“Quem procura, cura”
Esta foi a frase inspiradora para Marijane Gaio enfrentar o câncer por duas vezes. Com seu exemplo de garra queremos motivar os que passam pela luta, especialmente neste 4 de fevereiro, Dia Mundial de Combate ao Câncer
Ter a coragem de expor uma experiência com a doença, como fez recentemente o casal Tiago Leifert e Daiana Garbin em relação ao câncer nos olhos da filha Lua, não é fácil. O time das celebridades conta com pessoas como Marijane Gaio, a farroupilhense que por duas vezes enfrentou o câncer: primeiro na pele, depois na mama. Venceu os dois.
Marijane, hoje a proprietária da loja de cosméticos a pronta entrega de marcas renomadas, localizada dentro da galeria Farroupilha, na Pena de Moraes, descobriu um carcinoma no rosto quando tinha 20 e poucos anos. Foi ao médico ver uma alergia nas pernas e comentou sobre a “espinha” no rosto. Feita a biópsia, o resultado. Tirou o que precisava do local e seguiu fazendo acompanhamento das pintas de sua pele clara. “Quando jovem, eu amava fritar ao sol, era obcecada por pele bronzeada, mas depois disso passei a cuidar mais”, revela.
A revisão periódica foi responsável por outra descoberta, em 2013, quando estava com 39 anos e com o filho João de três anos: um melanoma na parte interior da coxa. “Era uma pinta normal, uma ameaça silenciosa. Me dei conta que melanoma se espalha para órgãos vitais e aí veio o desespero. Não quis falar para a família, para poupá-los. Fiz a cirurgia, tirei a pinta e uma boa área ao redor dela e com isso não precisei de quimioterapia. A descoberta foi cedo”, conta Marijane.
Novamente a necessidade de se submeter ao controle com exames feitos de quatro em quatro meses. Tudo certo, vida seguindo. “Em janeiro de 2018 eu comemorava a saúde e em agosto fui ao ginecologista para exames de rotina, foi quando descobri dois nódulos na mama. Biópsia mais uma vez, mas eu estava tranquila. Fui pegar o resultado e enquanto esperava o elevador, abri o envelope. Carcinoma invasor. Tirou meu chão”, relembra sem conter a emoção.
Aos 44 anos, a vida pedia dela mais força. “Desta vez não escondi de ninguém e o apoio da família: do marido Clodoaldo, da enteada Manuela, dos pais e dos amigos foi fundamental para o enfrentamento. Fiz a cirurgia, coloquei prótese, passei pelas nove sessões de quimioterapia, um tratamento que levou um ano. O João estava com oito anos e me lembro que eu entrava no quarto dele, observava-o dormindo e agradecia a Deus por ser comigo e não com ele. Recebi muito carinho, muitas preces, o que fez toda a diferença”, afirma, ainda seguindo com a medicação quimio oral.
Marijane conta que a frase: “quem procura, cura” era repetida por ela várias vezes, mesmo nos momentos de revolta, quando se perguntava “por que eu?”, mesmo nas experiências mais chocantes, como ao se olhar no espelho pela primeira vez depois da cirurgia. “Hoje eu sei porque aconteceu comigo, para eu poder ajudar as pessoas que me procuram. Tirei um grande ensinamento da luta contra a doença: dar valor às coisas simples do cotidiano, como tomar banho sozinha, levantar o braço sem sentir dor. Somos abençoados por poder fazer o básico da vida, o maior evento de todos é poder acordar bem”, ensina a mulher que hoje não se escraviza mais pelo trabalho, que curte a família com intensidade.
O recado de Marijane aos que enfrentam a doença: “Câncer não é sentença de morte. O nome é mais feio do que aquilo que a gente passa. O principal é descobrir cedo e tirar o foco da doença, focar na cura. Lidar com as incertezas faz parte do processo, mas é preciso ser forte e não se vitimizar. Meu objetivo era ficar bem para o meu filho. Eu queria que ele tivesse uma mãe saudável e isso me deu coragem”.
Hoje, João tem uma mãe saudável, que distribui sorrisos e gentilezas e que ainda auxilia quem a procura. Ela sabe que suas experiências oferecem muito além da beleza física, proporcionada pelos produtos que revende.
Valentia para o combate. Seja ele qual for.
REPORTAGEM: Claudia Iembo