PROFISSÃO: FERRADOR – Técnica e paixão que mantêm viva a tradição gaúcha

Na edição especial de 44 anos do jornal “O Farroupilha”, conheça a história de Fernando Dutra, ferrador rosariense há mais de uma década

Valnir Peralta
valnir.ofarroupilha@gmail.com

Em nossa cidade, a Semana Farroupilha começou na sexta-feira passada, dia 12, com o acendimento da Chama Crioula, e vai até este domingo, dia 21. Este é um período em que os sentimentos de mais apego a nossa tradição vem à tona. Gaúchos e prendas de todas as querências tiram as pilchas do guarda-roupa e as vestem com um orgulho quase sagrado.

Assim como a Chama Crioula permanece acesa neste período e não pode ser extinta, há uma profissão que existe há muitos séculos, resistindo ao tempo, e é imprescindível para o tradicionalismo ou para quem tem no cavalo o seu bem mais precioso e companheiro de trabalho. Esta profissão é a de ferreiro, ou ferrador, profissional que tem a nobre missão de ferrar os cascos dos cavalos.

Na edição de comemoração dos 44 anos do jornal “O Farroupilha”, compartilhamos com nossos leitores a história do ferrador, tradicionalista e domador, Fernando Dutra, 40 anos, esposo da Ana Paula da Rocha, 34 anos, e pai da Helena e da Alice, 7 e 2 anos, respectivamente. Ele é ferrador há mais de 10 anos. Nos últimos três anos, como profissional e com empresa registrada como Micro Empreendedor Individual (MEI).

Natural de Rosário do Sul, está há 22 anos em Farroupilha, e já colocou esta terra do lado esquerdo do peito. Há cinco anos, Fernando e sua família moram em Nova Sardenha, interior do município. Em seu currículo constam certificados de cursos feitos na Universidade do Cavalo (online), em São Paulo, e presenciais em cidades como Novo Hamburgo e Santa Cruz.

Atualmente, Fernando atende clientes em Farroupilha, Bento Gonçalves, Garibaldi, Carlos Barbosa, Nova Roma do sul e Caxias do Sul. “Atendo cerca de 150 clientes fixos e ferro em torno de 70 cavalos por mês”, explicou.

Relação humana com o animal

Dutra diz que aprendeu a ter uma sintonia muito grande com os cavalos. Segundo ele, consegue fazer uma leitura do estado do animal, identificar sintomas e perceber comportamentos dos equinos. “Quando coloco a ferradura, pelo gesto da boca, consigo saber se o material ficou confortável ou se o cavalo está sentindo algum desconforto”, explicou. Ele disse também que com o tempo os cavalos já o conhecem e se acostumam com o seu trabalho, o que resulta em uma perfeita interação entre homem e animal. O profissional além de ser tradicionalista é também domador.

Moldando a ferradura

Embora a profissão de ferreiro seja uma das mais antigas e tradicionais do mundo, na classificação do MEI é chamado de Embelezador de Animais. Fernando diz que a profissão de ferrador está quase em extinção. “Aqui em Farroupilha tem eu e outro colega, apenas”, lamentou. Ele explica que há duas formas de ferrar o cavalo: a fria e a quente. A fria é sem alteração nenhuma no material, onde apenas se utiliza dos pregos. Sendo assim muito difícil alterar seu estado natural. Até é possível fazer um pequeno ajuste na bigorna, mas é bastante limitado.

A forma quente é quando a ferradura é colocada na forja, um pequeno forno em alta temperatura que deixa a ferradura vermelha, incandescente. Desta forma o ferro quente pode ser manuseado e sua forma alterada para se adaptar ao casco do cavalo. Outra vantagem deste tipo é que quando o ferro quente é colocado, de forma rápida, para testar o molde do casco, a temperatura alta já esteriliza o casco ou cauteriza algum ferimento que possa existir.

Ele salienta que o ferro quente não é colocado de forma definitiva no casco. Somente após ser feito o ajuste na bigorna e, depois de frio, é que é colocado no casco do animal. Fernando explica que são poucos ferreiros que utilizam a forma de ferro quente.

Outro instrumento que serve para ajustar a ferradura a ser trabalhada é a morsa. É um instrumento semelhante a um torno que segura a ferradura e permite esmerilhar ou fazer algum outro tipo de ajuste. O ferrador frisou que é a ferradura que se adapta ao casco do cavalo e não o casco à ferradura. Segundo Fernando, o tempo ideal para o bem-estar do cavalo é que uma ferradura fique no casco no máximo 45 dias – mais que isso pode causar desconforto ou machucar.

“Além do ferro normal, existe a forma chamada guarda casco lateral ou frontal, que permite um encaixe melhor do casco à ferradura. Este tipo é indicado quando o cavalo trabalha muito ou usa a ferradura por um tempo maior. Ou, ainda, quando há o risco de perder a ferradura”, finaliza.

Fernando mostrando alguns de seus certificados de qualificação