de 15% e depende muito da idade do paciente, explica o urologista.

Voltando a falar do Novembro Azul, Júlio finaliza destacando as atividades de conscientização e prevenção que a ser realizadas em Farroupilha. Para as pessoas menos afortunadas estaremos oferecendo, no Hospital São Carlos, consultas gratuitas. Sou o único urologista lá dentro, mas na medida do possível estaremos atendendo a população mais carente, inclusive realizando cirurgias se necessário, ou encaminhando estes pacientes para um serviço de referência.
 
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A programação da Campanha de Prevenção ao Câncer de Mama e Próstata – Outubro Rosa e Novembro Azul chega ao fim nesta sexta-feira, dia 6. A palestra com a enfermeira Alvânia Calloni Paternidade Participativa e Saúde do Homem ocorre a partir das 15h no auditório do Centro De Atendimento ao Cidadão – CEAC (Rua 13 De Maio, 713).